Em coluna recente aqui em O Eco, Marc Dourojeanni mostrou como é complicado, mesmo para o mais dedicado ecologista, manter uma atitude ecologicamente correta na sua rotina diária. De fato, como bem mostra Marc, banhos excessivamente longos e luzes desnessariamente acesas são apenas dois exemplos de costumes arraigados difíceis de mudar.
Não é diferente a situação dos Parques Nacionais. Em tese, teriam que ser templos da educação ambiental, Seu manejo, deveria ensinar pelo exemplo, fazendo uso exclusivo das melhores práticas ambientais. Ao visitar uma Unidade de Conservação, o turista deveria ser induzido a repensar seus próprios atos e costumes, através do contato direto não impactante, ou na pior das hipóteses sustentável, com a natureza.
Infelizmente, mundo afora e no Brasil em particular, essa não é a regra. Há, todavia, alguns poucos exemplos onde essa filosofia foi adotada com sucesso e que deveriam servir de modelo para o resto dos Parques.
No Parque Nacional da Montanha da Mesa, na África do Sul, 700 quilômetros de trilhas estão sendo recuperados. Pontes estão sendo fabricadas, degraus construídos e abrigos para montanhistas levantados. Embora tenha sido estabelecido para proteger os fynbos- flores endêmicas do menor reino floral do mundo-, até recentemente vastas áreas do Parque eram remanescentes de florestas comerciais de pinus e eucaliptos. É exatamente a madeira dessas árvores que está sendo serrada e aplainada para uso nas trilhas e alojamentos do Parque. Hoje, antes de dormir em um dos abrigos para excursionistas da Montanha da Mesa, o turista vai escutar uma preleção sobre espécies exóticas e seu impacto em ecossistemas frágeis. Só depois, vai poder dormir o sono dos justos em sua cama de eucalipto.
Mas há esperança. Anos atrás, um singelo guia ecoturístico, treinado pelo WWF na Chapada dos Veadeiros, acompanhava solene cerimônia de inauguração no Parque. Eis que um diretor de órgão ambiental, fumante inveterado, chamado a discursar, piparoteia seu cigarro ao sabor do vento. Mal a guimba, toca a relva, o condutor de visitantes a apanha e a devolve a seu dono, não sem antes passar o seu sermão: Doutor, guarde o seu cigarro, não suje o Parque não que ele não seu, nem meu. Ele é de todo o povo brasileiro.
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