Malandragem Transgênica
Aprovação de parecer da Agência Nacional de Águas abre caminho para o governo licitar a transposição do São Francisco, contra forte oposição da sociedade. →
Formado em Comunicação Social pela PUC-Rio (1996), concluiu mestrado em Saúde Pública na Fiocruz (2003) com pesquisa sobre as condições de trabalho e saúde de policiais civis. Foi da equipe fundadora e primeiro chefe de Redação do ((oeco)), de 2004 a 2006. Junto ao Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP), coordenou o projeto Estatuto do Futuro (Prêmio Itaú-Unicef em 1999) e foi educador e coordenador da Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia, depois Oi Kabum! Lab (2009-2019). Repórter e editor assistente da Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN) entre 2007 e 2016. Coordenador de conteúdo do programa Naves do Conhecimento, da Prefeitura do Rio (2017-2018). Com Marcos Sá Corrêa, escreveu os livros Sinais da Vida: Algumas histórias de quem cuida da natureza no Brasil (2005), Água Boa: A natureza em Itaipu depois das Sete Quedas (2008) e Meu vizinho, o Parque Nacional do Iguaçu (2009). Integra o podcast Passadorama.
Aprovação de parecer da Agência Nacional de Águas abre caminho para o governo licitar a transposição do São Francisco, contra forte oposição da sociedade. →
Por enquanto, continua em vigor a liminar que impede a Monsanto de cobrar royalties dos fazendeiros que utilizam suas sementes de soja transgênica no Rio Grande do Sul. Em audiência realizada na quinta-feira, 13 de dezembro, a Justiça não chegou a apreciar o mérito da ação que pretende derrubar a liminar. →
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) está liderando uma campanha contra a instalação de três usinas siderúrgicas na ilha de São Luís, no Maranhão. O Governo do Estado e a Vale do Rio Doce planejam produzir ali até 22,5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, o que representaria 72% da produção nacional. O impacto ambiental do empreendimento promete ser grande. Segundo documento divulgado pela SBPC, as usinas vão gerar 35,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, o que aumentaria a taxa de emissão nacional em 10,2%. Os recursos hídricos ficariam gravemente comprometidos, pela demanda de água das usinas, e 10 mil hectares de manguezais seriam desmatados ou aterrados. O Estado do Maranhão tem a metade dos manguezais do país e a maior área contínua de mangues no mundo. →
Um homem que diz ser proprietário de 60 mil hectares de terra dentro da reserva de Riozinho do Anfrízio, criada em dezembro no Pará, está ameaçando de morte os moradores da área. Técnicos do Ibama em visita à região também foram ameaçados e impedidos de entrar na reserva por outro suposto fazendeiro. As famílias reclamam que mesmo com a criação da reserva estão sendo impedidas de entrar em suas áreas para a coleta de castanha-do-pará e seringa. Apesar de ter uma base de apoio ao Ibama na área, o Exército ainda não tomou nenhuma providência para evitar o confronto. A situação demonstra que a proposta extrativista não será aceita facilmente por quem já explora aquelas terras, marcadas por histórica indefinição fundiária. →
Os estados estão se mexendo para atender à demanda por biodiesel em 2005. O Governo do Pará anunciou seu interesse em expandir o cultivo do dendê, que hoje já representa 75% da produção nacional. Enquanto isso, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) garante que seu biodiesel, que usará mamona como matéria-prima, será o mais barato do país. A competição se explica: partir deste ano é permitido adicionar 2% de óleo vegetal à produção de óleo diesel. Resta acompanhar sobre que áreas vão se expandir essas novas fronteiras agrícolas. →
Vinte e seis projetos de 11 estados receberam sinal verde da Fundação O Boticário para implementar, a partir deste ano, estudos e ações para a conservação ambiental. Destacam-se propostas de mapeamento científico de espécies da fauna em diversos ecossistemas. Os morcegos são objeto de dois projetos aprovados, um no Parque Nacional da Serra da Bodoquena (MS) e outro no agreste pernambucano. Ariranhas pantaneiras, peixes recifais no Espírito Santo, lagartos das restingas fluminenses, sagüis amazônicos, preás catarinenses, onça pintada e tuco-tuco (foto) gaúchos também ganharão estudos para sua conservação nos habitats específicos, entre outros bichos. Na parte de flora, integram a lista os ameaçados jacarandá da Bahia e araucária do Paraná, ao lado dos igarapés na Amazônia e coisas pouco conhecidas do público, como as algas calcárias (rodolitos). Haverá ainda, com um representante cada, projetos de controle de espécies invasoras (bagre africano introduzido em Paranaguá), manejo de unidade de conservação (Chaco pantaneiro) e recuperação ambiental de bacia hidrográfica (Rio Pacuí, em Minas). Ao todo, o Programa de Incentivo à Conservação da Natureza vai investir 488 mil reais nos 26 projetos, selecionados entre 224 inscritos. Desde 1990, a Fundação O Boticário já financiou 915 projetos ambientais. Veja a lista dos projetos aprovados. →
De William Henrique StutzPresidente AAMLPrezados Senhores,Foi com satisfação que conhecemos o sítio de | O Eco |. Escrevemos para parabenizá-los e aproveitar para nos apresentar.Nossa "Ação Ambiental Morcego Livre" AAML (Projeto Morcego Livre), ONG ambiental com sede em Uberlândia - MG, tem por objetivo principal a preservação, defesa e desmistificação de nossos morcegos através de ações de educação ambiental e intervenção direta em situações de ameaça aos morcegos.A divulgação da importância dos morcegos para o ecossistema, para a recomposição e manutenção de TODOS nossos biomas através da polinização e dispersão de sementes, na agricultura (a ingestão de toneladas de insetos por noite reduz substancialmente o uso de venenos agrícolas), enfim, para a vida do planeta são os princípios básicos que regem nossa organização.Ficaríamos honrados se pudessem vistar nosso sítio. O endereço é http://www.morcegolivre.vet.br. No aguardo de futuros contatos, nos despedimos atenciosamente →
Amianto branco foi abolido em toda a Europa, mas no Brasil a indústria do setor consegue barrar leis que tentam proibi-lo. Solução pode vir do próprio mercado. →
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) aceita indenização da BAESA e desiste de lutar contra desmatamento em Barra Grande. Ações na Justiça continuam. →
Fracassou a reunião promovida pelo TRF em Porto Alegre com ambientalistas, empreiteiras e governo para discutir uma saída para a hidrelétrica de Barra Grande. →
