O alerta de que a Europa precisa intensificar ainda mais as ações de adaptação aos impactos das mudanças climáticas foi dado no final de setembro pela União Européia. Aumento da temperatura, mudança na precipitação, elevação do nível do mar, derretimento dos glaciares são alguns dos desafios com os quais a Europa já está tendo que lidar, segundo o relatório Os impactos da mudança climática da Europa, elaborado pela Agência Européia do Ambiente, a Organização Mundial de Saúde/Europa e o Centro Comum de Investigação da Comissão Européia.
A idéia desse trabalho é traçar uma estratégia européia de adaptação à mudança do clima, acompanhando o desenvolvimento e a implantação desses planos em cada país apresentado no relatório. Com o aumento do monitoramento das ações realizadas em cada lugar, o estudo busca reunir e obter mais informações sobre os impactos observados a partir de cenários sócio-econômicos mais detalhados, maiores informações sobre vulnerabilidade, adaptação e os custos dessas ações e, assim, melhorar o mecanismo de troca de informações.
Sendo assim, será possível identificar com mais precisão os setores e as regiões mais vulneráveis à mudança do clima e com maior necessidade de adaptação e monitoramento.
Destaques do relatório
O relatório traça uma série de consequências esperadas, incluindo riscos de inundações e de secas, perda de biodiversidade, ameaças para a saúde humana e perdas em diversos setores como energia, transporte, florestas, agricultura e turismo. Ao todo, foram apresentados cerca de 40 indicadores.
O estudo conclui que já tivemos um aumento de quase 0,8°C na temperatura média global com relação aos níveis pré-industriais e destaca a necessidade urgente de se estabilizar a temperatura em no máximo 2ºC acima dos níveis pré-industriais, para evitar maiores impactos irreversíveis na sociedade e no ecossistema.
Outros indicadores apresentados no relatório também merecem destaque. Dentre eles o índice de precipitação anual na Europa, que já apresenta mudanças entre o norte e o sul, como algumas regiões mediterrânicas, que têm recebido 20% menos chuva do que um século atrás.
O nível do mar aumentou 3,1 mm/ano nos últimos 15 anos e a redução do gelo no Mar Ártico tem acelerado nas últimas décadas. Em setembro de 2007, a superfície gelada mínima apresentou-se apenas metade do mínimo medido na década de 1950, o que tem contribuído para colocar alguns dos animais do Ártico — como as focas, baleias e ursos polares — sob risco de extinção.
O relatório indica, também, que as plantas, as aves, os mamíferos e os insetos estão se deslocando cada vez mais para o norte e para altitudes mais elevadas. Até o final deste século, até 60% das espécies vegetais de montanha podem entrar em extinção.
O período vegetativo da agricultura é agora mais longo, especialmente no norte. Embora isto pareça favorecer o cultivo possibilitando a introdução de novas culturas, espera-se um aumento dos fenômenos meteorológicos extremos e dos incêndios florestais, principalmente no sul da Europa, o que pode prejudicar as lavouras. As projeções indicam, ainda, que as ondas de calor, as inundações, as secas, o agravamento da poluição atmosférica e as mudanças na distribuição de plantas afetarão a saúde humana.
Nas últimas décadas, a disponibilidade de dados observados e indicadores projetados sobre as mudanças climáticas tem se aprimorado cada vez mais na Europa, o que com certeza contribuirá para melhor identificação das áreas que merecem atenção. Mas, como fica a questão dos investimentos para adaptação das mudanças climáticas diante da atual crise financeira?
Crise financeira
Na contramão do mercado, a crise financeira torna os investimentos em eficiência energética ainda mais atraentes, segundo o Ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Sigmar Gabriel. Ele destaca a atual crise financeira como uma grande oportunidade de investimentos no combate às mudanças climáticas, principalmente em tecnologias de eficiência energética. Gabriel afirma que o mercado de tecnologias, energia e matérias-primas será nos próximos anos um grande nicho internacional e relembra que, quando se trata de mudança do clima, o custo da prevenção é significativamente menor que o custo de remediação dos seus impactos.
Ainda para o Ministro, a crise nos mercados financeiros internacionais marca o “fim da economia virtual e um retorno para a economia real”, onde em vez de especular no mercado financeiro, os investidores deveriam buscar aplicar em mercados reais e promissores, como o setor de energia e seus recursos, que são dois dos maiores mercados futuros. Ele afirma que para a Alemanha a decisão de investir no desenvolvimento das energias renováveis foi uma ambiciosa estratégia e eficiente para a economia do país, principalmente para reduzir a dependência da importação de energia e recursos energéticos. “A política climática gera crescimento, empregos e aumento da segurança energética”.
Como destacado no relatório da União Européia, o aumento da temperatura mundial até 2ºC acima dos níveis pré-industriais representa o limite máximo absoluto para que os efeitos das mudanças climáticas ainda possam ser combatidos. Segundo Gabriel, para atingir esta meta, em 2050 as emissões mundiais de gases de efeito de estufa teriam que ser reduzidas à metade dos níveis de 1990. Isso significa que os países industrializados deverão reduzir até 2020 entre 25% a 40% as suas emissões a fim de reduzir uns 80% em 2050.
No esforço de combate as mudanças climáticas, em 2007 a Alemanha lançou um pacote de medidas (Bundesregierung) que estabelece, para 2020, uma redução nas emissões de gases de efeito estufa deverão de aproximadamente 35%, comparativamente aos níveis de 1990. O próximo passo para não comprometer os esforços que já estão sendo feitos para enfrentar as alterações climáticas é a conclusão, em dezembro, do pacote europeu sob a presidência francesa. O Ministro alemão espera o aumento da meta da União Européia de 20% para 30% de redução das emissões até 2020 e, ainda, um acordo internacional sucessor ao Protocolo de Kyoto. Gabriel acredita que o programa também irá incorporar a China, a Índia e outros países emergentes em desenvolvimento que estão prontos para cooperar.
Do outro lado, alguns países da União Européia, como a Itália, República Checa e Polônia, tem criticado essas metas, alegando que o pacote europeu de combate às mudanças climáticas é muito rigoroso podendo até arruinar as suas economias. Ameaçam que assim, poderão ser forçados a deixar o bloco.
Será que esses países terão mesmo as suas economias comprometidas a ponto de deixar a União? Ou estão só fazendo ameaças? Como se já não bastasse a preocupação com a crise financeira e com a adaptação à mudança do clima, os países envolvidos nessas discussões acabarão gastando ainda mais energia (em todos os sentidos) para defender seus interesses financeiros e políticos. Pelo visto acabará sobrando para o clima mesmo, que com certeza vai reagir sem piedade à falta de atenção.
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