De Rafael ReinickeBiólogoIbirama-SCTomei conhecimento, na última semana, através do site O Eco, edição do dia 21 de agosto, de reportagem assinada pelo jornalista Renan Antunes de Oliveira que continha, também, declarações do professor João de Deus Medeiros, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina acerca da planta Raulinoa echinata.Fiquei indignado com a seqüência de inverdades e com conhecimento parcial do assunto a que foi submetido o ilustre jornalista.O texto, além de ignorar aspectos importantes quanto a localização da ,R. echinata, a extensão do seu habitat e os danos que sofreu e vem sofrendo, sem que nada até hoje fosse feito como medidas mitigadoras, desconsidera a existência de três estudos desenvolvidos num trecho de aproximadamente 60 quilômetros do Rio Itajaí-Açu.Tendo participado diretamente de um desses levantamentos, e ciente dos resultados dos demais, fico indignado pela forma parcial, tendenciosa e maliciosa como o assunto foi tratado pelo articulista. Não por culpa dele mas, provavelmente, pela indução de pessoas mal informadas ou, se informadas, com objetivos ainda não confessados, mas que o tempo se encarregará de revelar.Começo discordando de que a R. echinata seja uma “plantinha insignificante, mirrada, ... sem frutos e meio seca”. Tanto ela é importante que já foi motivo de vários levantamentos e estudos, desde que o cônego Raulino Reitz a descobriu, em meados do século passado. Ela é forte, resiste em ambientes distantes alguns metros da calha do rio, possui frutos e não é seca. O seu poder medicinal também vem sendo pesquisado, inclusive com alguns resultados interessantes. E a produção de mudas vem sendo estudada já há dois anos. O curioso é que, só recentemente, tem havido preocupação de ambientalistas e leigos para “salvar” a espécie.Na Licença Ambiental de Instalação (LAI) concedido pela FATMA à Usina de Salto Pilão, o órgão ambiental levou em consideração os três estudos elaborados a partir de 2002, com a determinação de execução de Programas Ambientais que visem a mitigar possíveis impactos.Não é verdade, também, que nada foi feito pelos investidores de Salto Pilão, e que “não sabem o que fazer com ela”. Houve preocupação sim, como disse acima, com a contratação de três trabalhos de levantamento e avaliação da planta.Salvo engano meu, pela primeira vez, algo de concreto será feito para proteger e aumentar as populações da R. echinata na região do Vale do Itajaí.Assim, no item II das Condicionantes exigidas pela FATMA aos empreendedores de Salto Pilão, constam 24 programas para a execução de medidas de controle e compensação ambiental. Ações voltadas para a R. echinata estão contidas nos Programas de Controle Ambiental das Obras, de Recuperação de Áreas Degradadas, de Salvamento da Flora, de Implantação da Unidade de Conservação, de Implantação da Faixa de Proteção Ciliar e de Educação Ambiental.Estou cansado de ouvir discursos, entrevistas e afirmações, sem que estas se tornassem realidade, e que tenham servido apenas de palanque eleitoral e promoção pessoal. Cabe a nós, biólogos e ambientalistas, fiscalizar o cumprimento das medidas mitigadoras propostas pela FATMA à Usina, e não fazer críticas desconhecendo os estudos realizados e ignorar a agressão já sofrida e em andamento sobre a espécie, fora do âmbito da Usina.Cabem aqui algumas perguntas pertinentes, como:1) Por que, quem hoje está se dizendo preocupado com a sobrevivência da R. echinata, não reagiu antes, quando implantaram a rodovia BR-470 e lançaram gigantes blocos de pedra e construíram gabiões, em cima de populações da planta, destruindo-as irremediavelmente, sem medidas mitigadoras?2) Por que não ocorreu reação ambiental enquanto os quebradores de pedra da Ressacada (em Apiúna) trabalhavam, nestes anos todos, lançando os resíduos graníticos às margens do rio Itajaí, em cima de dezenas de indivíduos da espécie?3) Por que não reagem agora, quando algumas pessoas continuam construindo casas próximas à beira do Rio, na Ressacada, lançando lixo e esgoto sobre espécimes da R. echinata?4) Por que ficaram inertes à poluição do Rio Itajaí Açu, sabendo que o lixo lançado nas suas águas acaba ficando preso na planta, provocando seu apodrecimento?5) Estes críticos já procuraram o DNIT para se inteirar das interferências que