Análises

O incrível “Rally Internacional de Observação de Aves”

Da Floresta Amazônica aos Andes, observadores de diversas partes do mundo competiram durante 6 dias para ver qual equipe avistava mais aves.

Sandro Von Matter ·
21 de dezembro de 2012 · 12 anos atrás
Cerimônia oficial de abertura do Birding Rally Challenge-Peru. Foto: Fernando Ângulo.
Cerimônia oficial de abertura do Birding Rally Challenge-Peru. Foto: Fernando Ângulo.

Aconteceu no Peru este mês o “Birding Rally Challenge”, evento que segundo os organizadores foi a primeira competição internacional de observação de aves “ininterrupta”. Equipes de observadores de vários países competiram dia e noite, para levar para casa o título de campeão.

A ideia do rali foi inicialmente proposta pelo presidente da ONG Inka Terra Asociación (ITA) Joe Koechlin e recebeu o apoio de diversas entidades, empresas e do governo Peruano.

O campus da Universidad Científica del Sur na cidade de Lima foi o palco da cerimônia oficial de abertura do evento no dia 28 de novembro com a recepção das equipes participantes, discurso dos organizadores e uma conferência de imprensa que contou com a presença do Ministro Peruano do Comércio Exterior e Turismo, José Luis Silva Martinot.

A competição passou por paisagens paradisíacas como a Floresta Amazônica e os Andes Peruanos, indo diretamente dos 100 para os 4700m de altitude, ao longo de apenas 6 dias e 5 noites. Os observadores de aves visitaram as cidades de Tambopata, Puerto Maldonado, Ollantaytambo e Aguas Calientes, cruzando os Andes, percorrendo a rodovia interoceânica sul até finalmente chegarem as florestas nebulares que cercam a mitológica cidade Inca de Machu Picchu.

A cidade Inca de Machu Picchu: palco do encerramento do evento. Foto: Sandro Von Matter.
A cidade Inca de Machu Picchu: palco do encerramento do evento. Foto: Sandro Von Matter.

Segundo Fernando Ângulo, presidente da União Ornitológica do Peru (UNOP – Unión Ornitológica Del Peru), que atuou como juiz durante a competição, algumas das espécies mais almejadas pelos observadores foram o Anambé-de-cara-preta (Conioptilon mcilhennyi) e a Corruíra-inca (Pheugopedius eisenmanni).

O Anambé-de-cara-preta é uma ave com distribuição restrita ao sudoeste amazônico,& ocorrendo na Bolívia, no extremo oeste do Brasil (Acre) e no sudeste do Peru. Habita o topo das árvores em florestas próximas a rios e áreas inundadas. Já a Corruíra-inca é uma espécie endêmica a uma pequena região do Peru, ocorre em altitudes que variam entre 1830m a 3350m, especialmente em áreas densamente ocupadas por bambu. Esta bela e enigmática ave pode ser observada na trilha que sai do sítio arqueológico de Machu Picchu em direção a porta do sol ou Intipunku.

Os participantes tiveram ainda o privilégio de observar diversas outras aves típicas da região como o Beija-flor-verde-e-branco (Amazilia viridicauda) entre as mais de 780 espécies presentes nas áreas visitadas.

Corruíra-inca (Pheugopedius eisenmanni), ave endêmica do Peru e símbolo da competição. Foto: Niels Poul Dreyer.
Corruíra-inca (Pheugopedius eisenmanni), ave endêmica do Peru e símbolo da competição. Foto: Niels Poul Dreyer.

O Brasil participou do evento com um time de peso. Batizado de Ararajuba, o grupo liderado pelo brasileiro Cassiano Zaparoli contou com grandes nomes da Observação de Aves do país, como Frederico Costa Tavares, Bruno Rennó e Eduardo Patrial.

Cassiano Zaparoli, ou “ZAPA”, como é mais conhecido, é graduado em turismo pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e vem trabalhando como guia naturalista e fotógrafo da vida selvagem a cerca de 10 anos. Zapa já liderou expedições no Brasil, Chile, Argentina, Madagascar e Amazônia Peruana e, ao longo de sua carreira como fotógrafo, já acumula um acervo de mais de 60.000 fotos.

Bruno Rennó falando com exclusividade para esta coluna afirmou que este foi um dos momentos mais emocionantes de sua vida e que além das belíssimas aves e dos magníficos cenários, foi um prazer imensurável conviver durante uma semana com alguns dos mais importantes observadores de aves do mundo. “Foi uma excelente maravilha”, afirmou.