De Ney Emilio ClivatiA Marcos Sá CorrêaEditor do O EcoCaro Senhor, meu nome é Ney Emilio Clivati, eng. Civil, gerente e sócio da empresa Corupá Energia Ltda, empresa formada especificamente para estudar os aproveitamentos energéticos da região de Corupá.Temos a empresa atuando na região desde o ano de 2.000, com estudos de toda região.Inicialmente fizemos o inventário de toda a bacia do Rio Novo e seus afluentes, com ênfase nos potenciais hidráulicos.Este inventario foi aprovado pela Aneel. E está a disposição de toda a população para consulta, e serve de fonte de informação para todos interessados.Após o inventario foi iniciado o projeto básico do aproveitamento conhecido como PCH Bruaca.Este projeto básico (que ainda não é um projeto executivo) depende de uma serie de formalidades burocráticas, que são determinadas pelo Ministério das Minas e Energia e pela Aneel.Dentre destas formalidades está o estudo hidrológico da bacia, fizemos então o levantamento da hidrologia da região desde 1.929, para obtenção das vazões máximas, mínimas e medias. Estes dados estão disponíveis na Aneel, mas para facilitar estou apresentando a planilha de vazões mensais da bacia do rio Novo.É fácil comprovar que a vazão media é de 38,51 metros cúbicos por segundo, que a vazão máxima é de 194,70 m3/s. e que a mínima é de 2,50 m3/ s. Estas vazões são inconstantes porque a bacia de contribuição é muito pequena.Temos portanto uma vazão media de 38,51 m3/segundo para uma bacia de 169 km2 (ver tabela), como a bacia de contribuição do afluente Bruaca é de 80 km2, basta dividir por dois para que tenhamos a media mensal de vazão do rio. Numero este de 19,26 m3/s. Fiz todos estes cálculos para concluir da seguinte maneira. Temos de engolimento pela PCH a media de 2,50 m3/s, para gerar um total médio de 8500 KW, o que representa um porcentual de 13% da vazão media do rio. Ou seja, a cachoeira da Bruaca será diminuída em media 13% do seu volume de água, e não 17% como afirmastes em artigo publicado em jornal local.O fato de ser uma ninharia para tanta cachoeira é justamente porque a vazão de engolimento tem que ser pequena para que a cachoeira continue com sua beleza, não considero uma ofensa dizeres que 15.000.000,00 (quinze milhões de watts) de potencia instalada sejam uma ninharia, sou um defensor de pequenas centrais hidreletricas, cujo impacto ambiental é muito menor que as grandes centrais. É lógico que quanto maior a capacidade de geração, maior o lago, maior o impacto. A busca pelo ponto ideal de geração e impacto ambiental é uma discussão interminável.Continuando.Escreveste que nós vamos desmatar 3.000 metros quadrados da montanha.Este dado é totalmente irreal, nós não vamos desmatar nenhuma parte da montanha, mesmo porque a obra será executada com um túnel adutor que será embocado na cota 790 e desembocará na cota 280 acima do nível do mar. O que vamos sim fazer é criar uma barragem de 6,00 (seis) metros de altura, mais ou menos a altura de um sobrado, para que a água (2,50 m3/s) possa ser desviada por meio de um túnel até a cota 280. Esta barragem vai alagar o equivalente a 0,45 hectares, ou seja 4.500 metros quadrados, o que representa a metade de um campo de futebol, que tem em media 75,00 por 110,00 metros.A área a ser alagada sofreu influencia antrópica e está em recuperação. Vamos reflorestar com mata nativa o seu entorno legal, melhorando o meio ambiente da região.A montanha não sofrerá nenhum tipo de agressão, mesmo porque uma das características dos túneis é ficarem em baixo da terra. Ou seja, quem passar pelos locais de interferência não verá nada, não saberá nem que o túnel existe. E a mata atlântica não terá nenhuma arvore arrancada nas encostas da Serra do Mar.Cravará em suas costas 2.280 metros de tubulações com 3,3 metros de circunferência, removendo para isso 24 mil metros cúbicos de basalto em encostas intatas.De onde o senhor tirou tal dedução eu não sei, acho que foi de uma entrevista que eu dei para o jornal Absoluto. Acho que o senhor interpretou mal o que foi escrito pelo jornalista.Mas posso afirmar o seguinte.Não haverá nenhuma tubulação cravada nas costas, mesmo porque como expliquei acima, o processo construtivo é em forma de túnel, que passará por debaixo da mata atlântica, saindo de uma região 02 quilômetros a montante da cachoeira, região esta já totalmente devastada e agora em fase de recuperação. E não por cima, as encostas permanecerão virgens e exatamente como estão agora. O desemboque se dará numa plantação de bananas, que o senhor pode comprovar sobem até a cota 500 metros acima do nível do mar.Também não removeremos basalto das encostas. Mesmo porque é impossível remover basalto de uma região em que ele não existe, teríamos que nos deslocar mais de 400 km para o interior do Estado (onde existem) para remover basalto (proveniente sempre de errupções), a rocha que será removida é granito rosa, formação Campo Alegre.Esta remoção de rocha é proveniente da escavação do túnel, e não será das encostas, se tivéssemos que remover ou que mexer nas encostas, com certeza o projeto seria abortado.Afirmo: se tivermos que mexer nas encostas, nós da Corupá Energia abortaremos todo o projeto. O principio básico deste projeto foi o de que não mexeríamos em nenhuma arvore ou relevo da Serra do Mar. Por isto a opção pelo túnel, que representa o maior porcentual de gastos para nós. Seria mais barato cravar uma tubulação nas costas da Serra do Mar, mas a opção foi pela solução de menor impacto.Fará uma barragem de seis metros de altura, inundando 4,5 hectares do planalto. E rasgará uma ferida difícil de cicatrizar num parque natural de 100 hectares, que aliás está a seu lado quase por milagre.A barragem não inundará 4,5 h a e sim 0,45 h a . Pode ser erro de digitação, mas para a comunidade isto representa o céu e o inferno. O parque só está ao seu lado porque a região é inacessível para seres humanos até pouco tempo, e não foi possível para os madeireiros e bananeiros retirar as arvores e plantar depois suas bananas.Não entendo que ferida é está que abriremos, estava o senhor se referindo ao túnel?Ou estava dubiamente alegando que abriremos um rasgo no meio do parque ecológico?Esta dupla interpretação só vem em prejuízo da discussão dos reais impactos do empreendimento. Criando expectativas negativas a nossa pessoa e ao nosso trabalho, colocando na vala comum de aproveitadores, pessoas que trabalharam durante 4 anos em um projeto sério e honesto