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Sacola plástica: a vilã da história?

Há consenso de que o descarte de sacolas plásticas de forma incorreta é o grande problema. É preciso urgentemente adotar a política de reduzir, reutilizar e reciclar.

25 de março de 2008 · 17 anos atrás

O evento comemorativo ao Dia do Consumidor “Sacolas plásticas: a vilã da história?”, realizado na sede do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) no Rio de Janeiro reuniu diversos especialistas do setor para debater sobre as polêmicas sacolas plásticas distribuídas nos mercados brasileiros.

O debate começou com o diretor superintendente do INP (Instituto Nacional do Plástico), Paulo Dacolina, que expôs o “Programa de Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas”, uma parceria com a ABIEF (Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis) e a Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, envolvendo redes de varejo, órgãos de defesa do consumidor, o governo e ONGs. O programa, iniciado em 2007, tem como objetivo aumentar a resistência das sacolas (espessura mínima de 0,027 milímetros), visando reduzir o seu consumo em até 30% e o seu uso em excesso. A idéia é acabar com a necessidade de botar uma sacola dentro da outra para transportar, por exemplo, uma garrafa de dois litros de refrigerante. Além disso, o programa também busca estimular a utilização de sacolas plásticas de uso contínuo e investir em educação sobre consumo responsável, coleta seletiva e reciclagem mecânica e energética. As sacolas que estiverem em conformidade com a norma técnica, ganharão um selo certificando a qualidade do produto.

O presidente da ABIEF, Rogério Mani, que falou sobre os dados de uma pesquisa do Ibope realizada em São Paulo, que entrevistou 600 mulheres entre 18 e 55 anos, das classes B, C e D. A pesquisa identificou que apenas 1% delas transportam suas compras em sacolas de papel, 71% das entrevistadas usam sacolas plásticas e destas, 100% reutilizam as sacolas plásticas para descarte do lixo doméstico.

Mani reforçou ainda a importância do programa de certificação das sacolas plásticas para aumentar a sua resistência, uma vez que, no atual estado de fragilidade, estima-se que são consumidas 3 vezes mais unidades do que seria necessário para transportar as mesmas mercadorias.

A empolgante apresentação do presidente da Plastivida, Francisco de Assis Esmeraldo, destacou a importância dos plásticos na vida moderna e de se promover a sua utilização ambientalmente correta.

Ele enfatizou que antes de qualquer discussão a respeito das sacolas, é preciso estar com o conceito bem definido de degradação dos plásticos. Ao se decomporem, os plásticos se transformam em pequenas partículas que podem ou não se biodegradar (ou seja, serem decompostos por microorganismos). Para que isso ocorra, é preciso haver as condições certas de temperatura, pressão, oxigênio, luz, umidade etc. As normas internacionais estabelecem que para um produto ser classificado como biodegradável é preciso que ele se biodegrade em 180 dias e que 60% (norma americana) ou 90% (norma européia) do carbono presente no produto se transforme em CO2, água e material inerte. Já os plásticos oxi-biodegradáveis, explica, se transformariam em pó através do mecanismo de oxidação produzindo uma poluição invisível na atmosfera, no solo e na água, e não poderiam ser reciclados.

Francisco ainda destacou que, ao contrário do que se afirma com freqüência na mídia, o único país que até agora determinou a medida drástica de banir as sacolas plásticas foi Bangladesh. Outros países como EUA, Alemanha e Inglaterra apenas estabeleceram leis que inibem ou reduzem o seu consumo.

Ao final, ele apresentou o programa Ponto de Entrega Voluntária Monitorado (PEV-M) da prefeitura de São Paulo em parceria com a Plastivida, para a coleta seletiva em vias públicas com a instalação de 1.000 contêineres na capital paulista.

O apaixonado discurso da presidente do Conselho Diretor do Movimento Nacional das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais, Lúcia Pacífico (orgulhosa de representar o termômetro da economia doméstica) foi enfático na importância do continuísmo dos programas de educação ambiental, mencionando que as campanhas são apenas medidas pontuais e momentâneas. Lúcia acredita que para as donas de casa aceitem pagar pelas sacolas plásticas os mercados terão que compensar no preço dos produtos, já que ganharão ou reduzirão seus custos com a venda das sacolas.

A dona de casa mineira disse ainda que evita o plástico, seguindo o ensinamento de sua mãe: “plástico é coisa de americano” e concluiu dizendo que “é hora de acabar com o desperdício, a natureza agradece”.

Para fechar o seminário, o descontraído representante da Recicloteca – Centro de Informações sobre Reciclagem e Meio Ambiente, Eduardo Bernhard, criticou um dos maiores gargalos da reciclagem no Brasil (a falta de sistemas de coleta seletiva em todo o país) e destacou a sua importância para o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos. “Nem 10% dos municípios têm programas de coleta e na maioria dos casos o sistema não abrange todo o município”.

A mensagem dos cinco palestrantes é a defesa uso e o consumo consciente de sacolas plásticas. Ela em si não é a vilã da história. A culpa é do descarte de forma incorreta. Também enfatizaram a importância da aplicação dos 3Rs seguindo a importância pela ordem apresentada: primeiro reduzir o consumo, segundo reutilizar os produtos e terceiro reciclar. Mas para vencer esse desafio, é preciso que as autoridades responsáveis implementem sistemas de coleta seletiva e incentivem a reciclagem.

Fica aqui o primeiro dever de casa para os leitores: vamos fazer a nossa parte e reduzir o consumo já!

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