Em meados do século XVII, o holandês Anthonie van Leeuwenhoek inventou o microscópio e revelou a existência de um micromundo alienígena, até então totalmente ignorado pelos cientistas do velho mundo. Como os astrônomos da época, que usavam o telescópio para bisbilhotar planetas distantes e decifrar as leis do universo, o holandês privilegiado passou a observar a natureza oculta, tão misteriosa para a época quanto a Via Láctea para os astrônomos.
No mar encontrou formas de vida mais simples, a maioria unicelulares, cujo comportamento, reprodução e hábitos alimentares ainda hoje podem ser considerados tão ou mais bizarros que os dos personagens de filmes de ficção científica. Seres minúsculos que começam a ter definição de contorno através de lentes com aumento de no mínimo 50 vezes. Eles formam a comunidade biológica mais abundante, e uma das mais desconhecidas do planeta: o plâncton marinho.
Além de bactérias e fungos, a comunidade planctônica é formada por milhares de espécies de microalgas, protozoários e invertebrados minúsculos, com pouca ou nenhuma capacidade de locomoção. Portanto, são levados passivamente pelas correntes marinhas. Ter tamanho pequeno e alta taxa de reprodução são mecanismos eficientes de dispersão geográfica, vida em suspensão e garantia de alimento para todos os confins do espaço marinho. No mar, direta ou indiretamente, todas as formas de vida dependem dessa comunidade como fonte de alimento ou como dispersão, tal como as árvores que lançam ao vento suas milhares de sementes aladas, para germinarem em locais distantes.
Nesse artigo, limito-me a divulgar a beleza das Diatomáceas, dos Cocolitoforídeos e dos Radiolários. Os dois primeiros são algas unicelulares e o terceiro um tipo de protozoário marinho.
Museu microscópico
Para divulgar esses pequenos grandes organismos, selecionei, além de outras fontes, um portal na internet chamado “The Institute for the promotion of the less than one millimetre”, que se dedica a divulgar a beleza dos “menores do que 1 milímetro” com microfotografias belíssimas do acervo do The Micropolitan Museum of Microscopic Art Forms. O museu não é apenas virtual, como se vê na foto ao lado.
O curador do acervo é o artista plástico Wim van Egmond, que há anos se dedica a fotografar essa natureza escondida. E olha que coincidência, o cara também é holandês! Talvez seja a reencarnação de seu conterrâneo van Leeuwenhoek. Tenho conversado com ele por e-mail para pedir autorização para divulgar as fotos aqui em O Eco. Ele disse que mora a poucas quadras de onde vivia Leeuwenhoek.
Pensando bem, esses organismos têm sorte por passarem desapercebidos nessa Terra de Gigantes. Se serve como consolo, mesmo se a pesca e a poluição costeira acabarem com a biodiversidade marinha que vemos a olho nu, o que eu não duvido nada, ainda nos restará essa natureza escondida, base da teia alimentar marinha, que não é apenas belíssima na forma mas também importantíssima para o funcionamento da biosfera. Aprenda mais sobre ela. Ela poderá ser o recomeço de uma nova teia alimentar oceânica. Talvez a única saída das gerações futuras para consertar o estrago no mar feito por nós, seus irresponsáveis e ignorantes antepassados.
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