e que visa o desenvolvimento sustentado da região.O Parque Ecológico receberá o retorno ambiental da usina e poderá livremente decidir o que fazer com este retorno. Poderá implementar políticas ambientais na área do parque, poderá trabalhar para que os bananicultores preservem o que ainda resta da mata, fazendo trabalhos de conscientização para que preservem o ainda existente e não expandam mais suas atividades.Poderíamos não direcionar este retorno para um parque já existente, e criarmos a nossa própria reserva ambiental. Aí poderíamos fazer uma serie de folhetos de propaganda dizendo que nós estamos trabalhando em conjunto com a natureza, etc e tal. Mas será que é isto que interessa para a municipalidade? Ou interessa que as pessoas e empresas trabalhem em harmonia, sem estrelismo, fazendo o melhor que tem que ser feito.O terreno pertence à Batistella. Ou seja, a uma madeireiraQuem divulgou que o terreno pertence a Battistella estava equivocado. Os terrenos que serão implantados a PCH pertencem a vários proprietários, mas nenhuma fatia por mínima que seja pertence à Mobasa. O Parque, este sim é da Mobasa, e que cedeu em regime de comodato para a Pref.Municipal de Corupá, que cedeu a administração para uma ONG, que administra todo parque, inclusive a visitação.Não sei qual a intenção de dizer o que foi dito acima. Ficou novamente dúbio. Parece que a usina está em terras da Batistella, quando na realidade está fora do Parque. Para confundir talvez?Reconhecemos o valor do Parque, e por isto mesmo direcionamos o retorno ambiental para ele. Para que possa melhorar, trazer mais turistas, ter cursos de meio ambiente, que possa ser autônomo, sem depender de prefeitura ou de empresas privadas. Gostaríamos de ver o Parque como exemplo de turismo internacional. Trazendo não só 90 alemães por ano, mas sim um número suficientemente grande para viabilizá-lo economicamente o ano todo.Mas, de três meses para cá, quem anda muito por ali dentro é a vanguarda dos engenheiros, sondando com instrumentos de medição o caminho para a obra.Fazem 03 anos que a topografia foi concluída, fazem 12 meses que a arqueologia foi feita, também 12 meses que o inventario florístico foi completado. Não realizamos trabalho de campo nenhum nestes três últimos meses que exigiu retirada de vegetação. Se alguém está sondando e medindo não somos nós. O que fizemos nestes últimos meses foi verificar os marcos de GPS, que não implicam em abertura de nenhuma vala ou clareiraO bom é que a região passará a ter reserva técnica para situações de blecaute”,Esta afirmação nunca foi dita por mim, mesmo porque eu como técnico sei que a energia vai para o sistema como um todo, sendo impossível determinar se servirá para impedir blecautes na região.Corupá bem que mereceria ser tratada com mais respeito.Com isto o senhor determinou que nós estamos tratando Corupá com desrespeito, criado um sentimento de aversão a qualquer ato de nossa parte. Nós somos os bandidos que estamos devastando, desrespeitando toda a comunidade, desrespeitando o cidadão que planta sua banana até a cota 500 acima do nível do mar. Desrespeitando o Conama, a Fatma, a Aneel, o Ministério das Minas e Energia, os fiscais da Fatma, a câmara de vereadores, o poder publico (que é favorável), o Consorcio Quiriri. Os arqueólogos que trabalharam no local, os geólogos, os engenheiros florestais, os biólogos da ictiologia, os biólogos da fauna, flora, enfim nós que trabalhamos no projeto, fazendo o maior levantamento de dados que aquela região já teve, estamos desrespeitando Corupá.Corupá merece mais respeito.A Corupá energia é o ente do mal e eu sou o salvador. É isto?Neufluss é Rio Novo, matriz da primeira hidrelética que funcionou no município.Sim é isto que queremos resgatar, o conceito que Corupá tem um perfil topográfico que possibilita aproveitar ecologicamente seus recursos. Trazendo benefícios para toda população.E pôs uma usina doméstica sob a queda d’água, para alimentar o bar com eletricidadeO que o cidadão fez nada mais é do que uma micro usina, que não depende de outorga da Aneel, se ela fosse um pouco maior ele cairia no mesmo caso que o nosso. Quer dizer o cidadão é um exemplo a ser seguido. Abrir em cada cachoeira de Corupá uma micro usina para visitação. Enquanto isto nós estamos desrespeitando Corupá.Mas para isso não há incentivos fiscais nem dinheiro fácil do governo brasileiro. Ou seja, para gente como Faust não é muito difícil achar um programa tipo PCH que se pudesse traduzir como “Pequeno Centro do Habitat”, para transformar em negócio a conservação da natureza brasileiraDinheiro fácil? ..................................................Onde?Será que estou no mesmo país em que lia as colunas do senhor na Veja, ou estou delirando?Juros de 17,25% com todas as garantias reais, mais TJLP, sendo que o órgão repassador ficará com 2%, e os riscos de projeto tem que ser bancados pelos investidores.Gostaria de saber onde existe este dinheiro fácil, esta informação, acho que está restrita ao eixo Rio – São Paulo, porque aqui no pequeno mundo esta informação ainda não chegou.Qual incentivo fiscal? Por favor preciso desta informação para que eu possa usá-la, já que todos os custos são nossos, pessoais, declarados em imposto renda.Qual incentivo fiscal? Estou tentando lembrar. Será que é o incentivo para que nós façamos todo inventario e projeto básico sem ter nenhuma garantia real de que seremos nós que faremos a obra, e nem seremos ressarcidos dos custos de levantamentos e estudos, sendo que ainda estes dados estarão disponíveis para toda comunidade.Será que é incentivo para que nós cadastremos toda fauna, flora, arqueologia, hidrologia, interferência antrópica, interferência econômica, e ainda tornemos isto publico, sem ter nada em troca?Ou será que o senhor está se referindo ao preço da energia que será comercializada?Na Europa, as PCHs recebem o chamado selo verde, sendo que em caso de excesso de geração, desliga-se primeiro as térmicas para depois desligar as PCHs, porisso tem preços diferenciados, mesmo porque não conseguem competir com as hidrelétricas maiores. Entendi pelo seu artigo que o choque de desenvolvimento é a propriedade do senhor Evald, com sua micro usina e com seu turismo ecológico.Não quero acreditar que é isto que o senhor pensa de modelo de desenvolvimento para o Brasil, não pode ser que tão conceituado articulista tenha em mente que o melhor para a região de Corupá é a propriedade do senhor Evald. Se assim fosse todas as propriedades seriam