Ari e Célia Picci são um casal excepcional que eu e Cristiane Prizibisczki encontramos nos arredores de Juína, no noroeste do Mato Grosso, no início deste ano. Eles vivem no assentamento Iracema, a cerca de 90 quilômetros da zona urbana, ou a mais ou menos quatro horas de ônibus por estrada de terra. Em 1998, Ari abriu as primeiras picadas de uma fazenda desapropriada pelo Incra e, à época, completamente coberta por floresta. Em dez anos, não sobrou praticamente nada. Quem não vendeu seu lote para algum fazendeiro grande da região, tira renda do espaço à base de desmatamento e da criação de gado, comprado sem nota fiscal pelos frigoríficos das cercanias. Ari e Célia tentam fazer diferente. Cobram do poder público políticas menos danosas à floresta que eles lutam para manter de pé, apesar dos incêndios rotineiros que acometem sua pequena propriedade. Eles não estão sozinhos. Algumas dezenas de famílias são assistidas pela Associação Juinense Organizada de Ajuda Mútua (Ajopam) e tentam tirar sustento de culturas que não exigem corte raso da floresta, mas os incentivos do governo para que eles mesmos acreditem nesta alternativa mingam a cada ano. Diante desta situação, vejam o que dizem Ari e Célia sobre as condições reais de se abandonar o uso do fogo na Amazônia.
Leia também
Chuvas no RS – Mudanças climáticas acentuam eventos extremos no sul do país
Cheias batem recordes históricos e Rio Grande do Sul entra em estado de calamidade. Mais de 140 municípios foram atingidos e barragem se rompeu na serra →
Estudo sobre impacto das alterações no clima em aves pode ajudar espécies na crise atual
Alterações climáticas reduziram diversidade genética de pássaros na Amazônia nos últimos 400 mil anos, mas algumas espécies apresentaram resistência à mudança →
Sem manejo adequado, Cerrado se descaracteriza e área fica menos resiliente às mudanças no clima
Estudo conduzido ao longo de 14 anos mostra que a transformação da vegetação típica da savana em ‘cerradão’ – uma formação florestal pobre em biodiversidade – ocorre de forma rápida; mata fica menos resistente a secas e queimadas →