O Wikiaves é um site colaborativo de livre acesso no qual observadores de aves e ornitólogos podem postar fotos e sons (vocalizações) de aves brasileiras. O site já conta com cerca de 11.500 usuários cadastrados, um acervo superior a meio milhão de fotos e 33.500 gravações. Essa “enciclopédia on-line” das aves brasileiras tornou-se um dos sites sobre aves mais visitados em todo o mundo e um dos principais impulsionadores da atividade de observação e fotografia de aves na natureza, que está virando uma mania nacional.
No início de 2010, Firmino e Thiago começaram a postar no Wikiaves fotos das aves de Caxias, a maior parte delas clicadas em um sítio de propriedade do procurador. Em maio de 2011, os até então pouco experientes observadores de aves deixaram a comunidade ornitológica brasileira em polvorosa ao compartilharem no Wikiaves fotos de uma das mais enigmáticas aves brasileiras, o jacu-estalo (Neomorphus geoffroy).
As fotos do jacu-estalo e das outras quase 300 espécies já registradas por Thiago e Firmino em Caxias, incluindo outras raridades como o pica-pau-do-parnaíba (Celeus obrieni), já seriam o suficiente para colocar Caxias no mapa da ornitologia e do turismo de observação de aves no Brasil. No entanto, a terra dos sabiás de Gonçalves Dias ainda guardava outra preciosidade ornitológica.
Em junho de 2012, acompanhados pelo estudante de biologia da Universidade Estadual do Ceará, Caio Brito, nós nos aventuramos em uma expedição cujo objetivo era visitar algumas das últimas áreas remanescentes de Mata Atlântica dos estados do Ceará e Piauí. Como estávamos perto da divisa com o Maranhão, decidimos esticar um pouco mais a viagem até Caxias na esperança de conseguirmos fotografar e gravar as vocalizações do jacu-estalo e do pica-pau-do-parnaíba.
O Grilinho de Caxias
“Em segundos, um diminuto e inquieto passarinho apareceu querendo descobrir quem tinha a ousadia de invadir seu território. Ele pousou na copa de uma árvore logo acima das cabeças do eufórico time ornitológico. “
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Após dois dias em Caxias guiados por Thiago e Firmino, avistamos as duas aves que queríamos, além de diversas outras espécies interessantíssimas, como o chupa-dente-de-capuz (Conopophaga roberti), papa-taoca (Pyriglena leuconota) e o campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens). Estávamos empolgados com os resultados desta visita de última hora. Entretanto, uma pequenina e importante surpresa ainda nos aguardava.
Era o final da segunda e última tarde de exploração em Caxias, faltava pouco para escurecer, quando, de repente, um canto trinado vindo das copas chamou nossa atenção. Embora remetesse mais a um grilo do que a uma ave, a vocalização lembrava bastante a voz de populações de uma espécie de pássaro típica da Mata Atlântica, o miudinho (Myiornis auricularis), cujo nome popular é bastante apropriado em se tratando de uma das menores espécies de aves brasileiras.
No entanto, a população mais próxima do miudinho estava na Mata Atlântica pernambucana a cerca de 1.000 km dali, completamente isolada das matas de Caxias pela secura da Caatinga e do Cerrado.
Cientes da importância potencial do achado, ligamos os gravadores e apontamos os microfones para as copas. A vocalização gravada foi então reproduzida com caixinhas de som portáteis com o objetivo de atrair a ave e trazê-la mais próxima a nós, uma técnica conhecida entre os ornitólogos como “playback”. Em segundos, um diminuto e inquieto passarinho apareceu querendo descobrir quem tinha a ousadia de invadir seu território. Ele pousou na copa de uma árvore logo acima das cabeças do eufórico time ornitológico.
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