A sustentabilidade corporativa, ou responsabilidade social corporativa, exige nova postura por parte dos gestores e controladores das empresas. Estamos falando de uma nova postura ética, de novos padrões de comportamento e compromissos perante os diferentes públicos de interesse. Trata-se de incorporar à visão estratégica tradicional as vertentes social e ambiental, em suas diversas dimensões.
Cada vez mais, consumidores, financiadores, acionistas e potenciais investidores exigem das corporações um compromisso abrangente frente ao ambiente em que atuam e se inserem. A agenda é ampla e passa por adotar as melhores práticas de governança corporativa. Manter um bom relacionamento com as comunidades do entorno. Ouvir e levar em conta a sociedade civil. Dar espaço e boas condições de trabalho à mão de obra. Manter relações cordiais com as diversas esferas de Governo. Inclui, também, considerar questões sociais e, sobretudo, ter uma atitude pró-ativa de preservação e respeito ao meio ambiente e ter uma política social de longo prazo.
Na Europa e nos Estados Unidos, essa já é a agenda de empresas líderes e de gestores de recursos, pressionados pelo impacto que fatores como as mudanças climáticas globais podem ter sobre os negócios no longo prazo. A Bolsa de Valores de Nova York foi pioneira no lançamento de Índices de Sustentabilidade (Dow Jones Sustainability Indexes – DJSI), em 1999, mas hoje já é seguida, por exemplo, pela bolsa de Londres (Índice FTSE4Good). O índice da bolsa de Nova York procura selecionar apenas as empresas líderes em sustentabilidade nos seus respectivos setores de atuação, buscando manter um grupo não superior a 10% daquelas consideradas melhores. Cria-se um esquema de competição, de forma a manter aceso o desafio de adotar de forma permanente e inovadora as melhores práticas. As empresas brasileiras hoje listadas no Índice de Sustentabilidade do Dow Jones são Banco Itaú, Holding do Grupo Itaú e Cemig.
No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo – Bovespa já anunciou sua intenção de criar um Índice de Responsabilidade Social e Sustentabilidade em 2005, composto por ações de empresas socialmente responsáveis e sustentáveis a longo prazo. Isto certamente ajudará a fomentar iniciativas consistentes nas esferas ambiental e social por parte das empresas com ações listadas em bolsa.
Por outro lado, gestores de recursos preocupados com as dimensões sociais e ambientais das empresas nas quais investem já se organizaram em torno do conceito de Investimentos Socialmente Responsáveis (SRI na sigla em inglês). O patrimônio dos fundos geridos sob esta égide no mundo já monta a cerca de US$ 2,7 trilhões. Esses são sinais claros e evidentes de que o mercado financeiro e a sociedade de modo geral vêm incorporando outras dimensões às suas considerações econômico-financeiras.
Nesta lógica que busca maior harmonia entre empresa e o contexto no qual se insere, entre recursos naturais finitos e retorno financeiro, os indicadores econômicos não conseguem mais, sozinhos, dar a dimensão da inserção das empresas na sociedade. A eles, é preciso e premente incorporar indicadores quantitativos sociais e ambientais, numa lógica conhecida por triple bottom line. Em termos objetivos na questão ambiental, por exemplo, deve-se pensar não apenas em atendimento aos quesitos legais, busca de certificações ISO 14001, mas também na definição de políticas corporativas relacionadas a créditos de carbono, energias alternativas ou biodiversidade.
É preciso também que os Relatórios Anuais venham acompanhados de Relatórios de Sustentabilidade para que se compreenda por inteiro a contribuição da empresa para o desenvolvimento sustentável. Enfim, é preciso agregar aos instrumentos clássicos de gestão as dimensões social e ambiental, numa visão de que empresas podem ser elementos indutores do desenvolvimento sustentável.
As empresas brasileiras, de modo geral, estão avançando nesta agenda. Todavia, o foco ainda tem sido em melhorar as práticas de boa governança, por um lado, e consolidar a visão de Responsabilidade Social, por outro, que são aspectos fundamentais dessa agenda, mas não suficientes. Nossa convicção e a evidência empírica internacional mostram que o mercado tende a premiar aquelas que assumirem um compromisso com o conceito mais amplo da Sustentabilidade, de forma pró-ativa. Esta é a nossa aposta: empresas brasileiras serão líderes aqui e no exterior, tendo acesso a recursos qualificados e beneficiando-se de uma menor percepção de risco, quando incorporarem o compromisso com a Sustentabilidade em sua visão e estratégia de negócios, com reflexos em seus processos, procedimentos e políticas, reafirmando o compromisso com o desenvolvimento sustentável.
* Clarissa Lins é Diretora da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.
Leia também
COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas
Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados →
Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial
Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa →
Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia
Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local →