A pesca predatória da lagosta ao longo do litoral brasileiro fez a produção do crustáceo, pelo que dizem os biólogos, ser reduzida em 80% nos últimos dez anos. O principal motivo é a captura ilegal de animais jovens, antes de entrarem em fase reprodutiva. Bom, como nossa cultura, aquela que herdamos dos europeus exploradores, segue a linha do “usar até acabar”, o futuro das lagostas é incerto.
Em viagem à Fortaleza, descobri que 80% das atividades de pesca de lagosta no Nordeste estão paradas. Pelo que dizia o Jornal O Povo, os barcos não conseguem atingir o nível ideal de captura. Ricardo Sabadia, gerente do Núcleo de Pesca e Aqüicultura da Secretaria de Agricultura do Ceará, diz que se a pesca predatória não for controlada, a lagosta vai acabar. Ele explica que a lagosta adulta vive nas profundezas. Quando se reproduz, o crustáceo vem para o raso e “desova” seus filhotes. Como é mais fácil pescar as menores, que ainda não vivem nas profundezas, os pescadores acabam com a população jovem reprodutora da espécie.
O crescimento populacional da lagosta torna-se negativo e portanto, por questões lógicas, a tendência é que a espécie seja extinta (foi o Sergio Abranches que me ensinou a falar com essa propriedade toda).
Francisco José da Silva, que se orgulha de ser um pescador regulamentado, conta que já viu gente chegando com muitas lagostas cheias de ovas. “Eles simplesmente tiravam as ovas e jogavam no mar”, afirma o pescador.
Ao ler o depoimento de Francisco, que perdeu sua principal fonte de renda em função da pesca predatória do crustáceo, me lembrei da época em que a Ilha Grande, um dos maiores espetáculos do litoral fluminense, esbanjava lagostas. Como passei boa parte da minha infância e adolescência velejando por ali, me considero parte de um time de ignorantes famintos que ajudou a exterminar a espécie. Já comi muita lagosta, com ou sem ovas. E pior. Ao chegar em Fortaleza e me deparar com a manchete do Jornal O Povo – A lagosta agoniza – pouco me importei com a sustentabilidade do crustáceo ou com a vida dos pescadores. Tive uma verdadeira crise de “herdeira de exploradores europeus” e senti vontade de correr para um restaurante para ter o prazer de comer as que ainda restassem. O medo do “vai acabar” disparou em mim todos os alarmes e instintos mais primitivos. Farinha pouca, meu pirão primeiro!
Acabei sendo “obrigada” a substituir a lagosta por um caranguejo gigante, que agora é moda em Fortaleza e parece também ser fruto do fundo do mar. Pelo que contam os cearenses, os bichos são pescados a 800 metros de profundidade por uma embarcação especializada. Os 800 metros me parecem coisa para impressionar turista. Pesquisando o assunto, descobri que no Japão, caranguejos gigantes são encontrados entre 50 e 360 metros de profundidade.
Não importa. O bicho tem quase um metro de patas abertas e devorá-lo virou um dos programas badalados de Fortaleza. Bom, enquanto a pesca predatória destes crustáceos centenários ainda não for crime ambiental e não for controlada pelo IBAMA, devora-se caranguejo gigante com a mesma “classe” que se devora lagosta. Todo mundo chupando patinha com cara de felizardo. Inclusive eu. Aliás, me sinto patética quando resolvo avaliar alguns de nossos hábitos arcaicos. Percebo que não faço parte do grupo dos homens “em desenvolvimento”. Fiquei com o grupo dos subdesenvolvidos mesmo.
Para a minha alegria, Raimundo Bonfim, gerente de pesquisa do IBAMA, afirma que a lagosta nunca vai acabar. “O que está acabando é a sustentabilidade através desse crustáceo”, seja lá o que isto quer dizer. Ele acrescenta que o que a natureza produz durante os oito meses de liberação da pesca no ano não é o suficiente para a demanda das embarcações. Para a minha tristeza, ele diz que para impedir que a lagosta entre em extinção, é necessária uma ação conjunta do governo como um todo. Traduzindo, vai continuar faltando lagosta.
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