No século IV a.C., o filósofo grego Aristóteles já dizia que o ser humano é, por natureza, um animal político. Ele não usava a palavra como aplicamos hoje, ligada a partidos e campanhas, mas no sentido de que só viveríamos plenamente em comunidades, debatendo, decidindo juntos, buscando o tal bem comum.
Séculos mais tarde, a pensadora alemã Hannah Arendt — autora de clássicos como “As origens do totalitarismo”, de 1951 — reforçou essa ideia destacando que é no espaço público, quando falamos e agimos diante dos outros, que podemos mostrar nossa verdadeira humanidade.
Mas, e se não formos os únicos animais políticos? A ciência mostra que outros seres vivos também têm exigências claras para convivência com o bicho homem.
Uma onça-pintada precisa de centenas de quilômetros de floresta para sobreviver dignamente. Aves migratórias atravessam continentes, em rotas desenhadas há milhares de anos. Peixes sobem rios inteiros para se reproduzir. Até espécies que se acostumaram à nossa presença, prosperam mais quando deixamos áreas livres.
Cada um desses movimentos se traduz em recados claros: outras espécies também precisam de espaço, do silêncio e do escuro, de respeito às condições evolutivas que moldaram suas vidas. Quando não atendemos a esses sinais, a resposta vem rápido. Populações decaem, habitats perecem, espécies se extinguem.
Hoje, cerca de um milhão de espécies de plantas e animais podem desaparecer. Outras tantas já se foram. A perda de biodiversidade avança num ritmo até cem vezes maior do que a média natural. Na América Latina, o índice de vida selvagem caiu 70% em cinco décadas.
Claro, não se trata apenas de salvar bichos ou árvores aparentemente distantes de nosso cotidiano. Cada espécie perdida enfraquece a teia que sustenta a nós mesmos: o solo que produz alimentos, a água que bebemos, o clima que mantém nossas economias e cidades habitáveis.
Se realmente somos animais políticos, precisamos ouvir os demais seres que dividem o planeta conosco. Ao ignorá-los, seguiremos perdendo diversidade biológica e também parte de nossa humanidade.
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