Quando soube que amigos estavam montando uma agência de notícias focada em meio ambiente, não sabia muito bem o que pensar a respeito. O que aqueles profissionais tão competentes, líderes em suas áreas de atividade, estariam fazendo em um assunto tão secundário como meio ambiente?, eu me perguntava.
Não me neguei a colaborar, mas demorei a superar esse ceticismo. Era um estado de espírito que vinha de uma confortável ignorância dos temas ambientais. A convivência com os modos economicistas de pensar me havia convencido de que o mecanismo de preço eventualmente resolve esses problemas. Em outras palavras, se a sociedade dá valor a um meio ambiente limpo vai ter gente pagando por isso e mais cedo ou mais tarde as coisas se ajustam.
Outro conceito mal digerido que me permitia dormir tranqüilo era a tal curva de Kuznets ambiental, que traduz a idéia de que com o crescimento econômico tudo se resolve. O corolário disso é que a gente deve fazer a economia crescer, e quando estivermos todos ricos resolveremos todos os nossos problemas ambientais.
Pois bem, estou aprendendo que a coisa não é tão simples assim. O passivo ambiental brasileiro é enorme, o ritmo da destruição é avassalador, e as soluções nem sempre são simples. Para não falar do aquecimento global, um desafio (para não dizer desastre) sem precedentes históricos. Ainda não sei se existe um caminho para evitar esse e outros desastres anunciados, mas pelo menos estamos tentando criar consciência de que eles estão aí na esquina.
João Teixeira da Costa
Quando o Marcos me convidou para escrever no O Eco, achei meio estranho. Logo eu, que, quando trabalhamos juntos no site No., dizia para ele que ecologistas eram um bando de “ecochatos”, cheios de pregações e idéias mas sem muitos resultados para mostrar.
Não que eu não goste de verde, de ar puro, águas e praias limpas. Mas dada a minha crença na economia de mercado, achava que a raça humana acabaria se ajeitando, pois se tratava de sua própria sobrevivência. Arbitra daqui, arbitra dali, com petróleo escasso e água restrita seus preços se elevam e a demanda se ajusta.
Porém, após este curto período de observação em que fui obrigada a ler e conviver com o assunto para escrever minhas colunas, minhas idéias mudaram e um conceito se firmou em minha cabeça: como estamos tratando de efeitos de longo prazo e custos diluídos, é muito difícil haver uma solução de mercado. Um exemplo? Todos usamos veículos automotores, uma das principais fontes de poluição do ar em São Paulo, porém não pagamos pelos custos de limpar o ar que poluímos. E como é o lento acúmulo desses gases que leva a efeitos sensíveis, provavelmente vai ser tarde quando resolvermos consertar o problema. Ou seja, passei por uma grande mudança de mentalidade.
Mas não fui só eu que mudei. Assisti neste período à mudança de outros participantes do site. O João, meu marido e co-autor da coluna, nunca foi chegado em mato. Quando íamos para a fazenda de amigos, o máximo de exercício que ele fazia era ir até a piscina — que fica a uns dez metros da casa por caminho calçado. Hoje, o João faz caminhadas pelo meio do mato. Pára para observar os pássaros e as plantas. Compra mil livros sobre meio ambiente e parece genuinamente preocupado com o aquecimento global. Outro que mudou foi o Manoel Francisco, diretor deste site. Uma pessoa pra lá de urbana que hoje volta feliz e cheio de ótimas matérias dos quinze dias que passou perdido no meio da floresta — agüentando até mosquito e calor sem muito reclamar.
Nasci em Belo Horizonte e quando pequena perguntava à minha mãe por que a cidade tinha esse nome. Ela me respondia que já houve um belo horizonte. Espero que O Eco continue mudando a cabeça de pessoas e que os belos horizontes que ainda existem não restem somente no nome de suas cidades.
Flávia Velloso
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