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O Furacão Milton nos diz que o oceano está fervendo

Quanto mais quente a água do mar, maior a probabilidade de formação de furacões de alta intensidade. A sociedade está pronta?

11 de outubro de 2024
  • Rede Ressoa

    A Rede Ressoa é um projeto colaborativo de divulgação científica e comunicação sobre o Oceano.

  • Marina Aguiar

    É oceanógrafa pela Universidade Federal do Ceará e mestranda em Oceanografia Física pela Universidade de São Paulo.

  • Felipe Conrado

    É oceanógrafo pela Universidade Federal do Ceará e mestrando em Oceanografia Física pela Universidade de São Paulo, dedicando sua pesquisa às dinâmicas e características da região costeira.

Formado no dia 5 de outubro de 2024, o furacão Milton gerou grande preocupação entre meteorologistas e autoridades governamentais devido ao seu alto potencial destrutivo. Em menos de dois dias, saiu de ventos de 119 km/h para 285 km/h. Isso o colocou entre os furacões que mais rápido subiram de intensidade, atrás apenas de Wilma e Félix, ocorridos em 2005 e 2007, respectivamente.

Na noite de 9 de outubro, Milton atingiu a costa oeste da Flórida como um furacão de categoria 3, com ventos de 195 km/h. Esse momento de chegada ao continente, conhecido como “landfall”, traz consigo ventos e chuvas intensas, resultando em impactos severos nas regiões costeiras afetadas. As consequências variam conforme a intensidade do furacão, podendo gerar tempestades devastadoras, inundações, destruição de casas e tornados. As cidades de Sarasota e Tampa foram as mais impactadas, resultando em um estado de alerta máximo para a evacuação de 5,5 milhões de pessoas, 3,3 milhões de casas sem eletricidade e pelo menos 10 mortes já confirmadas. 

Como se formam os furacões?

Os furacões se formam a partir de altas temperaturas da superfície do mar, geralmente em torno de 27 °C. Essas águas quentes favorecem a evaporação, fazendo com que o ar quente e úmido suba. Ao entrar em contato com o ar mais frio da atmosfera, cria-se uma região de baixa pressão, onde a pressão atmosférica é menor. Isso gera um ciclo de movimento, com o ar frio descendo para substituir o ar quente que subiu. Esse fenômeno cria um sistema de ventos e nuvens de tempestade. 

A rotação da Terra faz com que esses sistemas girem em sentido horário no Hemisfério Norte e anti-horário no Hemisfério Sul, formando o característico “olho” do furacão. O olho é vital para a intensidade do furacão, pois é onde ocorrem as principais trocas de calor. A maior intensidade do furacão ocorre sobre o oceano, ao chegar à terra, ele perde força e diminui de categoria. Esta diminuição é ocasionada porque o que alimenta o olho do furacão é a energia disponibilizada pelo calor da superfície da água. 

O fenômeno é chamado de acordo com a região onde ocorre, sendo:

Furacão: Oceano Atlântico e no nordeste do Pacífico; tufão: noroeste do Pacífico, especialmente na Ásia e ciclone: sul do Pacífico e no Oceano Índico.

E possui 5 categorias de intensidade, sendo:

Categoria 1 (119 -153 km/h), categoria 2 (154 – 177 km/h), categoria 3 (178 – 208 km/h), categoria 4 (209 – 251 km/h) e categoria 5 (252 km/h +).

A receita básica para a formação de um furacão. Fonte: BBC

Por que o Brasil não sofre com furacões?

O Brasil possui águas quentes e está localizado em uma região tropical, mas não registra a formação de furacões em seu território. Isso se deve a algumas razões geográficas e climáticas. Parte do país está próxima da linha do equador, onde o efeito da rotação da Terra é muito pequeno para sustentar a formação de furacões. Entretanto, em sua região mais distante do equador, as temperaturas não atingem os níveis necessários para iniciar o processo de formação de tempestades tropicais intensas. 

O furacão Catarina, que atingiu o estado de Santa Catarina em 2004, foi um fenômeno atípico e diferente dos furacões comuns, devido a algumas condições específicas. Ele se formou a partir de um ciclone extratropical, que, como o nome indica, se origina em regiões fora das áreas tropicais e subtropicais. O que formou esse ciclone foi o aquecimento anormal da superfície do mar, que alcançou temperaturas entre 24 e 26 ºC, superiores à média normalmente observada na região. 

Um motorista passa por postes de serviços públicos quebrados, derrubados por fortes rajadas de vento enquanto o furacão Milton se aproxima de Fort Myers, Flórida, EUA, em 9 de outubro de 2024. Foto: Ricardo Arduengo/Reuters/Folhapress

O aquecimento do oceano traz más notícias

Existe a possibilidade de que o aquecimento da superfície do mar, causado pelas mudanças climáticas, possa expandir as áreas onde os ciclones tropicais se desenvolvem e sobrevivem. Isso significa dizer que regiões que antes eram menos suscetíveis a furacões podem se tornar mais vulneráveis, como o Brasil. Segundo o meteorologista Gary Barnes, em entrevista dada à BBC News Brasil em 2020, embora o número total de ciclones possa não aumentar com o aquecimento do oceano, é provável que a frequência de furacões de categorias maiores cresça significativamente.

O oceano, que cobre 70% da superfície da Terra, desempenha um papel crucial na regulação do nosso clima. A região do Golfo do México, onde o furacão Milton se formou, tem sido objeto de preocupações constantes por parte dos climatologistas, que há tempos alertam sobre o aquecimento anormal de suas águas. Mesmo que não sejam formados furacões, este aquecimento desencadeia uma série de outros eventos não desejados: derretimento de calotas polares, acidificação do oceano, migração forçada de animais marinhos e alteração nos padrões de chuva. 

É consenso entre a ciência de que estes eventos extremos, como os furacões e as inundações, serão intensificados nos próximos anos pelas mudanças climáticas causadas pela ação humana. O Brasil vivenciou este ano a catástrofe ocasionada pelas fortes chuvas e tempestades que atingiram o estado do Rio Grande do Sul e deixou milhares de pessoas desabrigadas, com danos financeiros e psicológicos incalculáveis para o governo e para a população. 

Esse cenário futuro acende um alerta para a sociedade: Nós vamos pagar para ver? Teremos condições de arcar com milhares de refugiados climáticos? Como os governos estão discutindo a adaptação das cidades? Existe um plano de mitigação? Esses devem ser os nossos principais questionamentos para os próximos anos. 

Para saber mais:

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Comentários 2

  1. Fernando diz:

    Para mim se queremos diminuir as mudanças climáticas, teriam que ser tomada atitudes como, parar as guerras, diminuir absurdamente as forças armadas dos países, pois são dezenas de milhares de aviões voando 24h por dia, diminuir consideravelmente as viagens de turismo, colocar um limite de poluição da indústria para cada país, com proporcionalidade com sua população……e não ficar falando em diminuir a quantidade de pum das vacas .
    Todos sabemos disso, mas… a retórica é sempre a que os convém.


  2. Marcos Silva diz:

    Seguindo a linha de raciocínio proposta pela materia – que relaciona o potencial de um furacão ao aquecimento dos o eanos – pode-se concluir que os oceanos estão, na verdade, se mantendo estáveis em uma média a longo prazo.
    Porque digo isso?
    O furacão Galveston, que assolou a regiao centro-oeste dos EUA, atingindo a categoria 4, e matando 12 mil pessoas, ocorreu em 1900. A mais de um século atrás. Imagino como estavam, então, quentes as águas oceânicas ja naquela época.