Newsletter O Eco+ | Edição #195, Maio/2024
05 de maio de 2024
Desde dezembro de 2023, quando um pedágio da BR-116 entrou em operação, os moradores do bairro Sertão, em Magé, localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, precisam pagar caro se quiserem se deslocar pela própria cidade. “Embora todos os bairros da região sintam os efeitos do pedágio, o bairro do Sertão se encontra na situação específica de encravamento. Ou seja, isolados dentro do próprio bairro”, explica a Associação de Moradores, Pequenos Produtores e Amigos do Sertão (AMPPAS), para a reportagem de Gabriel Tussini. A briga acabou gerando um conflito que ameaça a natureza. Os vereadores Silmar Braga (PL) e Werner Saraiva (AVANTE) fizeram uma indicação à prefeitura para que fosse reaberta a Estrada do Bananal, reconectando os bairros Sertão e Jardim Esmeralda. O problema é que a área foi retomada há décadas pela Mata Atlântica e a antiga estrada fica dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
Ambientalistas do Instituto Brasileiro de Conservação da Natureza (Ibracon) apontam que a empresa japonesa Shizen Energia do Brasil estaria utilizando o seu poder econômico e atuando junto ao governo do estado do Rio Grande do Sul, em movimento contrário ao processo de governança democrática que envolve a criação de uma unidade de conservação (UC) no Brasil. Um pedido de providências a uma denúncia de lobby contra a criação do Parque Nacional Marinho do Albardão foi encaminhado à Procuradoria da República no município gaúcho de Rio Grande. O motivo seria o interesse de instalação de um parque eólico offshore (no mar) na área prevista para se tornar a UC proteção integral, destaca a reportagem de Elizabeth Oliveira.
Publicações lançadas pelo Coletivo de Pesquisa Desigualdade Ambiental, Economia e Política, reúnem dados que evidenciam as ações políticas executadas no Executivo e no Legislativo que permitiram às gigantes da indústria minerária intensificarem a destruição socioambiental durante o último governo federal. A reportagem de Fernanda Couzemenco traz ainda outro destaque do estudo: danos sociais e ambientais dessa dinâmica predatória são mascarados para a sociedade por meio de investimentos maciços em publicidade na mídia hegemônica. Essa prática é facilitada pelo próprio fato de que, entre os maiores beneficiários da desregulamentação do sistema de normatização, licenciamento e fiscalização dessas atividades econômicas, estão empresas que lideram o mercado da tecnologia da informação e da comunicação.
Boa leitura!
Redação ((o))eco
· Destaques ·
Pedágio em Magé (RJ) isola bairro e gera impasse que ameaça remanescente de Mata Atlântica
Ambientalistas acusam multinacional japonesa de lobby contra a criação do Parna do Albardão
Como proteger os territórios do neoextrativismo, do “capitalismo parlamentar” e do “Estado de intimidação”?
· Conservação no Mundo ·
Conquistando o mapa. Ecologistas têm visto veados-de-cauda-branca expandindo sua distribuição na América do Norte ao longo de muitas décadas. Desde o início dos anos 2000, estes cervos deslocaram-se para norte, para as florestas boreais do oeste do Canadá, que estão repletas de abetos e pinheiros, solo arenoso e invernos gelados com muita neve. Um estudo recente tenta desvendar os fatores que contribuíram para essa migração – concluindo que o aquecimento do clima parece desempenhar o papel mais significativo nesse fenômeno. [NPR]
Expansão das cobras. É provável que o colapso climático conduza à migração em grande escala de espécies de cobras venenosas para novas regiões, e países não estão preparados, alerta estudo publicado na Lancet Planetary Health. Embora a maioria das espécies de cobras venenosas sofram contrações de distribuição devido à perda de ecossistemas tropicais e subtropicais, os habitats de algumas espécies, como a víbora-do-gabão, da África Ocidental, aumentarão até 250%. A distribuição da víbora-áspide e da víbora-de-chifres também deverá mais que duplicar até 2070. [TheGuardian]
· Dicas Culturais ·
• Pra ler •
Maré subindo III: cidadãos de todo o mundo exigem regras fortes para acabar com a poluição plástica | WWF Brasil
A proibição dos plásticos descartáveis, que representam mais de 70% da poluição dos oceanos, é quase uma unanimidade entre consumidores em todo o mundo. Uma nova pesquisa global sobre o tema, realizada pela Ipsos com mais de 24.000 pessoas em 32 países, revelou que 85% das pessoas entrevistadas acreditam que um tratado global sobre poluição plástica, a ser concluído em breve, deveria proibir os plásticos descartáveis.
• Pra ouvir •
As complexas cidades de 2.500 anos descobertas na Amazônia | DW Revista
A visão eurocêntrica de que a Amazônia era uma região selvagem e pouco habitada antes da chegada dos europeus cai cada vez mais por terra. Arqueólogos descobriram um conjunto de antigas cidades que abrigaram milhares de pessoas, e que estão hoje escondidas debaixo da floresta.
• Pra assistir •
Caça ao javaporco virou desculpa para armar os brasileiros | UOL Prime
O Exército ignorou alertas feitos pelo Ibama sobre a caça ao javali ser usada para fraudar a compra e a movimentação de armas de fogo no Brasil. Isso acontece mesmo em regiões onde o animal, o único que pode ser caçado legalmente no país, nem sequer existe em vida livre. O UOL apurou que a fraude foi possível graças a brechas no protocolo de licenças do Ibama, encarregado de autorizar e monitorar a caça, e do Exército, responsável pela concessão e controle de armas para os chamados CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores).