Tendo em vista o clamor nacional e internacional levantado pela morte da onça Juma por militares, depois da participação da mesma no evento de troca da tocha olímpica em Manaus, me vejo compelido a também expressar a minha opinião sobre os motivos que ocasionaram o sacrifício do animal. O fato de ter passado uma boa parte da minha vida estudando a onça-pintada no Pantanal e em outros biomas no Brasil, e também com alguma experiência em cativeiro, acho que me qualifica a externar minha opinião. Em que pese o fato de o Exército Brasileiro estar contribuindo na preservação dessa espécie ameaçada, através do trabalho que desenvolvem no Comando Militar da Amazônia (CMA), com a manutenção de exemplares encaminhados pelo IBAMA e por outras instituições, provindos de situações irregulares, é também claro que nem sempre são utilizados os métodos mais indicados para a sua manutenção adequada.
Com a justificativa de sua bravura e ferocidade, a espécie é usada como símbolo do CMA, e as onças são expostas como mascotes do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS). Segundo o coronel Luiz Gustavo Evelyn, chefe da 5º Seção de Comunicação Social do CMA, esses mascotes são usados para participar “em formaturas, trocas de comando e visitas de autoridades, e tudo se dá por ser um animal símbolo do CMA, então essa participação é corriqueira e efetiva”. Ainda segundo o coronel, “há um procedimento padrão com a presença de veterinários e tratadores, que prendem a onça por coleiras e correntes, além dos dardos tranquilizantes que são usados em caso de necessidade”.
“…se não houve ainda acidentes mais sérios (pelo menos conhecidos), é um caso de “mais sorte do que juízo” e certamente mais por mérito das onças do que do Homem.”
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É justamente aqui que reside o problema. Qualquer pessoa que tenha um mínimo de experiência com anestesia de onças pintadas ou de qualquer outro grande felino sabe que um anestésico, principalmente quando injetado por meio intramuscular, através de um dardo, levará, forçosamente, de três a quinze minutos para conter o animal, dependendo do anestésico usado. A isso deve-se somar ainda o efeito que o estresse causado pela exposição do animal aos barulhos de uma multidão ou de público em geral possa ter no organismo do animal, ao metabolizar a droga. E, dada a força desproporcional que uma onça-pintada tem, não serão coleiras e correntes que irão segurar um animal assustado e estressado, e o estrago que ele poderá causar, mesmo depois de atingido por um dardo, vai ser considerável, até que o anestésico possa agir, mesmo considerando o intervalo mínimo de três minutos.
Isso fica dolorosamente claro no exemplo citado pelo próprio coronel, no caso de Juma: “…dentro do Zoológico do CIGS, num procedimento corriqueiro, na transferência do animal de um ambiente para o outro, ele (a onça) veio a se evadir. Neste momento estavam presentes dois veterinários e três tratadores, como de costume. Foi feito todo o procedimento protocolar de captura, com a utilização de dardo tranquilizante, mas foi ineficaz. Para preservar a integridade física do veterinário o animal foi detido. Ela avançou no veterinário e aí o animalzinho foi detido [morto]”. Onde julgado “ineficaz”, entenda-se que não havia como, não existe um anestésico que tenha efeito imediato como uma bala de pistola – e então, o “animalzinho” teve que ser sacrificado.
Em uma outra situação envolvendo uma onça do CIGS, um repórter se viu “em palpos de onça”, quando ao fazer uma reportagem, teve que ser resgatado por quatro soldados, que ajudaram a conter o animal, em um recinto telado
Embora de menor gravidade, fica claro que se o animal, por algum motivo, se tivesse tornado agressivo e realmente quisesse machucar o repórter, os soldados de apoio não teriam sido suficientes para contê-lo – e, mais uma vez, ele provavelmente teria que ser sacrificado – não sem ferimentos potencialmente sérios em uma ou mais das pessoas envolvidas. Portanto, pela minha experiência com esses animais – e pela forma de manipulação que vejo na exposição das onças do CIGS em paradas militares e em eventos públicos – minha reação é que se não houve ainda acidentes mais sérios (pelo menos conhecidos), é um caso de “mais sorte do que juízo” e certamente mais por mérito das onças do que do Homem.
