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Tamanho é documento

O homem tem um estranho fascínio pelos seres vivos pequenos. Se forem animais ou plantas diminutas, ele se encanta. Se for um anão, o encanto vira aflição.

7 de julho de 2005 · 20 anos atrás

Quando eu tinha 7 ou 8 anos, meu pai, que sempre foi bem sarcástico, me dizia que se eu fizesse algum tipo de besteira, acabaria me casando com o Tattoo, da série de TV Ilha da Fantasia. Eu chorava como se Tattoo fosse um monstro. Assim como a maioria das mulheres, fui criada para acreditar em príncipes encantados e desde menina, já sabia que Tattoo não era um deles. Por que? Porque apesar de simpático, sensível e esperto, Tattoo era um anão.

O nanismo é uma anomalia de estatura que caracteriza os seres humanos cujas dimensões são muito inferiores à média dos indivíduos da mesma raça, da mesma idade e do mesmo sexo. Não provoca nenhuma diminuição das faculdades intelectuais nem insuficiência sexual. Por mais respeito que eu tenha pelos anões, não posso negar que eles são motivo de chacota. Por estarem fora dos padrões estéticos considerados aceitáveis, os anões precisam virar “malabaristas” para provar que são capazes. É injusto mas é real. Eles fazem sucesso em atividades que estejam relacionadas a bizarrias e palhaçadas.

De onde será que surgiu tamanho preconceito? Se por um lado, o homem dedica tempo à redução do tamanho de outros seres vivos, por outro, ele rejeita a imagem de sua própria miniatura. Por exemplo: Mini-cavalos e mini-pôneis viraram moda nos últimos tempos. São produtos de um mundo freak. O jeito de “reduzir” os bichos, embora varie de método, tem sempre algum grau de perversidade. O bicho não ganha absolutamente nada com isso. No caso dos mini-cavalos, a criação se faz através da seleção de animais que carregam gene de anomalia: são anões.

Tudo que é pequeno, encanta. Menos o anão. Se um ser humano consegue tratar um pincher com carinho e considera um anão uma coisa esquisita, o problema deve ser de identificação e medo.

No site Saúde Plena, encontrei uma reportagem que diz o seguinte: “Apesar de invisíveis para a sociedade e para o IBGE, que não tem nenhuma estatística ou pesquisa sobre essa população, os anões estão se unindo para criar uma comunidade em Belo Horizonte, onde possam se encontrar, conversar sobre suas dificuldades e particularidades”.

Quem está à frente do movimento é uma adolescente de 15 anos, que é anã, mas tem pensamentos que voam alto, muito alto. Patrícia Costa Byrro é assim: desde os 8 anos decidiu que vai ser advogada, “pelo meu jeito de ser, de resolver as coisas, sempre ouvindo os dois lados”, revela essa jovem de 1,10 metro, que agora quer saber onde estão os outros anões da capital, para cadastrá-los e criar a Comunidade Pequenos Guerreiros. Patrícia Byrro é uma adolescente de peito. Apesar dos tribunais e da justiça do país serem semelhantes a um picadeiro, encarar gigantes num julgamento é coisa para quem realmente nasceu com alma de guerreira.

Bom, confesso que a minha fonte de inspiração para escrever esta coluna não foi a história da vida de Patrícia Byrro. Encontrei uma matéria na revista MTV, de junho deste ano, que conta a história do Minikiss, uma banda tributo formada por quatro artistas “verticalmente prejudicados”. O grupo de anões reproduz a performática banda de rock que marcou os anos 80. Se apresentam com play-back e instrumentos de brinquedo (o que talvez seja o motivo do sucesso). Há cinco anos, lotam shows nos Estados Unidos e na Europa. Duvido que eu teria parado para prestar atenção em clones do Kiss de tamanho original. O sujeito que inventou o Minikiss sabe que anões, ainda que pelas razões erradas, exercem sobre nós um certo fascínio.

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