O título da entrevista dada ao New York Times por Peter A. Darbee, executivo-chefe e presidente da PG&E – Pacific Gas and Electric, chama a atenção: A Law to Cut Emissions? Deal With It (edição do dia 21.10). Ou, mais ou menos, em uma tradução livre: “Surgiu uma lei para cortar as emissões? Se vira, malandro.” O título e o teor da entrevista chamam a atenção porque são um daqueles raros casos em que a indústria não se reúne para reclamar, em massa, de uma nova lei ambiental mais restrita, ameaçando-nos com quebra-quebra, perda de empregos e estagnação econômica.
As declarações foram dadas sobre a nova legislação californiana de emissões, assinada recentemente por “Conan, o bárbaro”, governador do Estado. Denominada California Global Warming Solutions Act (ou Ato de Soluções para o Aquecimento Global), a nova lei pretende reduzir as emissões de gases “do efeito estufa” para os níveis de 1990, ou cerca de 25%, até 2020. Como sempre, a indústria, como um todo, chiou. Mas a PG&E (empresa fundada em 1905 e atualmente fornecedora de gás natural e eletricidade para a maior parte da porção norte do estado da Califórnia) viu aí uma oportunidade de fazer algo de bom pelo meio ambiente sem prejudicar os ganhos da sua empresa.
Peter Darbee afirmou ao jornal que se reuniu com os executivos de sua empresa para um debate prolongado sobre o assunto, no qual se chegou à conclusão de que, “ao invés de ficar sentado, negando que o aquecimento global é um problema e que as mudanças climáticas são um problema, minha reação foi de aceitar os fatos e seguir o fluxo para entender as tendências e me perguntar como eu posso posicionar a PG&E diante desse desafio e, então, como transformar esse desafio em uma oportunidade”. “Como um líder, o que você quer fazer é antecipar as tendências no seu ambiente de negócios e posicionar a companhia da melhor maneira possível dentro desse contexto”, afirmou.
Perguntado sobre o que ele diria a quem afirma que a nova lei colocará a economia da Califórnia em ume posição inferior de competitividade, ele lembrou que o estado sempre esteve à frente das tendências ambientais e sempre adotou normas mais restritas contra a poluição sem que, com isso, até hoje, sua economia tenha deixado de crescer mais rápido do que a média dos estados norte-americanos.
De fato, há dois anos a Califórnia impôs à sua indústria automobilística a obrigação de reduzir drasticamente as emissões provenientes dos escapamentos de novos veículos. Desde então, os fabricantes brigam na justiça contra o estado para serem livres para poluir mais, seguindo a onda liberal da Administração Bush, que não acredita na imposição de normas ambientais, mas em pedir e contar com a colaboração voluntária de todos.
Schwarzenegger rebate as críticas, citando um estudo realizado na Universidade de Berkeley, que estima que 89 mil novos empregos serão criados na medida em que o estado passe a adotar fontes alternativas aos combustíveis fósseis. Ele também afirmou que ao estabelecer metas, as indústrias são forçadas a inovar e a bolar novas soluções para seus antigos problemas, o que pode levar à criação de empregos e ao crescimento econômico.
Essa mania dos industriais de reclamar de tudo quanto é lei ambiental que lhes exija o mínimo de esforço — muito parecida com o cacoete judicial que o brasileiro tem de recorrer de tudo quanto é decisão que lhe seja desfavorável —, antes mesmo de sentar para analisar os seus efeitos de curto e longo prazo, pode ser prejudicial para a própria empresa.
No afã de manter o status quo, gastam-se fortunas com advogados caros e viagens para fazer lobby, corre-se o risco de sofrer outras sanções e, ainda por cima, desgasta-se a imagem da companhia para que, no fim das contas, na maioria das vezes, a legislação combatida acabe sendo aplicada. É desnecessário dizer que isso não se aplica a todos os casos. Situações existem em que o recurso ao judiciário é a única forma de derrubar normas e decisões abusivas e ilegais. Mas, frequentemente, espernear e recorrer à justiça sai mais caro do que simplesmente cumprir a lei. É preciso, portanto, racionalizar o inconformismo e ver as oportunidades onde, por puro hábito, só se vêem adversidades. Que o diga o Sr. Darbee.
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