transformadas em passeios ecológicos e os turistas aflorariam em profusão, é isto mesmo? Vou citar somente para comentar o que acontece na cidade de Abelardo Luz em Santa Catarina, onde se localiza uma da mais espetaculares quedas d’agua do Rio Chapecó, com uma altura de 100 metros, todo o Rio despenca em duas quedas cinematográficas, a menos de 200 metros da estrada que vai para o Paraná. Para melhor aproveitar o cenário a prefeitura elaborou um grande projeto de condomínio fechado com um hotel de nível internacional, um conjunto de casas de veraneio e de moradia de alto luxo e mais ainda um complexo de visitação com trilhas, piscinas, eco turismo, etc,etc, etc. Como sou um interessado no assunto turismo ecológico fui visitar as quedas.Belíssimas.Mas...........Para almoçar tive que pedir um ovo frito no boteco da beira da estrada. Para visitar as quedas tive que me deslocar por meio de vielas cheias de lixo, com cheiro de urina.O hotel está as moscas, o condomínio não vingou, a portaria está abandonada, os sem terras invadiram parte do parque.Visitei o prefeito e disse a ele que se tivesse uma usina hidrelétrica usando 40% da água do rio, o retorno ambiental e de ICMS para a prefeitura seria da ordem de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões) por ano. Sabe qual a resposta do mandatário?Com este dinheiro o município resolveria o problema dos sem tetos e ajudaria os sem terras, que são o maior problema da região, sempre com conflitos que resultam em morte.O que fazer? NADA. O parque está criado, e não existe caso (que eu conheça) de um ex-parque.Para concluir.Nós da Corupá temos como preocupação inicial não fazer nenhuma agressão ao meio ambiente, a nossa usina, de todas que tenho conhecimento, é a de menor impacto ambiental, tenho certeza que se o senhor conhecesse o projeto e o local de implantação, a sua opinião sofreria real mudança.Não é possível que uma usina que tem 0,45 h a de alagamento, que não vai retirar nenhuma arvore de preservação, que possibilitara a autonomia ao Parque Ecológico, que aumentará o retorno de ICMS do município em 15%, que injetará 28 milhões de reais no município seja considerada um desrespeito ao município.O nosso trabalho é serio, não ficamos 4 anos estudando, para sermos tratados como seres inferiores que só pensam em destruir. O nosso pensamento é o de evoluir, não retroceder ao tempo do extrativismo. Somente o progresso pode trazer melhoria ambiental, o retrocesso causa bananas na cota 500. O empobrecimento da população é que causou a devastação nas encostas, não foi outra causa. O progresso motiva as pessoas a cuidar do meio ambiente, o antropismo da região é que determinou seu atual estagio de coisas, se não levarmos o progresso, e com isto o retorno financeiro para a população, ela fará da maneira que achar melhor para sua sobrevivência. Os palmitos já não existem na região, as araucárias sumiram, não existe nenhuma – repito – não existe nenhuma araucária na parte de montante da usina, (a jusante elas não se desenvolvem por causa da altitude), na parte do alagamento o que mais existe são bambus (muitos, muitos) representando mata que foi retirada.Somos pequenos empresários da região, não somos suíços ricos que com dor na consciência investem em projetos de meio ambiente no terceiro mundo, estamos tentando trabalhar em prol do desenvolvimento sustentado da região. Enquanto isso o senhor nos acusa sem nos ouvir. Eu não o conheço e nunca conversei com o senhor. Seu artigo foi publicado com a maior impunidade do mundo, do alto da sua sabedoria. O senhor não me ouviu, o senhor não me procurou para saber da realidade. Pergunto.Será que o senhor foi ético?Será que o senhor não agiu de má fé?Ou foi apenas arrogância?Eu sou o errado, o que está afrontando a cidade e o senhor que não me procurou e não quis saber da realidade é o ético e o salvador da ecologia e da mata? E isto? E se por um acaso eu estiver com a razão e a hidrelétrica for um bem para a comunidade? Quem vai pagar o meu desgaste perante a sociedade?Gostaria de convidar o senhor para visitar a usina, estarei a disposição, podes marcar a data, sendo que a visita tem que iniciar na parte da manhã para irmos até a barragem, com um passeio ecológico no meio dos pinus muito interessante. Depois almoçamos no melhor restaurante de Corupá (o único) e depois vamos até o desemboque. É necessário tanto tempo porque a parte de montante não tem ligação com a parte de jusante e temos que dar uma grande volta de 50 km.No aguardo de resposta. →
Leia o primeiro capítulo do livro de Pedro da Cunha e Menezes que traz imagens inéditas do Rio de Janeiro nos séculos XVIII e XIX encontradas na Austrália. →
Passando pela Praia de Atafona, vemos uma casa com duas janelas, uma ao lado da outra. Embaixo delas, uma boca desenhada faz com que enxerguemos a fachada da moradia como um rosto simpático. Na pequena porta ao lado do “rosto”, encontramos Ines Vidipo encostada no muro apreciando a praia, enquanto um reggae toca na varanda da casa. Casa essa que é também um bar, o “Casa-bar erosão”, negócio administrado por Dona Ines desde 2020. Muito mais que apenas uma pintura, o “rosto” simpático na parede é um grande simbolismo, já que simpatia é o que não falta ali. “Aqui uma hora é um bar, outra hora é casa. Você chega, você fica à vontade, você faz seu churrasco e canta seu karaokê, do jeitinho que eu acho que tem que ser, que é também o modelo de Atafona. É um diferencial”, conta ela ao falar sobre seu bar.
Ines Vidipo “é uma apaixonada por Atafona”, como se define. Antes de se instalar de fato no distrito, era frequentadora da praia há mais de 10 anos e sempre ia com a família. Adorava ficar acampada em tudo quanto é lugar, só para poder aproveitar cada canto de Atafona. “Até em cima do bar de um amigo eu já acampei”, contou. Desde 2020, ela mora no distrito e não tem pretensão alguma de sair.
Além do bar, Ines trabalha na prefeitura de São João da Barra com crianças com deficiência. Mas todo tempo que tem, prefere estar no seu “Casa-bar”. Antes do Erosão, Ines tinha outro bar conhecido como Birosca, de onde teve que sair por causa do avanço do mar.
Foi em uma segunda-feira de carnaval que ela começou a ver o mar chegando em seu antigo bar. “Eu estava fazendo uma caranguejada no dia, sentada em um banquinho e o pessoal comendo caranguejo na varanda, quando vimos que ia cair. O poste em frente inclinou e caiu. Quando ele caiu, balançou o da varanda. Foi aí que vi e pensei ‘é, agora vai cair tudo aqui’”, contou.
