A ciência e a conservação da biodiversidade para muitas pessoas parece algo distante e desconectado do dia a dia. Ter um diploma em alguma área da ciência parece ainda ser uma exigência para se envolver com o conhecimento e a conservação das espécies. Porém, a verdade é que quanto mais pessoas de diferentes níveis e áreas do conhecimento se envolverem em projetos de conservação e monitoramento da biodiversidade, mais eficientes podem ser as estratégias tomadas em prol das espécies.
O Brasil é detentor de uma das maiores diversidades de aves do mundo, com 1.919 espécies. No entanto, o país também lidera o triste ranking mundial de espécies de aves ameaçadas de extinção (174 espécies). De acordo com os dados do relatório da Birdlife International, 13% das aves do mundo (10.966 no total) estão globalmente ameaçadas de extinção, sendo que para algumas delas o declínio da população está tão rápido que elas podem estar fadadas ao breve desaparecimento se não fizermos nada. Para que possamos reverter esse quadro é urgente repensarmos, por exemplo, práticas mais sustentáveis na agricultura e extração de recursos naturais, controle de fogo e de espécies invasoras, redução de poluentes e planejamento para cidades mais sustentáveis.
A participação da sociedade civil é essencial nesse processo, pois pode ajudar a conhecermos mais sobre as espécies e seus habitats e a pressionar governos e empresas para melhores práticas. Neste sentido, as aves são incríveis para inspirar pessoas e despertar o interesse de contribuir com a conservação da biodiversidade de maneira proativa. Existem várias formas de envolvimento, porém vamos citar duas maneiras pelas quais qualquer pessoa pode participar.
A primeira é contribuir com o conhecimento científico através da prática da ciência cidadã, ou também chamada de ciência colaborativa. Uma tendência crescente no mundo todo, a ciência cidadã é uma parceria entre amadores e cientistas na coleta e/ou processamento de informações, capaz de fornecer dados valiosos para que futuras ações de conservação sejam empregadas em determinada localidade.
Pensando nisso, em 2014 a SAVE Brasil criou o projeto Cidadão Cientista com o objetivo inicial de realizar o monitoramento participativo das aves em quatro Áreas Importantes para a Conservação das Aves e da Biodiversidade (IBAs) nos estados da Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Porém, a ideia se multiplicou e as atividades do projeto se expandiram para outras regiões, incluindo desde áreas protegidas até parques urbanos. As atividades realizadas pelo projeto já contaram com a participação de milhares de pessoas e o apoio da Fundação Grupo Boticário e da American Bird Conservancy, que juntos contribuíram com o conhecimento das aves do Brasil
Nas áreas urbanas, o projeto teve início em 2016 em parceria com a prefeitura de São Paulo – Divisão de Fauna Silvestre – e o Observatório de Aves do Instituto Butantan. Os encontros mensais realizados em parques urbanos da cidade de São Paulo, frutos dessa parceria, reúnem pessoas de todas as idades, perfis e regiões, e tornou-se um encontro para falar de passarinho, trocar vivências pessoais e contribuir com a ciência através das listas de aves elaboradas no eBird pelos participantes. De 2016 até 2019, 16 parques urbanos já receberam a presença dos grupos de observadores de aves e mais de 200 espécies de aves foram registradas no eBird, o que corresponde a 44% da diversidade de aves que pode ser encontrada no município. Isso mostra que a observação de aves nas áreas urbanas pode ser muito interessante e reservar surpresas, como na atividade especial desenvolvida em parceria com o CRAS-PET (Parque Ecológico do Tietê –DAAE) em que o grupo encontrou uma espécie nova para a região: o arapapá (Cochlearius cochlearius). Esse encontro virou até artigo científico!
Uma outra forma de envolvimento é contribuir e fazer parte de alguma instituição não governamental que trabalhe pela conservação da biodiversidade. A SAVE Brasil conta com o programa Amigos da SAVE Brasil que, muito além de um grupo de membros engajados na conservação das espécies e na observação de aves, é uma forma de fortalecer o elo fundamental da organização – conservar os ambientes naturais conectando as pessoas à natureza. Com a participação ativa dessas pessoas e os esforços das equipes dos projetos, apenas em 2019 foi possível contribuir para a conservação de 58 espécies de aves ameaçadas, incluindo algumas criticamente ameaçadas como o bicudinho-do-brejo-paulista e a rolinha-do-planalto, conservar 44.417 hectares de áreas prioritárias, criar uma área protegida pública e garantir o manejo sustentável de 114.588 hectares no Pampa.
As aves estão espalhadas por todos os ambientes, com diversas cores e cantos, o que contribui para que a observação de aves seja uma atividade muito prazerosa e democrática, que envolve desde apreciadores do mundo natural a observadores de aves mais experientes. A cada pessoa que participa das atividades do Cidadão Cientista ou se torna um Amigo da SAVE Brasil é possível ver o aumento da conexão das pessoas com as causas ambientais. É o mesmo que inspirar e ser inspirado! Como em todo projeto de conservação, os desafios são diários, pois manter as pessoas engajadas e comprometidas com a causa exige muita dedicação e trabalho em equipe. Nosso desejo é que esta rede se multiplique e que a cada dia mais pessoas valorizem e contribuam com a conservação ambiental.
Se você também se inspirou e gostaria de fazer parte dessa corrente do bem em favor da conservação das aves do Brasil, aqui vão duas formas possíveis: seja um cidadão cientista observando as aves e registrando em plataformas como o eBird; e torne-se um membro Amigos da SAVE Brasil.
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