Na coluna “Palavras a Escalar”, mencionei diversas referências de livros que oferecem ao leitor interessantes histórias de viagens e aventuras, contadas por alguns nomes conhecidos no montanhismo e no trekking. Para diversificar, decidi trazer também revisões de alguns livros sobre mergulho e vela. Como não tive a oportunidade de lê-los e como não queria simplesmente recomendar livros como uma estante de livraria, pedi ajuda para quem conhece o assunto a fundo. Seguem então, as sugestões indicadas e comentadas por Sandro Murta, um dos sócios do curso de mergulho InAcqua.
Apesar do nome, o livro “O Último Mergulho”, de Bernie Chowdury, mergulho é o primeiro da lista a ser recomendado para quem está começando no esporte. Conta a história dos atletas especializados em mergulhos de alto risco, como aqueles que exploram naufrágios. O livro aborda a trajetória de dois mergulhadores, pai e filho, que começaram praticando mergulho em cavernas e terminaram morrendo em um acidente durante a exploração do naufrágio de um submarino alemão da Segunda Guerra, encontrado próximo à costa dos Estados Unidos. “Este livro é um marco para quem começa a mergulhar, pois mostra como pode ser perigoso quando você quer ir mais adiante”, conta Murta. Ela adverte também que apesar de ser um pouco depressivo – já que relata a morte de muitos mergulhadores, além dos dois principais – o livro é muito interessante, pois conta como surgiram várias técnicas que hoje são utilizadas para aumentar a segurança no mergulho.
Para quem gostar do “O Último Mergulho”, é interessante conferir também o livro “Mergulho na Escuridão”, de Robert Kurson. A história conta a saga de uma equipe de mergulhadores que se une em uma aventura para desvendar o mistério do paradeiro do tal submarino alemão da Segunda Guerra, que acreditava-se ter afundado no mar Mediterrâneo, mas que na verdade naufragou próximo à costa dos EUA. Os mergulhadores que tiveram a história contada em “O Último Mergulho”, pai e filho Chris e Chrissy Rouse, faziam parte desta equipe e morreram mergulhando neste naufrágio. Este livro tem um foco menos técnico (no que diz respeito à segurança no mergulho) e mais romanceado, pois, diferente do primeiro, ele se propõe a contar a história da descoberta ao acaso do submarino e das sucessivas surpresas em torno do mistério de sua identidade. O livro mostra como a equipe conseguiu finalmente desvendar o segredo do submarino alemão e de sua tripulação, apesar dos acidentes que aconteceram.
“Conhecer o mergulho não é apenas dominar a técnica do esporte, mas também o meio ambiente em que ele se realiza”, comenta Murta. Por isso, ele recomenda dois guias – de peixes e tubarões do Brasil – do autor Marcelo Szpilman, produzidos e editados pelo Instituto Ecológico Aqualung. São respectivamente, “Peixes Marinhos do Brasil: Guia Prático de Identificação” e “Tubarões no Brasil: Guia Prático de Identificação”. Segundo o professor de mergulho, os dois são livros muito bons, com ótimas ilustrações e que trazem muitas informações sobre a fauna marinha da costa brasileira, inclusive sob o ponto de vista ecológico, relatando as ameaças de extinção, fraquezas das espécies, problemas com a caça predatória, dentre outras informações.
Continuando no mesmo ambiente, mas subindo um pouco para a superfície onde se realizam os esportes de vela, surge o livro “Uma Viagem para Loucos”, de Peter Nichols. Apesar de não ser praticante desta atividade, fiquei muito empolgada e curiosa em conhecer melhor a história da primeira regata solo e sem escalas de volta ao mundo, realizada em 1968. Nela, nove competidores se fizeram ao mar. Situações inusitadas aconteceram, desde um competidor que fez uma viagem transcendental de auto-conhecimento, até outro que criou uma enorme farsa e terminou morrendo de forma misteriosa. Para Murta, o livro é “muito bom, principalmente a história de um dos competidores, um francês chamado Bernard Moitessier, que se encontrou durante a regata, de tal forma, que abandonou a competição para continuar velejando ao redor do mundo”. Segundo ele, além de bem escrito, conta tudo de forma organizada e bem clara, evitando ao máximo os termos técnicos de vela – “claro que não dá para evitar tudo” – e oferece ainda um prefácio escrito por Lars Grael. Esse entrou na minha wish list de livros.
Para concluir essas sugestões, nada melhor que um livro com muitas fotos e muitas imagens bonitas como o “Expedição Rota Austral”, de Beto Pandiani e Gui Von Schmidt. Ele relata a expedição de dois brasileiros que foram do Chile até o Rio de Janeiro, em dois Hobie Cats, cruzando o Cabo Horn, um dos pontos mais perigosos do mundo para embarcações. “Esse é um livro tipo documentário, mostrando todos os passos da expedição. A história da viagem é bem interessante pelo contraste da fragilidade dos barcos com a hostilidade dos mares daquelas latitudes”, explica.
Bem, praticantes de esportes de mergulho, vela ou mesmo de nenhum dos dois, já conhecem os belíssimos relatos de Amyr Klink de suas viagens. Por isso, não quis entrar em detalhes sobre seus livros. Mas para refrescar a memória, Amyr escreveu três livros principais: “Cem Dias Entre Céu e Mar”, que conta a travessia do Atlântico num barco a remo, sua primeira grande aventura; “Parati, Entre Dois Pólos”, suas primeiras viagens para a Antárdida no Paratii; e “Mar Sem Fim”, que conta a circunavegação da Antártida, que ele foi o primeiro a concluir, também com o Paratii. Mais inspiração do que isso, impossível.
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