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Crescimento urbano: o desafio das mudanças climáticas

Os centros urbanos consomem 80% da energia e, juntas, as 50 maiores cidades do mundo só perdem em produção de CO2 para os EUA e a China.

Cristiane Prizibisczki ·
3 de junho de 2013 · 12 anos atrás
Estragos do furacão Sandy no bairro de Astoria, Nova Iorque, 2012. Crédito: Exploring the Right Brain
Estragos do furacão Sandy no bairro de Astoria, Nova Iorque, 2012. Crédito: Exploring the Right Brain

Na coluna anterior mostrei números e estatísticas para falar sobre o novo panorama que começa a se formar no século XXI: o de um mundo muito mais urbano do que rural. Falta adicionar a este já difícil quebra-cabeças um novo fator: as mudanças climáticas.

Cidades ao redor do mundo são cada vez mais sobrecarregadas pela complexidade de serviços que elas precisam prover aos seus cidadãos, como suprimento de água e comida, saneamento básico e serviços de saúde, educação e empregos.

Por causa do seu intrínseco problema com produção e consumo de energia, as cidades são umas das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa. Alguns especialistas sugerem que o mundo urbano consome algo em torno de 80% da energia produzida mundialmente e são responsáveis por cifra equivalente quando o assunto é emissão de CO2.

Segundo o Banco Mundial, as 50 maiores cidades do mundo, onde vivem mais de 500 milhões de pessoas, geram o equivalente a 2.6 milhões de toneladas de CO2 por ano, o que é mais do que qualquer país individual emite, exceto os Estados Unidos e a China. É uma reação em cadeia: emitindo mais CO2, elas contribuem para um aumento no efeito estufa, o que muda o comportamento dos fenômenos climáticos, o que provoca mais eventos extremos, que atingem as cidades.

Londres, por exemplo, mesmo sendo uma das cidades mais ricas do mundo, não conseguiu evitar o baque. Um recente estudo feito pelo Greater London Authority, um órgão do governo local, mostrou que a capital britânica está sofrendo com cada vez mais frequência “chuvas pesadas, altas temperaturas, extremas nevascas e temperaturas muito abaixo de zero”, além de falhas no suprimento de energia, deslizamentos de terra e danos em propriedades públicas e privadas. Algo parecido com o que temos visto acontecer, na versão tropical, em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

Os assentamentos urbanos são particularmente vulneráveis porque são, essencialmente, imóveis. Adicione a esta característica o fato de que eles são, tradicionalmente, localizados perto de rios e oceanos, para facilitar o escoamento e recebimento de bens e serviços.

Apesar de todas as cidades do mundo ocuparem apenas 2% da área total do planeta, aproximadamente 13% delas estão situadas em zonas costeiras, sendo a Ásia o continente com maior população urbana vivendo perto de praias e portos. Na Europa, por exemplo, 7% das maiores cidades estão localizadas em áreas vulneráveis ao aumento do nível do mar. Quando considerado o resto deste percentual (93%), o Banco Mundial estima que a maioria dos assentamentos urbanos fica a menos de 10 metros do nível dos oceanos. Nesses locais, os impactos das mudanças climáticas serão mais severos.

*Os dados apresentados nesta coluna fazem parte da pesquisa “(Mis)Informed cities? The urban level of climate change as reported on the pages of UK prestige press”, conduzida no âmbito do PressFellowship Programme – Easter Term 2011, da Universidade de Cambridge/UK.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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