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Newsletter O Eco+ | Edição #126, Dezembro/2022

Budiões, papagaios em risco e um recorde nefasto

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04 de dezembro de 2022

Em 2020, os extremos de temperatura causados pelas mudanças climáticas causaram a maior mortalidade de corais já registrada na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, no litoral nordestino. Localizada entre Pernambuco e Alagoas, a maior unidade de conservação federal costeira do Brasil foi estabelecida exatamente para proteger a extensão da “grande barreira de corais brasileira”. Dois anos após o evento, os corais da APA se recuperaram graças ao budião-azul (Scarus trispinosus), peixe conhecido como “construtor de recifes.” Apesar de uma espécie-chave para promover a resiliência dos ambientes recifais, o budião também é um dos maiores e mais ameaçados peixes recifais do Atlântico. A reportagem de Carolina Lisboa mostra como a conservação e uso sustentável do budião-azul são estratégias de adaptação às mudanças climáticas baseadas em ecossistemas e como vêm sendo incorporadas às políticas públicas no país.

Nesta quarta-feira (29), o programa PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgou que o desmatamento na Amazônia entre 1º de agosto de 2021 e 31 de julho deste ano foi de uma área equivalente a todo território da Jamaica. Isto representa uma queda de 11,27% em relação ao período anterior. Apesar da redução, este é o segundo maior valor desde 2008, só perdendo para 2021. O texto de Cristiane Prizibisczki demonstra como o governo Bolsonaro termina seu mandato com um aumento de 59,5% na taxa de desmatamento na Amazônia, a maior alta percentual em um mandato presidencial desde o início das medições por satélite realizadas pelo INPE, em 1988.

“Os dados indicam que o desmatamento é o grande vilão responsável pela diminuição de jovens de papagaio-verdadeiro no sul do Pantanal”, descreve a pesquisadora Gláucia Seixas em estudo publicado em junho na revista Plos One. A renovação de bandos da ave diminuiu 30% onde florestas e savanas foram removidas para a produção de grãos, como o arroz, ou substituídas por pastos exóticos para criação de gado. Aldem Bourscheit traz os resultados do mais longo estudo feito onde a espécie naturalmente vive: Argentina, Bolívia, Paraguai e partes do Brasil. Aqui, o esforço científico observou 791 ninhos ao longo de 22 anos, de 1997 a 2018, em fazendas de Miranda e Aquidauana, no Mato Grosso do Sul.

Boa leitura!

Redação ((o))eco

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· Conservação no Mundo ·

Ajustando o foco. Os gases de efeito estufa liberados pela humanidade são causa do aquecimento global que, por sua vez, aumenta o estresse para plantas e animais em todo planeta. Esse estresse é tão grande que muitos cientistas acreditam que estamos atualmente no meio da ‘sexta extinção’, quando espécies inteiras desaparecem até 10 mil vezes mais rápido do que antes da Era Industrial. No entanto, eles não têm certeza de quais ecossistemas e quais espécies estão em maior risco. Uma nova pesquisa publicada na revista Nature Climate Change é a primeira a demonstrar que o foco no risco no nível das espécies obscurece a ampla variabilidade de tolerâncias à temperatura – mesmo dentro de uma mesma espécie – e que essa variabilidade é maior para as espécies marinhas do que para as terrestres. As descobertas têm implicações imediatas para práticas de manejo e conservação e oferecem uma janela de esperança no esforço de adaptação a um mundo em rápido aquecimento. [ScienceDaily]

 


 

Largos lagos. Um estudo publicado na revista Nature Communications revelou que, nas últimas quatro décadas, a área coberta por lagos em todo o mundo cresceu. Cientistas usaram imagens de satélite e inteligência artificial para mapear 3,4 milhões de lagos em todo o mundo entre 1984 e 2019, descobrindo que a área total dos lagos cresceu à medida que os reservatórios se expandiram graças ao aumento das temperaturas, que derretem as geleiras e o permafrost. O crescimento de pequenos lagos, em particular, representa uma ameaça ao clima. Bactérias e fungos se alimentam de plantas e animais mortos, produzindo dióxido de carbono e outros gases retentores de calor como subproduto. Esse fenômeno é mais pronunciado em pequenos lagos, que normalmente acumulam mais matéria orgânica do que os grandes, de acordo com Jing Tang, bióloga da Universidade de Copenhague e coautora do estudo. E como os pequenos lagos costumam ser rasos, “isso torna mais fácil para que os gases atinjam a superfície e subam para a atmosfera”, disse ela. Como resultado de seu crescimento recente, estima-se que os lagos do mundo agora produzem 4,8 milhões de toneladas métricas adicionais de dióxido de carbono anualmente, mais do que as emissões anuais da Albânia. [Yale E360]

· Dicas Culturais ·

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Wherá Tupã e o Fogo Sagrado (2021) | Rafael Coelho

Alcindo Wherá Tupã, líder espiritual Guarani no Brasil, é portador da sabedoria milenar do Fogo Sagrado, que está desaparecendo. Apresentando cenas de um ritual de cura nunca antes divulgado em filme, este documentário pretende refletir a situação dos Guarani e colocar em evidência a sensibilidade apurada do ancião de 109 anos, que o permite realizar curas espirituais e físicas junto ao Fogo. Por tempo limitado no Youtube.

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Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno (2020) | Bruno Latour

O autor apresenta uma contundente análise do contexto geopolítico contemporâneo partindo da conexão entre fenômenos raramente relacionados: o afrouxamento das regulamentações governamentais, a explosão das desigualdades sociais, o colapso ecológico, o negacionismo climático e a ascensão do populismo.

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