Para participar do rali, Bruno interrompeu nada menos que estudos para a descrição de uma possível nova espécie de ave para o gênero Cacicus (em parceria com o ornitólogo Vitor Torga). Rennó é membro da diretoria da Associação Brasileira de Observadores de Aves (ABOA), sendo um dos fundadores da entidade. Observador de aves desde a infância, já participou de expedições na Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga e no Bioma Marinho. Como resultado, o ornitólogo coleciona centenas de registros fotográficos e sonoros de aves brasileiras, incluindo espécies endêmicas, raras e em perigo de extinção.

Ainda segundo Bruno, a Associação Brasileira já prepara o 1º Rally Brasileiro de Observação de Aves, que deverá acontecer em 2013. No Brasil, o rali será inicialmente subdividido em etapas regionais, onde somente as equipes finalistas participaram da última semana do evento. Durante esta última semana os competidores passarão por algumas das mais belas áreas naturais do país como o Parque Nacional do Itatiaia (RJ), a Serra do Caraça (MG) e as florestas de Linhares (ES).

A entidade promove no país o “Global Birding Initiative”, ou Iniciativa Global para Observação de Aves, cujo objetivo maior é popularizar a atividade internacionalmente.

O time brasileiro (Da esq. para a dir.) Bruno, Zapa, Guia local, Frederico e Eduardo. Foto: Fernando Ângulo.
O time brasileiro (Da esq. para a dir.) Bruno, Zapa, Guia local, Frederico e Eduardo. Foto: Fernando Ângulo.

Time brasileiro fica em 4ª lugar
O time brasileiro registrou em menos de uma semana 396 espécies de aves, foi um desempenho espetacular para a nossa equipe, que rendeu ao Brasil um importante 4º lugar na primeira edição deste que foi um dos campeonatos mais competitivos da história, onde a diferença entre o 1º e o 2º lugar foi de apenas 3 registros.

De fato, vencer a competição não era tarefa fácil para nenhuma das equipes. Os organizadores do rali reuniram no Peru renomados especialistas do mundo. Participaram do evento observadores dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Espanha, da África do Sul e do Brasil, divididos entre 6 equipes que somaram ao todo 24 competidores.

Entre os grandes nomes que competiram no evento estava Thomas S. Schulenberg, autor do guia de identificação de aves mais completo do Peru, o “Aves de Perú” (publicado em inglês e espanhol) e responsável pelo site “Neotropical Birds” ou, Aves Neotropicais, projeto colaborativo da Universidade de Cornell (EUA) que reuni e disponibiliza informações sobre a biologia das aves dos neotrópicos.

Além de observadores estrangeiros alguns dos rivais da equipe brasileira foram na verdade “colegas estrangeiros” que residem no Brasil há anos, é o caso de Andrew Whittaker, que representou a Inglaterra na equipe que conquistou o 2º lugar do campeonato, a Forest Falcons.

Andrew nasceu na Inglaterra e se mudou para o Brasil, em 1987, para participar de um projeto do Instituto Smithsonian, estudando as aves da Amazônia. Hoje, Whittaker é considerado uma autoridade mundial em aves amazônicas. Seu excepcional conhecimento das aves da região lhe rendeu a descoberta de diversas espécies novas para a ciência. Andrew além de integrar a diretoria da Associação Brasileira de Observadores e ser diretor da Birding Brazil Tours, prepara ao lado de Kevin Zimmer um novo guia de campo que pretende incluir todas as aves do Brasil.

Entre tantos ornitólogos de renome internacional, os vencedores da primeira edição do Birding Rally Challenge, foram os jovens norte-americanos do Museu de Ciência Natural de Louisiana. Liderados por Glenn SeeHolzer, o grupo formado por Michael Harvey, Ryan Terrill e Paul van Els levou o 1º lugar da competição com 493 aves observadas.

 

  • Sandro Von Matter

    Sandro Von Matter é biólogo especializado em Ecologia de Florestas Tropicais e Jornalista Científico, editor de livros sobre ...

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Comentários 1

  1. Abimael diz:

    Link do vídeo da música Passarinhando – Você vai se encantar – Assista, por favor. https://youtu.be/zJTFvdLcORQ
    É um tributo aos que se dedicam à preservação das nossas aves na natureza.