Análises

A história se repete

Uma jovem de 21 anos foi sequestrada por PMs, que a levaram para a Floresta da Tijuca. A criminalidade na unidade de conservação é um velho problema. 

Pedro da Cunha e Menezes ·
29 de novembro de 2009 · 15 anos atrás

Ontem, dia 28 de novembro, uma jovem de 21 anos foi sequestrada por uma dupla de policiais militares do 1º BPM, que a extorquiram, alivindo-a de R$ 1.700, e depois, levaram-na a passear pelas sinuosas estradas do Parque Nacional da Floresta da Tijuca onde, a pretexto de admirar uma bela vista, pararam a viatura e resolveram se desfazer da incômoda passageira. Despacharam a moça, baleando-a no rosto e empurrando-a do alto de um dos muitos penhascos que margeam a Estrada das Paineiras, segundo notícia de O Globo.

Nada de novo. Tudo continua como dantes no quartel de abrantes (nesse caso, mais precisamente, no quartel do Estácio, que o 1º BPM divide com o prestigioso Batalhão de Choque). Seria uma pena, se não fosse uma tragédia anunciada. Os sinais de apodrecimento da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, instituição bicentenária, não vêm de hoje, como escrevi em colunas anteriores.

Nos idos de 1999-2000, quando fui diretor-executivo da Floresta da Tijuca, o problema já era velho. Na ocasião, com o prestimoso auxílio do 1º Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente do Corpo de Bombeiros Militar, então comandado pelo Coronel Marcos Silva, retiramos dezenas de carcaças de automóveis das encostas do Parque. Tratava-se de veículos roubados que, na calada da noite, eram levados até as estradas escuras da Floresta, onde tudo que tinham de valor era retirado, após o que eram empurrados precipício abaixo. Analogamente, no mesmo período, foram encontradas diversas ossadas, cujas mãos bem atadas às costas, não deixavam muitas dúvidas quanto a forma em que foram parar em locais tão ermos.
Segurança pública não é atribuição de quem gere um parque nacional. Ainda assim tentamos fazer algo.  As Paineiras só têm uma entrada e uma saída. Instalamos nesses dois acessos cancelas de metal que trancávamos ao escurecer. Logo descobrimos, que noite sim, outra também, os cadeados que utilizávamos eram arrombados a tiros.  Durante algumas madrugadas, montamos uma vigília no então desativado Hotel das Paineiras e verificamos que a Estrada era usada frequentemente por bondes do tráfico. Demos ciência do fato, por escrito, à Delegacia de Meio Ambiente da Polícia Federal, que alegou não ter efetivo para resolver o problema. Na Polícia Militar, também batemos nos mesmos ouvidos moucos, que depois deram causa à aposentadoria por surdez de mais de um ex-comandante daquela briosa instituição.
Antes de ser exonerado da direção do Parque ainda orçamentei a construção de guaritas com holofotes e câmeras nas entradas do Parque, que a meu ver deveriam ser fechadas à noite para carros civis. O mesmo aparato também serviria para monitorar o trânsito de carros oficiais, o que coibiria o acesso para fins inconfessáveis.  Por alguma razão que desconheço, a administração seguinte não deu continuidade ao projeto.
Um Parque Nacional é nada mais que uma forma de ordenamento do território. Nesse sentido, no século XIX o filósofo Hobes já ensinava que não se ordena o que não se controla. No caso específico das Paineiras, e por extensão de todo o setor B do Parque Nacional da Floresta da Tijuca, o controle (por sinal exercido há decádas com excelentes resultados no Setor A) não é difícil nem despropositadamente caro. Se tomarmos em conta que o Parque é o mais frequentado do pais com cerca de 2 milhões de visitantes por ano, trata-se de projeto fundamental para a imagem turística da cidade como um todo, mas para tanto é necessário vontade política.
 
 

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