a pretendida duplicação da BR 470 trará à espécie, no trecho onde ela vive? Tanto se conhece a Lei da Biodiversidade que os estudos realizados foram feitos em seu respeito, e serviram de subsídios para a proposição de medidas mitigadoras a fim de garantir a sua sobrevivência. Aliás, é necessário rechaçar firmemente a afirmação mentirosa de que o endemismo da espécie ocorre em apenas 14 km do rio Itajaí-Açu. Na realidade, os levantamentos realizados por três equipes técnicas, em momentos diferentes, constataram a presença da espécie em aproximadamente 60 km de margens do rio, entre o Salto Pilão e a ilha Knaessel, passando pelos municípios de Lontras, Ibirama, Apiúna, Ascurra, Rodeio e Indaial. Foram identificadas populações da R. echinata em apenas 6 pontos na área de influência direta da Usina, dentre os 24 detectados na área total estudada. Informo, também, para quem desconhece o tema, que um estudo, desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina, mostrou que as espécies com melhor qualidade genética localizam-se em 4 pontos do rio, em torno do Morro Santa Cruz, em área de difícil acesso e livre de ações predatórias como as que observamos hoje em outras partes do Rio.O texto veiculado no site está sendo encaminhado aos prefeitos atuais e aos que deixaram o cargo na última eleição, para que tomem conhecimento da denúncia insana de que um deles teria patrocinado um “holocausto verde”.Não é verdadeira, também, a afirmação de que em Salto Pilão “o EIA viu a R. echinata, mas não fez caso”. Tanto fez caso que tenho que repetir e lembrar os estudos acima já mencionados. Salto Pilão não irá estrangular a espécie, como disse o articulista: primeiro, porque são poucos os indivíduos atingidos e, em segundo lugar, porque há exemplares sadios em cotas muito acima do nível médio do Rio Itajaí, no meio de pedras e acima destas. Além do mais, o povoamento da espécie, determinado pela FATMA irá adensar, tenho certeza, a presença da espécie ao longo do trecho estudado.Eu acompanharei o cumprimento das medidas mitigadoras constantes do Projeto Básico Ambiental de Salto Pilão. E serei o primeiro a denunciar à imprensa e ao Ministério Público qualquer descumprimento por parte do empreendedor.Outra desinformação: busquei a informação correta e obtive comprovação de que a CELESC nunca participou do Consórcio que obteve a concessão para construir a Usina de Salto Pilão.“A briga pela sobrevivência da Raulinoa” não vinha se dando sob o silêncio da imprensa pois, várias vezes, li matérias produzidas pelos grandes jornais catarinenses, abordando o tema.O trabalho do qual eu participei, juntamente com uma equipe de profissionais, foi feito de forma responsável, sem que os seus integrantes procurassem os recursos da vitrine e da promoção pessoal.Considerando o teor de toda a reportagem, ficou nítida a atribuição de uma postura de irresponsabilidade jornalística, por conter inverdades e acusações levianas a pessoas dos municípios de Apiúna, Ibirama e Lontras, região onde deverá situar-se a Usina de Salto Pilão.São insinuações que não se sustentam em dados legítimos e oficiais, razão pela qual venho repudiar, com veemência, a ignorância sobre os estudos realizados, numa afronta aos profissionais que se dedicaram por meses a esse trabalho.Resposta do autor:1 - Pelo texto, entendi que o biólogo Rafael Reinicke é mais um na luta pela preservação da Raulinoa echinata, mesmo trabalhando como consultor das empresas e fora da FEEC. 2 - Ele viu quatro outras situações de risco à sobrevivência da planta. Louvável sua iniciativa de denunciá-las agora.3 – De fato, a Celesc não faz parte do consórcio. Ela é sócia das empresas que são sócias de Salto Pilão, mas não conseguiu nenhuma cota nela, como queria, porque não conseguiu da AL de SC autorização para mais capitalização – em 2002, desistiu de vários negócios na área de geração. Entretanto, pela relevância do seu papel no Estado, foi o então presidente da Celesc, Francisco Kuster, quem se comprometeu em audiência pública a salvar a planta.4 – Quando eu disse que a árvore não dá fruto quis dizer comestível. Ou alguém aí já sentou sob uma raulinoeira pra comer echinatas?Cordialmente, Renan Antunes de Oliveira →
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Redação ((o))eco
29 de agosto de 2005