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Queimou até virar cinza

Ideia de transformar bombeiros em guardas-parques morreu no RJ. O chefe usou um projeto de importância para o meio ambiente como lenha na fogueira de sua própria vaidade.

Pedro da Cunha e Menezes ·
26 de março de 2010 · 16 anos atrás

Bombeiros deveriam apagar incêndios. No Rio de Janeiro, o chefe deles usou um projeto de grande importância para o meio ambiente como lenha na fogueira de sua própria vaidade.Desde que a área ambiental do Governo do Estado criou um programa pioneiro no Brasil para capacitar soldados e praças dos Grupamentos de Socorro Florestal e Meio Ambiente da Corporação como guardas-parques (vide coluna escrita aqui em O Eco), o número 1 dos bombeiros fluminenses, Coronel Pedro Marcos, fez o que pôde para tocar fogo na ideia.

Difícil de entender a razão. Afinal o Corpo de Bombeiros do Rio é o maior e mais bem equipado do Brasil. Também é o que exerce mais tarefas: faz desde serviços de salva-vidas até atendimento paramédico aos acidentados de trânsito, além de providenciar remoções de cadáveres, fazer atendimento de saúde nas escolas do estado, trabalhar em enchentes e procurar pessoas perdidas nas matas entre diversas outras funções.

Na seara ambiental, os Bombeiros dos Grupamentos de Socorro Florestal e Meio Ambiente sempre exerceram muitas tarefas assemelhadas às de um guarda-parque. Seu treinamento e designação formal e legal como guardas-parques portanto faz sentido do ponto de vista da economicidade e da eficiência dois princípios basilares que regem o Serviço Público. Infelizmente, a argumentação não convenceu o Coronel Pedro Marcos e o projeto ardeu até virar cinzas.

Agora o contribuinte vai ter que desembolsar dinheiro suficiente para contratar quatrocentos guardas-parques civis, o que seria ótimo se esses homens ficassem jovens para sempre. Como a atividade guarda-parque é essencialmente de campo e exige energia e força, fica a pergunta: o que fazer quando esses agentes envelhecerem? Onde empregá-los? Ao longo dos anos, a estrutura do Instituto do Ambiente do Rio de Janeiro vai ter que se flexibilizar para acomodá-los em outras funções que ainda não existem. Caso persistisse o modelo adotado com os Bombeiros, ao envelhecer os guardas-parques seriam promovidos a sargentos e sub-tenentes, voltariam aos quartéis onde exerceriam atividades administrativas ou de treinamento. Com efetivo de 15 mil militares, o Corpo de Bombeiros tem escala para absorvê-los, o INEA não tem. Mas tudo bem, com ou sem royalties do petróleo o contribuinte fluminense pode arcar com esse custo….

Enquanto isso, Estados como Mato Grosso, estão adotando a idéia pioneira do Rio de Janeiro e capacitando seus bombeiros como guardas-parques.

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