Coisas simples e naturais, como NVIDIA, 2.53 GHz e Serial ATA, que apesar de inintelegíveis sempre nos convenceram de que estamos diante de um computador de última geração, não bastam para explicar as vantagens do MacBook Pro , novo notebook da Apple. Ele vem com Relatório Ambiental, duro de ler como qualquer manual técnico, mas igualmente incontroverso.
Ele se ancora em gráficos mostrando quanto, em sua breve existência terrena, o notebook despejará na atmosfera. Serão, nem mais, nem menos, 560 quilos de CO2. O que não quer dizer muita coisa, pelo menos para quem não sabe que essa meia tonelada de carbono é mais ou menos a metade do que cada ser humano emite ao longo de sua passagem pelo planeta. Mas isso o relatório não diz, talvez para não melindrar os fregueses.
Alumínio e vidro
Basta acreditar que é pouco. Isto é, bem menos do que exalava na geração passada. E o MacBook Pro, por mais sucesso que faça, não inundará o mercado com números tão avassaladores quanto os da população mundial, que já passa dos 6,7 bilhões, e marcha para os sete bilhões no começo da próxima década.
E ele nasce com tudo previsto, passo a passo. Declara que emitiu 51% de sua cota total de CO2 antes de sair da fábrica. Gastará outros 38% nas mãos do proprietário. E, no fim da vida, quando chegar à reciclagem, exalará mais 1%, como último suspiro.
Até lá, seu consumo de eletricidade estará contido por 87,9% de eficiência energética. Seu corpo, com 730 gramas de alumínio e 122 de vidro, “materiais altamente desejados por recicladores”, tende a tende a deixar o mínimo de resíduos para trás, quando sair definitivamente da tomada elétrica. É menos plástico para descartar depois. Sua embalagem, com 28 gramas de polipropileno expandido e 332 de polistireno de alto impacto, também usa pouco plástico e muito papel – precisamente, 1.076 gramas de papel e papelão, prontos para reciclagem.
Veneno x elegância
Seus monitores livraram-se do arsênico e do mercúrio. A caixa aposentou a substância química que usava para retardar a propagação do fogo em suas carcaças. Em suma, o notebook desintoxicou-se. E fez isso exatamente dois anos depois que a Greenpeace, com a fanfarra de praxe, reprovou a política ambiental da Apple, botando-a em último lugar entres os grandes fabricantes mundiais de computadores portáteis, mapeados em testes de laboratório que mediram os teores de tóxicos e poluentes escondidos “sob o desenho elegante” dessas engenhocas aparentemente inofensivas. A HP, por exemplo, perdeu vários pontos nesse exame.
Mas a Apple foi apanhada pela Greenpeace no momento em que preparava o lançamento do primeiro iPhone. E teve que engolir a maior o humor ardido da Greenpeace em doses industriais. Publicado em anúncios feitos à imagem e semelhança de sua publicidade, o resultado da pesquisa saiu na ocasião como se fosse propaganda do “iLixo”. Ou do “iVeneno”. E acendeu uma campanha de publicidade, pedindo aos consumidores que dessem preferência a “maçãs verdes”.
A Apple acusou o golpe. Seu presidente Steve Jobs, em pessoa, foi para a internet dizer que a Apple prometia descontaminar o MacBook o mais depressa possível. E foi isso que fez. Aproveitando para promover uma reformulação geral de seu produto, cuja estrutura passou a ser esculpida numa única peça de alumínio – tornando seu esqueleto mais mais rígido e durável do que o de plástico.
Jobs reagiu depressa porque não poderia deixar sua marca, símbolo de tecnologias inovadoras, na sombra do atraso ambiental. Nem todo dono de empresa seria tão suscetível a esse tipo de denúncia quanto ele. E, ao piscar primeiro, deixou claro que os ambientalistas finalmente aprenderam como o mercado funciona. E vice-versa. Daí para chegarà soja cultivada com desmatamento na Amazônia é um pulo.
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