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O sentido mudo

O olfato é mais poderoso do que se imagina. Estudo feito pela Universidade de Chicago afirma que as mulheres procuram seu parceiro farejando o cheiro do pai.

8 de abril de 2005 · 20 anos atrás

A importância do olfato no Reino Animal é pra lá de conhecida de todos. Admiramos a capacidade olfativa de certos bichos, como o cachorro, e nos espantamos ao saber que alguma exótica espécie dispensa a visão para se orientar num mundo só de cheiros. E se sai muito bem. Por comparação, o que se conclui é que o olfato humano não é lá essas coisas.

Na verdade, se nos fosse proposto eleger um ranking dos nossos sentidos, é bem provável que o olfato ficasse em último lugar. Não daria nem para a saída ao concorrer com “Os Indispensáveis”: visão, audição, tato e paladar.

O relativo desdém com que tratamos nossa capacidade de cheirar talvez tenha a ver com uma característica única deste sentido: ele é mudo. Nossa percepção olfativa não precisa de intérprete. É guiada por um vocabulário extenso de sensações imediatas, mas não é “diluída” pela linguagem, pelo pensamento ou pela censura.

Um aroma pode ser nostálgico, sedutor ou repugnante, mas não chega a se expressar nessas palavras, porque detecta imagens e emoções poderosas antes que tenhamos tempo para editá-las.

Apesar de ser mudo, ou por isso mesmo, o olfato é duradouro. O que vemos ou ouvimos pode desaparecer rapidamente nos caminhos da memória, mas os cheiros que sentimos permanecem na lembrança. Nada é mais marcante que um cheiro. Um odor pode ser inesperado, momentâneo, fugaz, e mesmo assim nos trazer lembranças da infância, despertar nosso apetite, nos deixar mais ou menos excitados. O cheiro do feijão da sua avó, o cheiro da cantina do colégio, o cheiro da roupa de cama de casa, o cheiro de morango do primeiro batom brilho, o cheiro de esmalte no banheiro da sua mãe, o cheiro de pipoca do cinema…

Quem já não ouviu a lenda de que as mulheres procuram parceiros parecidos com seus pais? E quem sou eu, diante de Freud, para chamar isso de lenda? Não importa. Desta vez, a coisa tornou-se ainda mais primitiva. Um estudo “quase” comprovado pela Universidade de Chicago, publicado no Journal Nature Genetics, afirma que as mulheres farejam o cheiro do pai.

A pesquisa mostra que o cheiro é um fator fundamental na escolha do parceiro ideal e que, geralmente, as mulheres sentem-se mais atraídas por homens com cheiro parecido com o do seu pai. O estudo foi feito com 49 mulheres solteiras. Elas tinham que cheirar diversas camisas com as quais homens haviam dormido por dois dias seguidos. A grande maioria das mulheres preferiu a camisa de homens com cheiro e genética parecidos com os do pai.

Não é de hoje que o cheiro vem sendo estudado como ingrediente fundamental na hora da conquista. Ele está ligado diretamente à eliminação de ferormônios pelo corpo, especialmente no suor, que é, em grande parte, responsável pela atração sexual. Os ferormônios variam de acordo com a genética de cada pessoa e fazem parte da dança de acasalamento de muitas espécies.

Como o cheiro tem poderes que a razão desconhece, ao longo da história o ser humano vem explorando suas utilidades, descobrindo na natureza uma inesgotável fonte de essências e fragrâncias. A arte da perfumaria é tão antiga quanto o fogo. Ervas eram queimadas para perfumar ambientes, maceradas em óleo para serem aplicadas sobre a pele ou usadas como forma de cura.

Hoje em dia, a indústria se vale dessas descobertas para vender produtos. Criam fragrâncias refrescantes, sedutoras, acolhedoras, ousadas, enfim, que despertem sentimentos, traduzam momentos, revelem personalidades e façam “milagres”. A indústria de cosméticos movimenta US$ 100 bilhões ao ano com a venda de perfumes em todo o mundo.

No caso de homens investindo em uma nova conquista, talvez a solução seja simples e certeira: basta descobrir o perfume ou loção usado pelo pai dela.

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