Essa semana o Serviço de Parques Nacionais da África do Sul (SANPARKS) anunciou sua intenção de construir dois hotéis dentro do Parque Nacional Kruger, na fronteira com Moçambique. Os planos causaram furor em setores da comunidade ambientalista local. Um ex-guarda-parque graduado chegou a dizer que a medida descaracterizará para sempre o Parque Kruger.
David Mabunda, Presidente do SANPARKS, explicou que não é bem assim. Para ele, o Parque Kruger está apenas se adequando aos tempos e à demanda sem comprometer sua missão institucional de conservar a biodiversidade.
Mesmo correndo o risco de ser apedrejado pelos leitores, tendo a concordar com Mabunda. Cada hotel terá somente 120 apartamentos e ocupará uma área de apenas 1,5 hectares de áreas já degradadas. O que compromete a conservação da biodiversidade não é a construção de equipamentos de uso público bem projetados e dotados dos devidos serviços de esgotameto sanitário e recolhimento de lixo, mas sim a falta de manejo e fiscalização das áreas protegidas.
O Parque Nacional Kruger é virtualmente a única área protegida do país onde é possível o avistamento de todos os grandes mamíferos da fauna africana. Nesse sentido, desde antes das primeiras eleições livres após o fim do regime segregacionista em 1994, o Parque Kruger já era o mais frequentado da África, com cerca de 1 milhão de visitantes por ano, o que equivale praticamente à sua capacidade de hospedagem. Nesse contexto, a quase totalidade dos turistas que visitavam o Parque Nacional Kruger até aquela data provinham do mercado doméstico. Embora a oferta já estivesse praticamente saturada, a política de atração de turistas estrangeiros, levada a cabo desde o governo Nelson Mandela, e fundamental para a economia nacional, sempre passou pela divulgação dos safaris.
Por outro lado, desde a democratização do país, o SANPARKS criou ou ampliou significativamente o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, com o estabelecimento de Parques novos como o Tankwa Karoo, Candeboo, Namaqua e Parque Nacional da Montanha da Mesa para citar apenas alguins deles. A maioria dessas novas unidades de conservação, bem como as antigas é deficítaria. Nesse sentido, o aumento da oferta de leitos pode não ser a solução ideal do ponto de vista estritamente ambiental, mas é pragmática. Em um país com sérios problemas de desemprego, educação, saúde e infra-estrutura, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação tem que contribuir financeiramente para sua própria existência. Caso contrário, com ou sem novos leitos de hotel no Parque Nacional Kruger, a conservação de sua biodiversidade estará com os dias contados por asfixia orçamentária.
Como diz o velho ditado “Deus ajuda a quem se ajuda”.
Pedro da Cunha e Menezes