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Território Quilombola Kalunga: proteção do Cerrado que vem dos antigos

Localizado na Chapada dos Veadeiros, o território mantém o modo de vida tradicional dos quilombolas, onde os saberes dos antigos são aliados da conservação do Cerrado

Duda Menegassi ·
27 de setembro de 2023

Situado no norte de Goiás, o Território Quilombola Kalunga, em Cavalcante, faz parte do maior bloco de Cerrado que sobrou no estado. Vizinho ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, o território constitui um importante refúgio para proteção não apenas da fauna e flora, mas também do modo de vida tradicional. A rotação de plantios, o uso ancestral do fogo para manejar as áreas de campo nativo e o respeito às plantas como fonte de alimento e remédio, os Kalunga têm uma relação intrínseca com o Cerrado. No quilombo, formado há mais de 200 anos, a vida evoluiu em sintonia com o bioma.

Nas terras Kalungas, que se estendem por 263 mil hectares, o Cerrado mantém 83% da sua cobertura nativa. Um número que contrasta com o resto de Goiás, onde há apenas cerca de 30% do bioma, e com a própria realidade do Cerrado no país, onde a cobertura remanescente é de 49%. Os dados foram levantados a partir da plataforma MapBiomas e divulgados pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), conforme detalha reportagem de ((o))eco.

Um dos destaques no território é o manejo do fogo, liderado atualmente por quatro brigadas do PrevFogo/Ibama. As ações de Manejo Integrado do Fogo ajudam a prevenir grandes incêndios e a manter a diversidade dos campos nativos, que evoluíram junto com o fogo. Formadas majoritariamente por Kalungas, as brigadas representam também uma das principais fontes de renda do território.

Para trazer alternativas de renda ao território, no final da década de 90 os quilombolas abriram as portas para o turismo. O fluxo de visitantes mira principalmente atrativos como a Cachoeira de Santa Bárbara, famosa por suas águas cristalinas que reluzem num azul impressionante. O cartão-postal dos Kalunga, mas longe de ser o único, na paisagem emoldurada pelas serras, pontilhada de buritizais, rios e cachoeiras. Em 2022, o território recebeu 29 mil visitantes.

Confira as belezas do território e o trabalho desenvolvido pelas brigadas quilombolas na galeria de fotos a seguir:

Comunidade de Engenho II, uma das 39 que compõem o Território Quilombola Kalunga. Foto: Duda Menegassi

Seu Sirilo (à esq.) e seu Zé (à dir.), os dois mais velhos da comunidade. Foto: Duda Menegassi
Sirilo Rosa, com 69 anos, participou da luta pelo reconhecimento do território. Foto: Duda Menegassi
As flores colorem as paisagens do Cerrado. Foto: Duda Menegassi
As montanhas que deram abrigo ideal para formação do quilombo, hoje emolduram a paisagem visitada por turistas. Foto: Duda Menegassi
Foto: Duda Menegassi
Os buritis, com sua copa característica, indicam a presença de água. Foto: Duda Menegassi
Equipe de brigadistas desce a trilha que leva até a Cachoeira de Santa Bárbara. Foto: Duda Menegassi
Brigadistas do PrevFogo/Ibama fazem o controle de uma queima. Foto: Duda Menegassi
Com uma bomba costal, um brigadista resfria o solo e apaga o fogo. Foto: Duda Menegassi

O supervisor de brigada, Gabriel Rosa, molha a área da queima para evitar novas ignições do fogo. Foto: Duda Menegassi

Em menos de duas horas toda área escolhida já havia sido queimada. Foto: Duda Menegassi
Dentro do Território, há 75 brigadistas divididos em 4 brigadas, formadas majoritariamente por quilombolas. Foto: Duda Menegassi

A cachoeira de Santa Bárbara, cartão-postal e principal atrativo do quilombo. Foto: Duda Menegassi

A repórter de ((o))eco viajou para o Território Quilombola Kalunga à convite do Instituto de Pesquisa Ambiental (IPAM) da Amazônia.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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