Já se foi o tempo em que questões sócio-ambientais eram resolvidas unicamente por um setor da sociedade. Até recentemente era comum se pensar que questões sociais e ambientais que afetam a coletividade podiam ser resolvidas pelos governos. A ineficiência dos órgãos públicos, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento, tem sido comum e com isso os desafios tornam-se maiores e mais evidentes seja em qual área for.
O histórico dessa dependência pode ilustrar como a expectativa por determinados serviços levou à tendência predominante de se deixar grande parte das decisões e responsabilidades a cargo dos governos. Segundo Marcel Burnstyn, nos países desenvolvidos uma quantidade maior de pessoas teve acesso à educação em decorrência da industrialização que exigia mão de obra de mais alto nível. Esse fator foi decisivo para forçar melhorias no sistema da educação, e reforçou o papel do Estado como provedor (Welfare State ou Estado-Providência). O povo educado passou a demandar serviços melhores e mais eficientes do governo. Os governantes, no entanto, nem sempre dispostos a compartilhar o controle das decisões, muitas vezes não correspondiam às expectativas dos cidadãos mais exigentes. Com isso, não é incomum observar conflitos e tensões constantes.
Nos países em desenvolvimento, onde a educação é menos privilegiada, a autoridade do governo por vezes se torna soberana. Sem a participação da sociedade, as decisões raramente refletem as reais necessidades sócio-ambientais internas, e são comuns as tentativas de manipulação da opinião pública. Para piorar, os interesses externos dos países mais ricos sobre os menos favorecidos muitas vezes predominam, assim como prioridades pessoais sobre as coletivas.
Seja pela oscilação do poder nas nações desenvolvidas, seja pela ineficiência dos serviços oferecidos naquelas em desenvolvimento, o fato é que os governos não têm dado conta de desempenharem o papel de provedores com eficiência e qualidade. Essa realidade tornou-se ainda mais evidente com a intensificação das crises sócio-ambientais que incluem a acentuação entre ricos e pobres dentro dos países e entre países, e as perdas ambientais cada vez mais evidentes.
Neste cenário, pessoas e instituições passaram a buscar meios de resolver ou minimizar problemas, embarcando em ousadias, na maioria das vezes criativas, para sanar o inaceitável. Surgiram, assim, organizações não-governamentais (ONGs) em todos os cantos do mundo com objetivos variados, visando suprir necessidades sócio-ambientais também diversas.
Por muito tempo, as ONGs trabalharam sós, lembrando Dom Quixotes com ininterruptas batalhas contra os ventos da injustiça e outros males, inclusive o da insustentabilidade ambiental. A esperança de mudanças e os resultados que emergiram de muitas frentes indicaram que o caminho do poder nas mãos de muitos era bem mais promissor do que quando este é controlado por poucos. Com o passar do tempo, as ONGs se profissionalizaram e adotaram práticas que as podiam levar a uma maior eficiência.
Hoje tem sido comum empresas grandes como a Petrobras (no âmbito ambiental o Programa Petrobras Ambiental) ou a Vale do Rio Doce assumem responsabilidades adicionais contribuindo com um Brasil e um mundo melhor. Quase todos os bancos têm fundações ou programas de apoio a questões que escolhem como bandeiras. No caso do Real ABN AMRO, as ousadias foram muitas, chegando a descontinuar clientes que causam danos sociais ou ambientais. A grata surpresa é que tal medida acabou atraindo clientes fortes, ávidos por um mundo mais ético.
Empresas estrangeiras muitas vezes se instalam nos países em desenvolvimento e trazem das matrizes a tradição filantrópica, comum em seus países de origem. Nem sempre esse hábito não perdura fora das matrizes, o que é lastimável. Quando assumem responsabilidades, essas muitas vezes dão continuidade às temáticas escolhidas nas matrizes, mas algumas serviram de inspiração a outras.
Todavia, certas organizações brasileiras têm dado exemplos visionários em contribuições sócio-ambientais à sociedade. Este é o caso do Grupo Martins, da Alpargatas, da Natura, do Boticário e tantas outras. Seus líderes assumem cada vez mais o papel de “educadores” de um segmento importante na transformação de realidades desafiadoras. Quando se juntam com ONGs então, os efeitos parecem ser multiplicados exponencialmente, pois eficácia e objetividade se somam à paixão e ao direcionamento a ações transformadoras. A mescla de se ter um pé na realidade e outro na objetividade parece ampliar a eficácia de se chegar aos resultados almejados, modelo este que tem rendido excelentes parcerias com projetos que fazem diferenças.
É interessante notar que o envolvimento tem contagiado grupos diversos. Por exemplo, no final de novembro, em um evento intitulado Ecoswim mais de 500 nadadores amadores com idade de 4 a 80 anos nadaram em prol de uma causa. Idealizado por estudantes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli – USP), o evento teve o objetivo de contribuir para chamar a atenção para a importância da conservação ambiental, e promover o reflorestamento de 10.000 m² da Mata Atlântica em projeto de seqüestro de carbono realizado pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, possível devido aos recursos das matrículas dos nadadores. Cada participante recebeu uma muda de ipê para plantio, uma forma de também valorizar a beleza dessa espécie. Os benefícios de uma iniciativa como essa vai além de promover a saúde dos participantes; contribui para a saúde do planeta.
Obs.: Quase todas as empresas mencionadas são parceiras ou apoiadoras de projetos do IPÊ. As que ainda não o são têm possibilidades de se tornarem algum dia…
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