Já nas décadas de 60 e 70 acompanhou as primeiras incursões dos irmãos Villas-Boas na busca de contatos com tribos isoladas. Com alguns intervalos, quando produziu documentários sobre a questão do ópio na Birmânia, continuou a acompanhar a questão amazônica e a produzir documentários até falecer. Conheci Cowell por meio de José Lutzenberger, a quem acompanhava na militância ambientalista e na década de 80.
O Lutz ficou grandemente impressionado com o trabalho de Cowell e se propôs a auxiliá-lo a relatar o processo de ocupação do oeste brasileiro efetivado em grande parte pelo migrante do Rio Grande do Sul. As gerações atuais não têm muita idéia de como o processo se desenvolveu a partir das conclusões dos generais no poder de que o território seria garantido ao Brasil apenas pela sua ocupação pelo homem ´civilizado´ (como se terras de ninguém fossem) e a destruição inevitável dos habitats dos caboclos e indígenas. A promoção da migração interna ainda resolvia por algum tempo os clamores pela reforma agrária.
Em um determinado momento, Cowell, assim como as lideranças dos seringais e os defensores dos índios, percebeu que a luta seria melhor entendida pela opinião pública mundial, e pelos mecanismos de financiamento dos grandes projetos de ´desenvolvimento da região´, se fosse agregada à questão ´humana´, a questão climática e a destruição em grande escala da floresta. Foi neste contexto produzida a série “Década da Destruição” já contando com a participação dos principais cientistas do clima e do ecologista Lutzenberger e depois transformada em livro. Dessa colaboração entre Lutzenberger e Cowell, nasceu o filme ´Nas Cinzas da Floresta`, que integra a série. A ´Década ..´ conta em imagens da ocupação desastrosa com consequências diretas às populações nativas e possui cenas antológicas como a que um coronel do Exército assume o recém-criado Estado de Rondônia.
Cowell esteve em Porto Alegre diversas vezes. Detalhista, acompanhou pessoalmente uma versão brasileira do episódio Nas Cinzas da Floresta operacionalizada na PUC de Porto Alegre em que servi de ponte e produtor local. Anos depois, em 1995, eu e minha esposa estivemos no interior da Inglaterra aperfeiçoando, por algumas semanas, o domínio do inglês e Adrian nos recebeu maravilhosamente em sua residência em Londres. A casa tradicional inglesa com porão, térreo e mais dois andares e jardim. No porão, uma visão impressionante do que hoje deve estar em Goiânia – centenas de caixas de filmes, alguns pendurados no teto. O acervo de sete toneladas dos seus filmes realizados no Brasi foram trazidos para cá e colocados à disposição dos interessados pelos visionários companheiros de Adrian da Universidade Católica de Goiás, instituição que, entre outras, viabilizou localmente o trabalho do documentarista britânico.
Guardo excelentes recordações da última vez que esteve em Porto Alegre, em 2007, para a principal palestra do 2º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, organizado pelo Núcleo de Ecojornalistas do RS, quando me coube acompanhá-lo aos principais compromissos. A sua aula magna foi digna de um grande diretor de cinema engajado – mostrou cenas escolhidas de seus filmes para passar a importância do aprofundamento dos jornalistas nas causas antrópicas das mudanças climáticas para melhor cobertura dos fatos que viriam a acontecer. Será que estamos fazendo a nossa parte ? Obrigado, Adrian Cowell.
*João Batista Santafé Aguiar é jornalista gaúcho. Mantém programa sobre questões ambientais na radio Ipanema Comunitaria de Porto Alegre – www.ipanemacomunitaria.com.br
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