Marina Silva. Mar e selva, o nome já anuncia um estado de comunhão com a natureza. Para mim é isso o que importa. Se é mulher, amazônida, morena, evangélica tudo é secundário. Não escolho meus candidatos pelo sexo, cor, religião ou pelo critério da localidade onde nasceram. Os seleciono pelas idéias, ou melhor, pela vontade demonstrada e provada de implementar aquilo em que proclamam acreditar.
Não afirmo que José Serra (que aliás também tem a natureza no nome) ou Dilma Roussef sejam maus candidatos. Muito pelo contrário, acredito que ambos, caso eleitos, têm atributos para serem bons presidentes, dignos do meu aplauso e do meu apoio. O tucano (olha a natureza aí de novo) foi bom Ministro da Saúde e fez um governo aplaudido em São Paulo. A candidata do PT, por sua vez, provou grande capacidade de execução à frente do Ministério das Minas e Energia e talento para articulação, durante o segundo mandato de Lula. Nos últimos anos teve a árdua tarefa de chefiar a Casa Civil. Muita gente não sabe muito bem o que é isso. Para simplificar, a Chefe da Casa Civil é a pessoa responsável por buscar o consenso entre os ministérios. Não é tarefa simples já que muitas vezes ministérios como, apenas por hipótese, Fazenda e Saúde vêm o mesmo fato sob ângulos muito diversos, ou até antagônicos.
“Cada voto depositado para Marina é um recado enviado ao novo Presidente de que o Povo brasileiro quer sim mais espaço para o meio ambiente nas políticas públicas da União.” |
Também entendo que a política no Brasil extrapola em muito a questão ambiental. Para governantes que não têm vivência nem traquejo em assuntos da natureza, deve ser muito difícil priorizar o meio ambiente neste nosso país que vive sob uma enorme pressão social por saúde, emprego, educação, segurança pública, infra-estrutura e moradia. No regime democrático em que vivemos, não creio que governante algum conseguirá dar espaço à agenda ambiental que extrapole o percentual de votos sufragados para os candidatos que a defendem.
Nesse contexto, cada voto depositado para Marina é um recado enviado ao novo Presidente de que o Povo brasileiro quer sim mais espaço para o meio ambiente nas políticas públicas da União. Por isso mesmo, me entristece muito ouvir de alguns setores ambientalistas críticas a candidatura de Marina Silva. Sei que somos divididos. Há aqueles entre nós que são conservacionistas, há os preservacionistas e há também os socioambientalistas para citar apenas três grandes correntes. Discordamos em muitos aspectos, mas estamos em consenso na avassaladora maioria dos temas.
Não apoiar a candidatura de Marina baseado em alguma discordância técnica é dar um tiro no pé, pois um voto nela pode até não elegê- la mas fortalece a corrente ambientalista e sinaliza para o futuro ou futura presidente que seu Ministério do Meio Ambiente tem que ser forte e politicamente relevante. Cria terreno fértil para a indicação de um Ministro verdadeiraente focado com a questão ambiental e preparado para melhorar a gestão da natureza no Brasil.
Não votar em Marina porque ela deixou o PT ou porque ela é socioambientalista não me parece uma atitude sensata. Já votei no PSDB, no PDT, no PV e muitas vezes no PT, mas sempre acreditei que o voto é consequência de uma atitude pensada e ponderada à luz dos objetivos que se quer alcançar em termos de políticas públicas e também como resultado da análise das práticas adotadas pelos candidatos quando exerceram algum cargo no Executivo ou no Legislativo.
Nesse sentido, Marina, Sarney Filho, Gabeira, Minc, Fábio Feldman e Sirkis entre outros são frequentemente candidatos que aplaudo por que defendem, dentro do jogo democrático, ideais que não destoam daqueles em que acredito. Política não é futebol. No futebol tenho meu time e defendo intransigentemente suas cores, mesmo na Terceira Divisão. A política, por outro lado, não deve ser vista com olhar apaixonado, mas sim à luz de resultados possíveis em uma sociedade plural e nem sempre capaz de atingir unanimidades. Nesse sentido, uma boa votação para Marina Silva não significa apenas votos para a ex-Ministra, mas sobretudo mostra quantos brasileiros querem preservar o Meio Ambiente do nosso país.
Nota do editor: Este artigo não representa posição editorial de ((o))eco com relação à atual disputa eleitoral. As opiniões aqui expressadas são de responsabilidade do autor.
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