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Newsletter O Eco+ | Edição #166, Setembro/2023

A tradição quilombola de preservação do Cerrado, o futuro do Pantanal e a decisão do Marco Temporal

Newsletter O Eco+ | Edição #166, Setembro/2023

23 de setembro de 2023

A tradição quilombola de preservação do Cerrado, o futuro do Pantanal e a decisão do Marco Temporal

Pastos e monoculturas avançam pelo Cerrado goiano, deixando de pé apenas 30% do bioma no estado. Mas ali, no norte de Goiás, um Território Quilombola representa um refúgio para a savana mais biodiversa do mundo: em terra Kalunga a cobertura da vegetação nativa é de 83%. O modo de vida dos quilombolas está diretamente ligado à conservação, com uso de plantas medicinais, coleta de frutos e manejo do fogo. “Todo mundo depende do Cerrado para sobreviver. São os saberes tradicionais”, resume o supervisor da brigada do PrevFogo, Charles Pereira, quilombola da comunidade Kalunga de Engenho II. A reportagem de Duda Menegassi mostra como a natureza é mantida através da eliminação da vegetação seca que serve de combustível para as chamas.

Falando em proteção de biomas, a reportagem de Aldem Bourscheit aponta que, no vácuo de uma regulação federal, legislações estaduais são decisivas para conectar conservação e uso sustentável do Pantanal. Fontes contaram suas expectativas a ((o)eco sobre a lei para o bioma que o Mato Grosso do Sul pode aprovar este ano, como fez em 2022 o Mato Grosso. A lei aprovada em MT foi taxada por ongs e cientistas como uma “autorização legal” para a degradação pantaneira. Entre outros pontos, o texto permite o uso intensivo ou em larga escala de Áreas de Preservação Permanente (APPs), o cultivo de pastos exóticos para gado em até 40% de imóveis rurais e autoriza atividades de “interesse social” na planície alagável.

Enquanto isso, no STF, o Marco Temporal foi declarado inconstitucional. Segundo essa tese, apenas comunidades indígenas que ocupavam o território no momento da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988, poderiam reivindicar demarcação. “Este marco temporal é contrário à ideia tanto de direitos fundamentais, quanto de se manter a identidade dos grupos indígenas e comunidades”, disse a ministra Cármen Lúcia. A derrubada da tese foi comemorada pelas dezenas de etnias que acompanham, em Brasília ou nos estados, o julgamento. ((o))eco mostrou os votos de cada ministro e as comemorações em todo o país.

Boa leitura!

Redação ((o))eco

· Destaques ·

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· Conservação no Mundo ·

Poluição em quatro rodas. Pesquisadores descobriram que emissões vindas de produtos químicos, microplásticos e metais pesados ​​escondidos nos pneus de automóveis, são uma fonte significativa de poluição do ar e da água. A descoberta veio do artigo publicado em 2020, partindo do esforço para descobrir por que cardumes de salmão estavam morrendo na época de chuva. A resposta: um químico utilizado para prevenir degradação de pneus, quando exposto a outros elementos, se multiplica em outros químicos e o composto é altamente tóxico para 11 espécies de peixe testadas, inclusive o salmão. [360Yale]


Os benefícios do cuidado. Um novo estudo revela que as áreas protegidas no Sudeste Asiático não só aumentam a diversidade de aves e mamíferos dentro dos seus limites, mas também elevam o número de espécies em habitats próximos desprotegidos. As descobertas indicam que reservas maiores resultam em maiores repercussões dos benefícios da biodiversidade nas paisagens circundantes. Pesquisadores alertam que, embora a expansão da cobertura das áreas protegidas seja parte da solução, o investimento sério na gestão e na obtenção de recursos para as áreas protegidas existentes é uma questão urgente para garantir que não sejam simplesmente “parques de papel”. [Mongabay]

· Animal da Semana ·

O animal da semana é o veado-campeiro! 

Com suas características marcantes, como pelagem acinzentada e chifres elegantes, esse belo habitante do Cerrado desempenha um papel vital no equilíbrio do ecossistema deste bioma único. 

A existência dessa espécie depende de medidas de proteção como a criação de unidades de conservação públicas ou privadas, já que o avanço do desmatamento põe os Ozotoceros bezoarticus em ameaça de extinção, conforme catalogado pelo ICMBio.

🎨 Gabriela Güllich (@fenggler)

· Dicas Culturais ·

• Pra ler •

Contos indígenas brasileiros | Daniel Munduruku

Os oitos contos selecionados pelo autor, a partir de um critério linguístico, têm a intenção de retratar, através de seus mitos (o roubo do fogo, a origem do fumo, depois do dilúvio, entre outros), a caminhada de alguns de nossos povos indígenas do norte ao sul do país – Guarani, Karajá, Munduruku, Tukano, entre outros. A leitura dessas histórias dá às crianças uma rica visão de nossa herança cultural. Afinal, o Brasil é o país da diversidade cultural e linguística, onde convivem mais de 250 povos diferentes, falando 180 línguas e dialetos.

Editora GLOBAL

• Pra ouvir •

Podcast FAPESP: Carlos Stênio | Revista FAPESP

O divulgador científico Carlos Stênio mostra que personagens da cultura pop podem ensinar biologia.

FAPESP

• Pra assistir •

Como as plantas transformaram a medicina | Atila Iamarino

O uso medicinal de plantas não só funciona, como é mais do que milenar. Analgésicos consumidos desde sempre, como a casca do salgueiro e plantas como a ulmeira, fazem parte de uma prática “pré-humana”, que acontece há bem mais tempo do que nós existimos.

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