Análises

A primeira grande travessia da Trilha Transmantiqueira

Por 75 dias e 950 quilômetros, dois amigos encararam pela primeira vez a Trilha Transmantiqueira, que cruza os estados de São Paulo e Minas Gerais

Rede Brasileira de Trilhas ·
21 de agosto de 2025

Há pouco mais de dois meses, os amigos Luiz Aragão e Rannier Barata deram início a uma jornada extraordinária: a primeira grande travessia da Trilha Transmantiqueira – uma caminhada de 75 dias e cerca de 950 quilômetros que conecta paisagens, histórias e superação, vivendo no ritmo da natureza, enfrentando desafios físicos e emocionais e interagindo profundamente com os biomas, as comunidades e as montanhas ao longo de 38 municípios nos estados de Minas Gerais e São Paulo.

Os caminhantes partiram do Horto Florestal, na capital paulista, em 25 de abril, e seguiram pela Serra da Mantiqueira, atravessando estradas de terra, trilhas, áreas protegidas e regiões de rica diversidade cultural e ambiental até concluírem a jornada na Janela do Céu, atrativo do Parque Estadual de Ibitipoca, no último dia 10 de julho. Percorreram integralmente uma trilha de longo curso, de ponta a ponta, de forma contínua, realizada no Brasil por brasileiros. Um feito que reforça a importância das trilhas brasileiras como conectoras de paisagens e áreas naturais protegidas e promotoras do turismo de natureza com sustentabilidade.

Na Janela do Céu, no alto da serra, o grupo celebrou não apenas a chegada, mas também a profundidade da jornada. Como forma de reconhecimento pela travessia histórica, os participantes foram homenageados em uma cerimônia no próprio Parque Estadual do Ibitipoca, onde receberam certificados e placas pela conclusão da incrível jornada.

Luiz Aragão, voluntário na implementação de trilhas de longo curso, coordenou a empreitada que reuniu alguns companheiros ao longo de centenas de quilômetros e explicou que a equipe realizou a caminhada com o objetivo de produzir um relatório inédito sobre o traçado e a logística da Trilha Transmantiqueira.

Os caminhantes que concluíram a Trilha Transmantiqueira. Foto: Arquivo Pessoal Luiz Aragão e Ranier Barata

O grupo se hospedou em diversos locais, como alojamentos de romeiros, pousadas, albergues e pensões, além de pernoitar em campings selvagens. O mapeamento do traçado permitiu uma avaliação minuciosa das condições atuais de toda a trilha, identificando trechos com estradas e a definição de estratégias para retirá-las da trilha, localizando áreas de propriedade privadas e estabelecendo contato com os proprietários e o desenvolvimento de uma logística de apoio ao percurso, com a marcação de pontos para acampamento e hospedagens, locais de abastecimento de alimentação e manutenção, além de possíveis pontos de envio de suprimentos — tornando possível ao caminhante carregar mochilas mais leves.

Também foram avaliadas a necessidade de sinalização, medidas de segurança e a articulação com voluntários e parceiros municipais, estaduais e federais. Todos os dados serão registrados e catalogados no documento para servir como um guia aos interessados em realizar o percurso e ao uso sustentável da região por praticantes de caminhadas e atividades na natureza.

A Trilha Transmantiqueira (TMTQ) é uma Trilha de Longo Curso integrante da Rede Brasileira de Trilhas que atravessa a Serra da Mantiqueira no sentido oeste-leste, em um percurso que ultrapassa 1.100 quilômetros de extensão, cruzando mais de 40 municípios dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e conectando mais de trinta unidades de conservação.

A sinalização oficial da Trilha Transmantiqueira. Foto: Arquivo Pessoal Luiz Aragão e Ranier Barata

Exigindo dias de caminhada, trilhas de longo curso vão além do desafio físico. Elas impulsionam o turismo de natureza de forma sustentável, protegem rotas e regiões de valores natural, cultural e histórico e são importantes para a conservação da biodiversidade, pois criam corredores ecológicos entre unidades de conservação que protegem fauna e flora, reconectando paisagens fragmentadas.

As trilhas de longo curso promovem a geração de emprego e renda no entorno das regiões, estimulando a economia circular de maneira sustentável. As trilhas proporcionam para a população oportunidades para atividades de lazer ao ar livre, como caminhadas, ciclismo e observação da natureza, atraindo turistas interessados em experiências autênticas e em contato direto com a natureza.

Luiz Aragão espera que as trilhas de longo curso sejam vistas no país de forma profissional e possam funcionar de maneira semelhante ao que existe nos Estados Unidos, com as trilhas da Tríplice Coroa, que incluem a Appalachian (3.520 quilômetros), a Pacific Crest (4.260 quilômetros) e a Continental Divide National Scenic (5.150 quilômetros) fomentando o turismo de natureza e o de aventura com desenvolvimento socioeconômico

“Mais do que uma trilha, foi uma travessia transformadora”, resumiu, emocionado, um dos participantes ao alcançar o destino final. A caminhada deixou marcas profundas –
não só nos pés, mas na alma de todos os envolvidos.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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