O ano de 2005 que acaba de terminar foi marcado por uma série de acontecimentos brutais e dignos de envergonhar a humanidade. No Iraque, tropas americanas e britânicas continuaram a matar os nativos do Iraque. Segundo cálculos de George W. Bush, até agora 30 mil deles já pereceram desde o início da guerra. Na Austrália, violência racista prejudicou as comemorações do réveillon. No Oriente Médio, israelenses e palestinos continuam às turras, nos Estados Unidos a morte de imigrantes ilegais abatidos a tiros por vigilantes na fronteira continua acontecendo à luz do dia com a omissão das autoridades. Todos esses fatos apontam para um futuro bastante tenebroso para a diversidade biológica do planeta.
Como se sabe, por mais que muitas vezes nos esqueçamos disso, o Homem é animal localizado no topo da cadeia alimentar. Aliás, dado o estado tecnológico que alcançou, o Homem parece sentar indiscutivelmente sozinho no ápice dessa cadeia. Mas, assim como não há uma só subespécie de elefantes, ou de gorilas, ou de cavalos, também são muitos os tipos de homem. Há os negros, os indianos, os árabes, os caucasóides, os orientais, os polinésios, os índios brasileiros e assim por diante. Isso para não falar de sub-divisões. Afinal, entre caucasóides, os suecos e os italianos são iguais?
Há também aquele homem que não sabemos muito bem qualificar em nenhuma das subespécies. Como brasileiro de boa cepa, com ancestrais nos quatro cantos do mundo, sou um desses. Assim como eu, há hoje no mundo um vasto grupo dos sem-raça, que não são mais brancos ou pretos ou indianos, mas identificam-se apenas pelo conceito político da nacionalidade.
Isso é o resultado de séculos de migrações. Antes, as espécies e subespécies humanas viviam confinadas em determinados lugares geográficos. Os eslavos na Rússia e nos balcãs, os negros na África, os anglo-saxões na Inglaterra, os aborígenes na Austrália e assim por diante. Desde que o mundo é mundo, contudo, os homens sempre brigaram por território, matando-se por solo arável, água e abundância de caça. Os franceses que hoje pedem passaporte aos árabes que querem visitar sua terra não são puros descendentes de Versingetorix. São o resultado da mistura dos Francos com os Italianos que os invadiram durante os longos séculos de vigência do Império Romano. Analogamente, a espécie de portugueses que invadiu o Brasil e dizimou os nativos de nossa terra natal, não eram os reais lusos de Viriato, mas uma nova espécie, resultado da injeção genética aplicada por anos de colonização árabe, latino-romana e germânica, com as inavões godas.
Australianos invasores
Assim, os australianos que saem as ruas para bater nos libaneses, invasores de suas terras são, na verdade, tão invasores quanto eles. Talvez por serem uma espécie agressiva, adaptaram-se muito bem e praticamente extinguiram os endêmicos aborígenes. Sua adaptação ao novo ecossistema foi tão boa que mudaram o nome da terra e auto batizaram-se australianos. De fato a espécie naturalizou-se muito bem e, ao olho leigo, até parece nativa. Não é. Gata que pare a ninhada dentro de um forno, continua a parir gatinhos.
O desastre ecológico da Austrália repetiu-se com intensidades variadas nos Estados Unidos, onde a espécie endêmica está hoje “protegida em reservas indígenas”, Canadá, Argentina, Brasil, Caribe e em praticamente todo o mundo novo.
De fato, em muitos desses países, as espécies nativas endêmicas estão extintas (ou quase), como no caso da Tasmânia e do Uruguai, ou estão tão impactadas pela perda de habitat e de valores culturais como religião e língua que não se pode dizer mais que vivem em seu estado natural. Faltou manejo?
Na verdade, manejo tampouco parece ser a solução. A tentativa de se impedir a mistura de espécies, levada a cabo na África do Sul do Apartheid, gerou um sistema que privilegiou a espécie invasora. Por outro lado, as políticas restritivas de imigração na Europa têm ocasionado cenas de horror como a que vimos recentemente na televisão, com os marroquinos tentando entrar nos enclaves espanhóis de Ceuta e Mellila.
Outra medida de manejo tentada que não gerou o efeito desejado foi a da reintrodução de espécies. O primeiro a tentar foi o presidente americano Monroe (ele mesmo um exótico anglo-saxão). Reenviou para a África escravos libertos para ali fundar uma nação livre entre gente da sua mesma raça. Assim foi criada a Libéria, além da Etiópia único país do continente a jamais ser colonizado. Faltou, entretanto, um estudo apurado dos impactos da reintrodução. Seriam os reintroduzidos da mesma subespécie dos espécimes locais? Ao que tudo indica não. O resultado foi que o reintroduzidos formaram um grupo invasor coeso que até hoje domina a política e a economia locais.
Outra reintrodução mais recente foi igualmente desastrosa, mas não vou me deter sobre ela. Basta ligar a televisão e acompanhar o noticiário sobre a Palestina para ver o resultado do manejo que levou os judeus de volta à terra sionista.
Pois é. Complicado, não? Sabemos, hoje, que a maior ameaça à biodiversidade do Planeta, e agora não estou mais me referindo ao Ser Humano, é a perda de habitat. Logo em seguida, contudo, vem a extinção de espécies nativas endêmicas pela ação de espécies invasoras agressivas. Partindo da premissa de que você, leitor, de sobrenome Ferreira, Lutz, Dourojeanni, Aldé, Marini ou até mesmo Silva, é tão exótico e INVASOR quanto eu, será que o problema tem solução?
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