Um dos momentos mais marcantes na minha terceira participação na Climate Week de Nova York foi a mesa do Climate Justice Summit: People Deliver, na Columbia University.
Em uma das mesas no evento, fizemos uma reflexão sobre a diferença entre justiça climática e justiça ambiental, questionando o constante desaparecimento da palavra “meio ambiente” nas discussões, muitas vezes generalizadas pelo termo “clima”.
É importante destacar que os conceitos diferem.
A justiça ambiental tem seu foco na distribuição igualitária dos recursos naturais e na equidade frente aos impactos ambientais, buscando garantir que as comunidades não sejam desproporcionalmente afetadas por danos ambientais. Já a justiça climática é um desdobramento da justiça ambiental e se concentra nas causas e consequências das mudanças climáticas, enfatizando que a descarbonização da economia deve ocorrer de uma maneira que seja socialmente justa e que considere os impactos nas populações vulneráveis.
Quando esvaziamos o debate ambiental e o reduzimos à “crise climática”, corremos o risco de nos distanciar do ponto central: o uso indiscriminado da natureza como recurso. Continuamos a tratar a natureza apenas como algo a ser explorado, sem considerar o cuidado necessário com ela e tão pouco o “giveback”. Costumo dizer que, se a natureza fosse acionista dos grandes negócios, deveria ser acionista majoritária, tamanho o valor agregado. No entanto, um acionista recebe retorno sobre os seus investimentos, e a natureza há muito tempo só está ficando com as contas desse relacionamento tóxico com a humanidade.
Isso tem um impacto direto sobre quem sempre cuidou da natureza e a considera sagrada. Essas pessoas estão perdendo acesso aos quatro elementos essenciais: água, energia, terra e ar. Então, a quem interessa usar a linguagem para “culpar” uma figura subjetiva e distante chamada Crise Climática por todo o caos que estamos vivendo? Precisamos compreender que este é um conceito que abrange, na verdade, fenômenos como secas, enchentes e poluição do ar, que são consequências de decisões de um grupo de pessoas no que tange essencialmente os modos de produção. Quando Sônia Guajajara diz que “a luta pela mãe terra é a mãe de todas as lutas”, ela está nos convidando a pensar no território, no alimento, na água limpa e, sobretudo, no bem viver.
Defender esses territórios, rios e o ar tem custado a vida de muitos na América Latina. Segundo a Global Witness, em 2023, quase 200 ativistas ambientais foram assassinados, e 85% desses assassinatos ocorreram em países latino-americanos, a maioria no Brasil, Colômbia, Honduras e Peru. Destes, cerca de 80% são indígenas ou pertencem a comunidades quilombolas. Essas mortes – e estamos falando apenas das documentadas – revelam a violência invisibilizada contra aqueles que defendem a natureza, já que, infelizmente, na maioria dos casos, essas mortes ainda são registradas como conflitos de facções ou envolvimento com tráfico de drogas, transformando a imagem das lideranças em criminosos.
O sistema está desenhado para não mudar, e a comunicação tem sido uma estratégia central nesse processo de alienação. Eles envelopam produtos e metodologias de um jeito diferente, pintam a embalagem de verde e tudo segue igual. Os fazendeiros que mandam matar seguem ilesos, presentes em colunas sociais e financiando diversos produtos culturais.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
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