Sem desistir, Ines recomeçou no Casa-Bar Erosão, onde permanece até hoje. Muitos dos utensílios que utiliza no bar são reciclados, vindos de lixos deixados na praia e doações. Orgulhosa, ela mostra o quadro com o nome do bar, desenhado e pintado por amigos, e a parede colorida da varanda, pintada e decorada por uma amiga próxima.
Apesar dos esforços de Ines em manter o seu bar em pé e em boas condições, a erosão tem dado sinais. A parte de trás do local é mantida por algumas telhas que, de alguma forma, impedem a parede de cair. No entanto, na cozinha já existe uma rachadura que Ines vai tentar segurar colocando mais telhas. “Porque se cair aquele lado, cai a casa”, comentou, apreensiva. Ela conta que vêm acompanhando, aos poucos, pequenas rachaduras se formando na casa. “Existe uma umidade que vai penetrando por baixo, é erosão mesmo.”
Sua tarefa agora é “manter [a casa] até onde a natureza deixar”, em suas palavras. “É um pouco tenso, sabe? Só colocando muita música, cantando muito karaoke aqui para a gente não ficar muito apreensivo”, desabafou.
Antes mesmo de toda a nossa conversa, Dona Ines fez questão de mostrar a música que idealizou, com a ajuda da Inteligência Artificial.
“Um mar, a água quentinha, misturada com o rio, é uma delícia, não tem quem não goste daqui. Tem gente que não troca um mar desse aqui nem pelos grandes centros”, disse.
Benilda Nunes é conhecida em Atafona pelo seu quiosque localizado no Pontal do distrito, à beira do Rio Paraíba do Sul, onde antes ficava a foz do rio. Chamada de “Barraca da Benilda”, o estabelecimento recebe moradores, turistas e frequentadores de Atafona que buscam um lazer, comida boa e tranquilidade em frente ao rio. Com a barraca há sete anos, Dona Benilda não esconde o prazer que tem com seu ofício. “Eu gosto muito de trabalhar aqui. Cozinho, faço e vendo de tudo um pouco e me divirto também. Brinco, dou risada, cada hora chega um conhecido, a gente conversa e o dia passa”, disse.
Benilda está em seu terceiro endereço. Na infância, morava na Ilha do Pessanha, até que o mar passou a atingir parte do lugar e os moradores tiveram que sair. Segundo ela, havia em torno de 80 casas na ilha, que era pequena e tinha poucos estabelecimentos, como um colégio e um mercadinho. Foi então que ela, junto de sua família, mudou-se para a Ilha da Convivência, que hoje também deixou de existir, como ilha, devido à ação do mar. As cerca de 300 famílias do local, incluindo a de Benilda, também tiveram que sair porque o mar vinha chegando cada vez mais. Após isso, foi morar em Atafona, recebendo um auxílio financeiro da prefeitura por apenas três meses.
Apesar da Ilha da Convivência ser hoje apenas um extenso areal conectado à Praia de Atafona, Dona Benilda se refere ao lugar como se ainda estivesse separado. “Aqui para mim é melhor ainda, eu venho para cá quase todos os dias. Eu gosto mais daqui do que de Atafona. Eu sempre falo: ‘Eu sou daqui, me criei aqui, eu sou da terra da convivência mesmo. Sou da ilha mesmo’” e continuou: “Aqui era muito bom de viver, para tudo, eu pegava caranguejo, botava uma rede no rio, pegava um peixe, qualquer coisa que você quisesse comer tinha. Tinha gente que vinha dar aula aqui, a gente estudava também.”
Religiosa, a fé para ela é um combustível para viver e seguir trabalhando com o que gosta. “Tenho muita fé em Deus, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Penha. Eu tenho fé”, contou.
Nascida em Campos dos Goytacazes, Marina Leite foi morar na cidade do Rio de Janeiro para estudar jornalismo na ESPM. Apesar da mudança de moradia, o que não mudou na realidade de Marina foi a ida para Atafona em todo verão. “Venho passar todos os verões aqui desde que eu nasci e eu não troco nenhum lugar do mundo para passar meu janeiro”, contou.
Marina cresceu ouvindo as histórias dos avós e do pai sobre Atafona. A família costumava ir todos os verões para a casa da avó de Marina, construção destruída pelo mar no ano que a menina nasceu, em 2002. Foi então que a família comprou outra casa para passar os verões, a algumas ruas atrás de onde o mar está hoje.
Apesar de não lembrar da primeira casa devido a sua idade, a jornalista diz que tem muitas memórias na moradia atual. “Todo mundo fala que aqui é um lugar que traz paz. Eu acho muito isso. Atafona é muito diferente de Campos e do Rio”, disse. “Mas eu acho que o que faz com que as pessoas gostem tanto daqui são as memórias que a gente cria no lugar.”
Em meio a tantas memórias, Marina optou por fazer um documentário sobre Atafona para o seu trabalho de conclusão de curso (TCC) da faculdade. Mas não um longa qualquer: a menina realizou seu trabalho a partir de um documentário que o próprio pai havia feito nos anos 90, junto com o padrinho dela. No longa, Marina mescla cenas atuais de Atafona com takes do filme do pai, além de entrevistas com moradores do distrito. Chamado de “Atafona: as histórias que o mar não leva”, o documentário busca falar do lugar para além da erosão costeira e do avanço do mar. Marina propõe, a partir de seu olhar como veranista do balneário, contar histórias e memórias que, segundo ela, fazem tantas pessoas permanecerem ou voltarem à Atafona.
“Atafona é mais do que um lugar que está sendo engolido pelo mar. Por que esse lugar não pode desaparecer? Por causa da gente, das pessoas que frequentam, das pessoas que moram e que querem que esse lugar continue vivo”, completou, se referindo a um dos motivos pelos quais quis fazer o documentário.
Apesar do avanço do mar está cada vez mais intenso, Marina não pensa em deixar de frequentar Atafona, muito pelo contrário. Segundo ela, pretende morar de vez no distrito quando estiver mais velha. “Eu converso muito isso com meus pais, eles têm essa vontade de quando ficarem mais velhos, virem morar nessa casa em Atafona. Eu também tenho essa vontade. É isso que Atafona traz, você não quer ir embora. Você quer ficar aqui, apesar do mar, você não quer sair”, contou.
Amante da biologia, Kauan Amaral escolheu a área como profissão, fazendo a graduação na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Por um acaso ou não, esse apreço pela natureza é refletido na preocupação que tem com a localidade onde nasceu, cresceu e vive até hoje. Com 19 anos, Kauan sempre morou em Atafona e gosta muito de viver ali. Ele conta que não quer ver o distrito ser destruído por inteiro e ficar apenas em sua imaginação. “É uma coisa que a gente tem que levar a sério, porque se a gente não fizer nada, nós vamos sumir. Vamos perder nossa história”, disse ao citar o relatório da ONU de 2024, o qual aponta que até 2050 o mar vai subir 21 cm em Atafona.
