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Rio+20: Excesso de temas prejudica acordos

Cientistas reunidos em Londres criticam agenda da conferência. No Brasil, ministra Izabella Teixeira fala dos desafios de obter consenso.

Daniele Bragança ·
27 de março de 2012 · 13 anos atrás
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Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

 

Carlos Joly, representanto do Ministério de Ciência e Tecnologia, critica falta de foco da agenda da Rio+20 em evento em Londres. Foto: plataforma lattes/CNPQ
Carlos Joly, representanto do Ministério de Ciência e Tecnologia, critica falta de foco da agenda da Rio+20 em evento em Londres. Foto: plataforma lattes/CNPQ

Desde ontem, mais de 2.800 cientistas, políticos e representantes de empresas estão reunidos em Londres na Conferência o Planeta Sob Pressão (Planet Under Pressure), a mais importante conferência de meio ambiente antes da Rio+20. As discussões do encontro serão reunidas em documento que será entregue à organização da Rio+20. A crítica mais dura sobre os preparativos da organização da Rio+20, que acontecerá em junho, veio justamente do representante do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI) brasileiro, Carlos Joly.

Carlos Joly criticou a falta de temas como clima e biodiversidade não constarem na agenda da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, e ressaltou que sem o pilar ambiental, não haverá os pilares econômico e social.

As ressalvas do representante do MCTI são as mesmas de um grupo de políticos e intelectuais brasileiros que criticam a conferência Rio+20 por estar deixando de fora da agenda as crises ambientais mais sérias que o mundo vive hoje, tais como os efeitos das mudanças climáticas: “Trata-se de uma agenda que não inclui um alerta sobre a gravidade ambiental que o planeta vive neste momento”, disse o embaixador Rubens Ricupero, um dos intelectuais que fazem parte desse grupo.

Desde o começo desse mês, esse grupo de intelectuais e políticos encabeçados por nomes reconhecidos na luta ambiental, tais como José Goldemberg, Fabio Feldmann, Eduardo Viola e o já citado Rubens Ricupero, preparam um documento a ser entregue ao governo brasileiro. 

O Rascunho Zero (Zero Draft) é um documento com contribuições de participantes da conferência: países, grupos regionais, ONGs e sociedade civil. As sugestões servirão de base para os debates da Rio+20.

Desafio de construir consenso*
A falta de foco da Rio+20 também foi notícia em Brasília. Hoje, durante a abertura do último ciclo de palestras e debates preparatórios para a Conferência Rio+20 na Câmara dos Deputados, promovido pela Frente Parlamentar Ambientalista, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou que o principal desafio da Rio+20 é conseguir o consenso dos países sobre qual atitude tomar, depois da Conferência: “Como as resoluções da ONU precisam se dar por consenso, penso que vamos ter muito trabalho ao analisar as cerca de 170 páginas do Zero Draft [Rascunho Zero]”, disse a ministra.
 
O presidente da ONG SOS Mata Atlântica, Roberto Klabin, afirmou que o rascunho zero é “extremamente generalista”. “A esperança é que em junho [quando ocorre a conferência] seja renovado o atual quadro de intenções, com propostas mais corajosas”, disse Klabin, ao participar de discussão sobre o assunto na Câmara.
 
A ministra Izabella rebateu as críticas de Klabin: “Toda conferência parte do princípio do consenso. Quem reclama que o documento é genérico, terá 170 páginas para debater nos próximos dois meses”, rebateu a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
 
Ainda no seminário, a ministra Teixeira saiu em defesa do desenvolvimento sustentável: “Há uma dificuldade muito grande de se encarar o desenvolvimento sustentável como prioridade, como a agenda central da política econômica”, alertou. “Não dá para continuar com o cenário de negócio pelo negócio, porque vamos piorar a escassez de recursos, a fome e o problema ambiental.”
 
A necessidade de repensar a forma de desenvolvimento utilizada hoje foi destacada pelo representante da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) no Brasil, Hélder Muteia, defendeu a necessidade de responsabilizar os agricultores pelas consequências de sua atividade. “A agricultura ocupa 30% das terras do planeta, utiliza cerca de 60% dos recursos naturais da Terra, dos quais 70% da água doce do mundo”, disse.

O seminário sobre a Conferência Rio+20 faz parte de um ciclo de palestra que acontece desde 2011. A Frente Parlamentar Ambientalista já realizou seminários regionais abordando os temas: biomas (Manaus), recursos hídricos (Cuiabá), meio ambiente urbano (São Paulo), energia (Recife) e segurança alimentar (Porto Alegre). *Com informações da Agência Brasil

Editado: 28/03, 12h49min

Saiba Mais
Página oficial da conferência o Planeta Sob Pressão 
  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

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