Onças pintadas, como qualquer outro grande felino, não são animais domésticos e nunca deveriam ser tratados como tal. Em uma fração de segundos, um animal que sempre teve um comportamento dócil pode se assustar por um motivo banal, e reagir instintivamente, atacando e às vezes ferindo mortalmente uma ou mais pessoas. Em alguns casos, nem mesmo uma bala poderá ser rápida o suficiente para evitar uma tragédia bem maior do que a ocorrida com Juma. E como um dos saldos positivos desse evento, fica ao menos a satisfação de ver a reação popular gerada em defesa da perda tão inútil da vida desse animal. Espero que essa reação se mantenha ativa e tão efetiva no combate às outras formas de mortalidade, como o desmatamento, a caça clandestina, e, principalmente, o conflito com a pecuária, que tem levado a onça-pintada à beira da extinção na Mata Atlântica, no Cerrado, na Caatinga, e mesmo em algumas áreas do Pantanal e Amazônia. Infelizmente, ainda há muitas Jumas morrendo todos os dias…
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Acho que alguns cuidados devem ser tomados na visão desta matéria. A imprensa e as reportagens tem grande peso naquilo que ficamos sabendo e também na exposição do animal. Algumas vezes achamos que é pura exibição e na verdade não é, não sei neste caso em particular, mas devemos pensar neste aspecto, não acham?
Ambconsult
Obrigada!
Sempre postei comentários que foram publicados. Agora recebi uma mensagem que "deveria ser avaliado antes de publicarem" e não publicaram. Não ofendi ninguém, só questionei umas coisas.
Cara Andreia, às vezes o servidor prende determinados comentários sem motivo. Já liberei
Sempre me indignou saber que as onças eram usadas como mascotes pelo exército. da amazônia! Sempre me indignou ver que os órgãos responsáveis não fazem nada a este respeito, por mais que e existam leis.
O exército faz o "grande favor" de manter animais que não podem mais retornar à natureza". Eu pergunto:
– Os cativeiros são adequados?
– Os animais são tratados adequadamente?
– Existe alguma possibilidade de reintrodução na natureza de onças nascidas em cativeiro?
– O exército faz algum programa de reprodução em cativeiro? Com que finalidade?
– Há alguma possibilidade de reintrodução na natureza de onças de cativeiro, com os devidos procedimentos e recursos?
– O exército investe em algum tipo de reabilitação?
– Estes animais podem ser criados como mascotes e "ser treinados" para isso? A legislação permite?
Se o exército está fazendo um favor, e não querendo só se exibir, eles manteriam as onças caso não pudessem usá-las como mascotes e para exibições?
Gostaria realmente de ter minhas perguntas respondidas por especialistas e pelos órgãos responsáveis (IBAMA, ICMBio), e saber a opinião dos especialistas: Que sentido faz manter um animal destes em um cativeiro inadequado, e com o objetivo de torná-lo um mascote para desfilar em exibições acorrentado?
Tem certeza que aqui é o lugar de perguntar mesmo?
Se eu não obtiver resposta, pelo menos pode ajudar a pensar nestas questões.
Para mim Leandro Silveira é um especialista nos dois lados…ou 3…ou 4…ou 17 lados….da moeda
Perfeito.
Incrível a omissão do IBAMA-AM nesse caso. Quem conhece sabe que o CIGS sempre teve vários problemas em relação a manutenção de animais em cativeiro. E o IBAMA-AM sabe disso. Porque até agora não tomou as providências cabíveis ? Multa simples por crime ambiental. MPF deveria entrar no caso. Ou será que a culpa foi da onça ? Fala sério… Brasil !!!