Toda essa preocupação fez com que o menino, junto com mais três amigas, fizessem um trabalho para a escola denunciando a erosão costeira e o avanço do mar no lugar. O projeto “SOS Atafona”, realizado em forma de esquete, recebeu o terceiro lugar em dezembro de 2024 do Festival Transformar Seeduc 2024, iniciativa da Secretaria de Estado de Educação. A premiação ocorreu no centro do Rio de Janeiro, no Teatro Riachuelo. Segundo Kauan, conseguir levar a questão de Atafona para outros lugares, principalmente metrópoles como a cidade carioca, é muito importante para que mais pessoas conheçam e se sensibilizem com a causa. “Quando você é do interior e você vai pro Rio, ninguém conhece a sua história. A gente daqui sabe o que acontece lá no rio, mas será que eles lá sabem o que acontece aqui? Então a gente levou essa pauta, levamos que Atafona precisa de ajuda, contamos nossa história”, disse.
Para Kauan, a melhor parte de viver em Atafona é poder estar perto da natureza, das praias e do ar fresco. “Eu gosto muito de ir lá ver o mar, pra mim não tem coisa melhor. E o que eu amo fazer, acho que é minha coisa favorita, é ir ver o nascer do sol. E no final de semana, eu e meus amigos saímos, a gente gosta de ir à praia, jogar vôlei, futevôlei, e é sempre isso, não tem outra coisa para fazer aqui e mesmo assim a gente gosta muito de sair todo final de semana para isso”, lembrou.
No entanto, Kauan fala do quão ruim é ir à praia e encontrar escombros pelo mar, principalmente os vergalhões ou tijolos. Ele teme que, daqui a um tempo, a praia de Atafona fique completamente imprópria para banho. “A frustração é que ninguém faz nada por isso e a gente tem que ir direto lá para Grussaí [distrito vizinho], tendo aqui uma praia vasta…”, disse, decepcionado. Por isso, para ele, é importante que todos preservem e façam algo pelo distrito, principalmente os jovens.
“Nós, jovens, somos o futuro. Eu acho que se a gente mudar agora, num futuro próximo a gente consegue sim mudar alguma coisa. Também espero que não seja só por aqui, isso tem que ser uma coisa coletiva mundialmente, pq 1% do mundo fazendo uma coisa, é bom, mas não é suficiente. O coletivo é muito importante”, completou.
Antes do andor de Nossa Senhora da Penha chegar aos barcos para o início da procissão fluvial de Atafona, tradição da festa da padroeira, dezenas de fiéis a acompanham pelas ruas do distrito, enquanto rezam e cantam. Com uma blusa escrito “#atafonapedesocorro” nas costas, Patrícia Abud é uma das devotas que seguem Nossa Senhora até os barcos à espera da santa na beira do Rio Paraíba do Sul. Emocionada do início ao fim, Patrícia canta e agradece à padroeira da cidade que frequenta desde criança.
Patrícia é uma das mais de 100 integrantes da associação SOS Atafona, que dialoga com o poder público, organiza manifestações e busca mostrar, para cada vez mais pessoas, o que acontece no distrito. “Cada oportunidade que eu tenho, eu peço: ‘vamos lá ouvir a gente o SOS Atafona, dar voz para gente’. Eu sei que isso causa impacto, a nossa camisa causa impacto, mas não adianta só causar, a gente precisa fazer disso uma voz, para que a gente consiga que nos escutem, que o poder público nos escute”, comentou.
Devota de Nossa Senhora da Penha, Patrícia diz que Nossa Senhora lhe dá força para seguir lutando por Atafona. “Eu acredito muito que tenho uma missão na vida, que é ajudar o outro, e o que eu estou vivendo é essa missão.” Mas essa força espiritual, Patrícia também recebeu quando descobriu um câncer de mama em 2021. Após alguns médicos dizerem que ela não tinha nenhum problema específico, Patrícia mesmo assim não se conformou e, em uma ida a outro profissional, teve o diagnóstico. Hoje, já operada do tumor, ela explica o quanto Nossa Senhora foi importante nesse processo. “Minha médica dizia que era coisa [o câncer] da minha cabeça, porque meus exames recentes não davam nada. E quando eu resolvi ouvir aquela vozinha na minha mente, eu fui procurar e tinha. Eu cheguei ali na igreja e falei: "Nossa Senhora, caminha comigo, eu vou vir aqui sempre na sua festa para agradecer que nunca soltou as minhas mãos", contou, emocionada.
Histórias e memórias é o que não faltam quando as pessoas se referem à Atafona. E com Patrícia não é diferente: ela sonha que seus netos, no futuro, possam também criar muitas memórias no local. “Se eu puder fazer com que eles construam amizades como as que nós temos aqui em Atafona, já valeu tudo. Atafona tem isso. A cada esquina é uma história”. Por isso, ela segue lutando, articulando e torcendo para que algo seja feito no lugar onde criou tantas lembranças e que sonha que seus filhos criem também.
Às 5 e meia da manhã, “Nenéu” aparece ao lado de sua fiel companheira de quatro patas, a Pretinha, para pescar na Praia de Atafona. Com as duas partes de uma prancha quebrada, amarradas uma em cima da outra, o pescador enfrenta as ondas da praia para tentar garantir o seu almoço ou alguma renda para si. Pretinha o observa da areia e espera pacientemente. Na volta, Nenéu retorna com o semblante triste, de quem não conseguiu pescar um mísero peixe.
José Luiz Gonçalves Rosa, conhecido em Atafona como Nenéu, é morador do distrito há 49 anos. Antes de morar na localidade, o pescador residia com a sua família na Ilha da Convivência, onde nasceu em 1974. Com um ano de idade, teve de se mudar para Atafona devido ao avanço do mar na ilha, que fez ele, sua família e outras dezenas de moradores saírem de suas casas.
Em cima das ruínas de sua penúltima casa, que foi derrubada pela defesa civil devido ao risco do avanço do mar, Nenéu aponta para o oceano e diz: “minhas outras casas estão para lá”. Já foram quatro moradias perdidas para o mar. Na última, Nenéu viveu por 15 anos. Emocionado, ele conta que precisa ficar perto do mar, mas não consegue pagar o aluguel de uma casa pela orla. Atualmente, mora em uma antiga kitnet de seu pai em Atafona.
