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Acidentes acontecem

Amadorismo ou falta de cuidado. Seja qual for o motivo, acidentes na prática de esportes outdoor acontecem, e podem ser evitados com informação e cuidado.

26 de agosto de 2005 · 19 anos atrás

O que existe em comum entre a insolação e desidratação de um montanhista pendurado em uma pedra a 700 metros de altura, um banhista com o rosto cortado por cordas de kite surf e alterações neurológicas depois de um mergulho amador em águas paradisíacas? Esses são alguns acidentes reais que aconteceram durante a prática dos respectivos esportes outdoor e cuja divulgação pode evitar que outras pessoas cometam os mesmo erros. Grande parte dos praticantes não sabe, mas existem relatórios de acidentes disponíveis para pesquisa justamente com esse objetivo.

Hoje em dia, o maior número de acidentes ocorre ou na área comercial ou por curiosidade. O primeiro caso se deve às empresas que se multiplicam cada vez mais, oferecendo atrações “radicais” instantâneas para pessoas que não têm experiência nos esportes e se aventuram sem obterem nesse pacote as instruções adequadas para a prática, mesmo se esporádica. Já os atletas curiosos normalmente são aqueles empolgados, que resolvem incorporar um personagem de filme de ação e acabam se metendo em alguma furada.

Para evitar os problemas característicos de ambos os casos, o ideal, para alguém que queira iniciar ou simplesmente experimentar um esporte “de risco”, é buscar os clubes tradicionais ou os cursos homologados pelas respectivas instituições representativas (federações e associações regionais, nacionais ou internacionais). Prova disso é o reduzido índice de acidentes entre os praticantes, mesmo os amadores, vinculados a essas instituições que, por sua vez, vêm se movimentando cada vez mais para estruturar e organizar os esportes de aventura.

Uma dessas iniciativas que poucos conhecem é a compilação de acidentes em relatórios específicos que tem dois objetivos principais: de um lado, ajudar principalmente os guias e as instituições a estudar as causas dos acidentes, visando identificar novas situações e propor metodologias adequadas para evitar sua recorrência. Para os praticantes como um todo, os relatórios fornecem informações importantes para o aprendizado de como evitar acidentes. Esses relatórios usualmente fornecem a descrição do caso, os comentários de quem reportou (como testemunha ativa ou como vítima da situação) e uma análise detalhada feita por profissionais da área, depois de estudarem o caso.

É curioso observar que vários acidentes ocorrem em situações de rotina do esporte e envolvem procedimentos que todos já fizeram e com os quais eventualmente se descuidaram alguma vez, como os pequenos ajustes fundamentais de equipamentos, sem os quais uma fatalidade pode acontecer. E quanto mais familiarizado com essa rotina, com os procedimentos e com a prática do esporte, mais atento o atleta deve ficar, pois é justamente pelo costume que os erros passam despercebidos. Lembro de ter escutado uma vez, enquanto observava um reconhecido escalador em uma empreitada esquisita, a seguinte frase: “A maioria dos acidentes acontece entre os muito amadores ou entre os melhores, que às vezes têm autoconfiança demais e esquecem da importância daquelas partes chatas da segurança que podem salvar suas vidas”.

E os relatórios de acidentes estão aí para lembrar a todos que imprevistos e erros acontecem sim e que temos que aprender com eles. O problema é que para o relatório acontecer, não basta a iniciativa dos clubes e instituições, pois sem a proatividade dos atletas em reportar os acidentes, não é possível fazer muita coisa. Entretanto, é comum acharmos que acidente só tem relevância quanto acaba em fatalidade. Nada disso! No site Segurança em Montanha está disponível a classificação das possíveis situações, divididas em: comportamento de risco, que é a prática do esporte em si; quase acidente; acidente relatável; acidente sério; incapacitante e fatalidade. Ou seja, mesmo um caso não muito sério, mas que acabe em escoriações, desidratação, pequenas fraturas, ou seja, algo de rápida solução, já é suficiente para ser reportado às instituições responsáveis.

Dizem que o homem é o único animal que cai no mesmo buraco duas vezes, e é por esse motivo que é importante reportar esse tipo de casualidade e tentar aprender não só com os próprios erros, mas com o dos outros. Não hesite em investir cinco minutos do seu tempo enviando o relato de um acidente vivido por você. Colaborar com os relatórios vai ajudar, e muito, na evolução e estruturação no esporte.

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