Nenéu então mostra seu barco, instalado em frente às ruínas de sua casa. Comprado em 2020, o pescador investiu o dinheiro que ganhava com a pesca e a confecção de redes e pagou o barco por R$10 mil. No entanto, naquele mesmo ano, a embarcação quebrou enquanto ele pescava em alto mar. Hoje, não tem mais condições para bancar o conserto do barco. Nenéu se emociona ao olhar para a embarcação ali parada, com o sonho de um dia conseguir voltar a pescar com ela.
O vento nordeste sopra forte e é possível ver voando as areias das dunas que ocupam o lugar onde era o quintal de Sônia Ferreira, moradora de Atafona há 27 anos. Ela entra no que resta da área pelas dunas, porque o portão da frente da casa já foi tomado. Enquanto caminha por ali, seu rosto demonstra uma espécie de luto e, ao mesmo tempo, decepção por tudo que vem acontecendo. Uma estátua de Nossa Senhora da Penha, que antes ficava ao lado de algumas plantas no quintal, hoje mora com Dona Sônia na casa da filha, há algumas ruas atrás de onde o mar está.
Nascida em Campos dos Goytacazes, Soninha – como é conhecida no distrito – cresceu aproveitando as férias em Atafona e sempre teve no lugar um refúgio de paz e memórias boas. Em 1978, ela e o marido decidiram construir uma casa de veraneio, onde recebiam toda a família.
Em 2019, o primeiro pedaço da casa de Dona Sônia caiu. Vendo o mar avançar, em 2022 ela decidiu demolir sua casa, antes que a perdesse de vez e inesperadamente. Depois da demolição, Sônia se mudou para a casinha na parte de trás do terreno, onde ficava o caseiro. Até que o mar passou a ameaçar o espaço também e, em outubro de 2023, ela foi morar com a filha, ainda em Atafona.
Quase dois anos depois, as ruínas da casa passaram a ser cada vez mais invadidas por areias, formando dunas no entorno e dentro do que antes era o quintal da casa de Sônia. Algumas de suas coisas ainda estavam na pequena casa de trás, onde viveu até 2023. Para quem vê de fora, pode até ser apenas uma ruína de uma casa. Mas, para ela, continua sendo o lar onde criou seus filhos, reuniu sua família e viveu uma vida.
Soninha conta que, além do mar, a areia também chega com muita força e vai destruindo as coisas. “A areia entra de uma forma muito agressiva, muito forte. Esse vento nordeste que é tão gostoso aqui em Atafona, está muito forte e vem trazendo essa areia. E não tem mais jeito, caiu outro pedaço do muro de anteontem para cá e aí vai. É mais um pedaço, outro pedaço e vai acabando. ” Precisou, então, retirar o quanto antes as suas coisas da casa, principalmente álbuns de fotos e outros objetos de grande valor sentimental.
Mas não foi só pela areia e o mar que a casa de Dona Sônia foi invadida. Com a casinha de trás ainda em pé, e diversos pertences dela ali, a casa passou a ser usada por moradores de rua e usuários de drogas, além de outras pessoas que entraram e roubaram o que ainda restava de móveis e objetos de Sônia. “Eu tinha ali no escritório muitos álbuns, muitas fotos, muitos porta-retratos, muitas coisas. E essas coisas foram jogadas no chão, foram espalhadas, foram pisadas, porta-retratos foram quebrados”, contou.
Em abril de 2025, ela decidiu então, demolir também a casinha de trás e tentar, aos poucos, “virar a página”. Segundo ela, é a fé que a mantém forte para seguir com a vida e continuar lutando pelo distrito.
“Deus e Nossa Senhora precisam e dão muita força para a gente, porque senão a gente não aguenta tanta destruição dos nossos sonhos, dos nossos encontros, da nossa família, dos nossos momentos de alegria. Então eu continuo com as minhas orações para agradecer que estou virando essa página.”, disse.
Deivid Soares nutre um amor pelo mar desde criança e sempre sonhou em ser pescador. Após pressões da mãe, entrou na escola com 8 anos de idade. No primeiro mês de aula, levou falta todos os dias, mesmo sem deixar de ir um dia sequer. Sem entender, perguntou à professora o motivo de seus registros de falta. Foi então que descobriu que seu nome era Deivid, e não Leandro, como sempre foi chamado pela família e por amigos. Em Atafona, é conhecido por todos como o “pescador Leandro que ficou à deriva no mar”.
Era 25 de dezembro de 2024, Leandro sabia que não haveria ninguém pescando na data, mas a vontade de estar no mar era maior. Foi então que, enquanto pescava, caiu no meio da Bacia de Campos. “Eu tentei voltar para o barco, mas ele estava ancorado e tinha um turbilhão de água muito, mas muito forte.” Nadou, nadou e nadou até sua exaustão física, mas não conseguiu chegar ao barco.
Religioso e de muita fé, Leandro conta que a todo momento falava com Deus. “Eu falei assim: ‘Ai, meu Deus, eu não sei aonde que eu vou parar, mas eu entrego minha vida ao Senhor’. Com grande conhecimento do mar, ele sabia que não podia se machucar, se não atrairia os cações, e que se nadasse à favor das águas, chegaria num cinturão de boias da Marinha. Dando o seu máximo para chegar até lá, as águas mudaram o curso.
“Aí veio a experiência de pescador. Eu comecei nadando totalmente para terra, poente. Comecei andando de lado. Nadando para terra, a corrente já era tão grande que me empurrava de lado. Aí eu cheguei perto da boia e subi”, contou.
Já de noite, com muito frio, Leandro sentia as mucosas do nariz queimando, de tanta água salgada que havia entrado. Usava o atrito das mãos para se esquentar. “Eu fiz isso mais algumas vezes na madrugada. Cheguei a pensar que eu ia morrer mesmo de frio. Nem na água eu fiquei tão preocupado. Agora lá eu pensei que ia morrer.”
No dia seguinte, Leandro viu um barco de pesca. Fazia sinal, mas ninguém o via. Depois, mais duas embarcações, e nada. “Chegou uma hora que eu duvidei da minha vida. Eu falei: ‘Será que eu tô vivo mesmo? Será que eu tô vendo eles e eles não tão me vendo’?”. Em Atafona, a esposa de Leandro começou a ficar preocupada pelo não retorno do marido, apesar de saber o quanto ele gostava de ficar no mar. Chamou então uma amiga que trabalhava numa rádio de comunicação para procurar por Leandro.
Duas embarcações foram à procura do pescador. Chegaram ao seu barco, mas não viram nada ali. Leandro estava mais à frente, nas boias. “Pegaram o barco, começaram a rebocar para a terra. E o outro barco veio a favor das águas me procurando. Eu vi ele primeiro do que ele me viu. E gritava: ‘Meu Deus, segue as águas, segue as águas e vai me achar’. Foi então que encontraram o pescador e seguiram para Atafona, onde Leandro foi recebido com muita comemoração.
“Hoje eu venho na igreja e falo: ‘Não tenho nada a pedir, eu só tenho agradecer’”, contou. Sua fé, que já era grande, agora se multiplicou. Leandro faz questão de estar presente em todas as missas. Ele conta que, em geral, os pescadores utilizam-se muito da fé para enfrentar o mar, principalmente com o avanço cada vez maior e o rio perdendo sua força a cada ano.
“Foi uma cena impressionante, parecia um outro World Trade Center.” Foi assim que Aluysio Barbosa se referiu à queda do “Prédio do Julinho”, único edifício que existia em Atafona, em 2008. Ele caminhava com o filho e um amigo pela praia, quando se deparou com o ângulo em que o prédio estava: “era um ângulo maior que a Torre de Pisa”. Foi ali que Aluysio teve a certeza que o prédio iria cair. Ao se afastarem um pouco do local, o edifício inclinado foi puxado por um vergalhão e, conta Aluysio, “ele caiu sobre si mesmo, parece que foi perfeito”. Após a queda, uma nuvem de fumaça e poeira se formou na região. Aluysio segurou nas mãos das crianças e disse “essa poeira vai baixar, não se assustem com o vento e não desgrudem de mim”. No entorno, várias pessoas assistiam a cena e gritavam. “É como se a destruição também tivesse virado um espetáculo em Atafona”, disse ele.
Aluysio Barbosa é jornalista, poeta e amante de Atafona. Nascido em Niterói (RJ), em meados dos anos 70 seus pais se mudaram para Campos dos Goytacazes, quando ele tinha apenas 1 ano. Foi então que todos os verões passaram a ser em Atafona. Até que, não querendo mais ser apenas um veranista, Aluysio decidiu mudar-se para o distrito em 1994 e permaneceu até 2005. Hoje mora em Campos dos Goytacazes, mas continua retornando aos finais de semana e nos verões para o distrito.
A admiração por Atafona é transbordada para os versos de seus poemas, muitos voltados para a vida no distrito. “Atafona é minha grande musa inspiradora”, disse. Aluysio lembra com orgulho de um episódio em que passava pela praia e viu um antigo pescador, que acabara de pegar um robalo. Quando passou por ele, o pescador disse “Aluysio, o poeta de Atafona”. “Esse foi o maior elogio que alguém me fez na vida. Para mim é um título nobiliárquico.”
Dentre diversos poemas, histórias e matérias redigidas, Aluysio lamenta o fato de o avanço do mar está destruindo, aos poucos, um lugar com tamanho apreço dos moradores e frequentadores. “De um ano para o outro você tem mudanças drásticas na geografia física de Atafona. Isso são casos levados, são memórias, são histórias. Aqui não tem esquinas que não tenha uma história, um papo cabeça que você levou, um namoro, um desentendimento”. E completa: “E fisicamente, essas memórias hoje estão submersas pelo mar.”
Jornalista há 30 anos do Grupo Folha, um dos principais veículos de Campos dos Goytacazes, Aluysio também acompanhou o avanço do mar pelas matérias que redigiu ao longo do tempo. Segundo ele, há uma noção de que todo esse processo de destruição em Atafona vem sendo cada vez mais banalizado. “Tanto o poder público municipal, quanto o poder público estadual, quanto união, executivo nas suas três instâncias… Não faltou representante também, parlamentar. Mas nada se reverte em concreto.”
“As pessoas já aceitam como uma coisa inexorável. É só um novo capítulo de uma velha história. Um novo capítulo de uma história muito antiga que se repete sempre”, completou.
“Enquanto existir Atafona, eu estou feliz”, disse Camila Hissa, gerente do Restaurante Ricardinho, um dos mais conhecidos estabelecimentos de Atafona. Moradora do distrito desde que nasceu, Camila deseja permanecer ali até quando não puder mais. Durante sua vida, viu os pais mudarem o restaurante de endereço algumas vezes. Hoje, na administração do atual negócio, Camila reflete sobre as soluções que podem haver para Atafona e torce para que algo seja feito.
Com um filho de 7 anos, Camila pretende continuar o criando em Atafona, para que ele possa também ter boas memórias ao lado da família. Segundo ela, o local tem tudo o que valoriza: ar fresco, paz, amigos, família e sem qualquer discriminação.
“Atafona sempre foi essa coisa meio homogênea, de que todo mundo se mistura e todo mundo é igual. Você vê as vezes o pescador com o desembargador, um médico conversando com pescador e todo mundo é amigo… É um lugar onde as pessoas vem e se sentem à vontade para ser elas mesmas”, contou.
O Restaurante Ricardinho foi inaugurado em 1978 pelos pais de Camila. Localizado no antigo pontal de Atafona, o mar passou a avançar no lugar onde ficava o restaurante e, então, precisaram encontrar outro lugar. No segundo endereço, o negócio não durou uma semana, o mar chegou rápido. Mudaram-se então mais duas vezes e hoje, no quinto endereço, o restaurante já permanece há cerca de 28 anos. “No quarto [endereço], a minha mãe não esperou o mar chegar. Quando ele estava na porta, ela já se mudou e veio para cá. Diferente dos outros locais, que têm histórias de panela sendo carregada, fogão, geladeira, tudo boiando…”, lembrou Camila.
Apesar de não ter vivido todas as mudanças de seus pais, a gerente cresceu ouvindo as histórias e hoje tem noção do quão doloroso é perder um local para o mar, seja uma casa, seja um restaurante. Para ela, toda essa perda não é culpa dos moradores de atafona, e sim resultado de algo muito maior.
“A conversa não é só qual é a solução, porque a solução passa por tudo isso: passa por você mudar o que está sendo feito, repreender quem está fazendo coisa errada… E a gente também tem que cuidar do rio, não é pensar que só o mar está avançando. A gente tem que entender que o rio também está fraco, também está assoreado, então o que a gente precisa fazer? Essa é a pergunta”, disse.
Segundo ela, a sua geração tem mais consciência do que vem acontecendo, diferente da geração de seus pais que mal sabiam do que se tratava e como acontecia. “O que estamos fazendo de verdade para mudar isso? O que to fazendo de diferente? Como posso contribuir? Fico tentando buscar respostas e cada vez mais conhecimento”, completou.