Newsletter O Eco+ | Edição #208, Agosto/2024
04 de agosto de 2024
O ministro Gilmar Mendes, relator de 5 ações sobre o Marco Temporal, determinou a criação de uma Comissão Especial, que fará a mediação entre as diferentes partes dos processos. A PGR foi designada apenas como observadora, sem contestar, conforme apresentado na matéria de Gabriel Tussini. A resposta do órgão foi vista pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) como “omissão”, rompendo “com uma tradição institucional de defesa dos direitos indígenas prevista na Constituição Federal”.
Uma modificação efetuada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) em uma condicionante da licença prévia (LP) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro enfraqueceu a responsabilidade da Petrobras na criação de uma zona tampão para proteger mananciais que abastecem 2 milhões de pessoas. A obrigação de comprar, restaurar e promover a manutenção de uma zona tampão de 2.308 hectares foi transformada num encargo muito mais ameno para a petroleira, sem que até hoje o Inea tenha esclarecido publicamente a razão da modificação. A reportagem de José Alberto Gonçalves Pereira destrincha a linha do tempo das idas e vindas para esse licenciamento.
A partir de ações em colaboração com a Rede Brasileira de Neurobiodiversidade, a bióloga Kamilla Souza conseguiu montar a maior coleção de cérebros de golfinhos e baleias da América Latina. São cerca de 50 unidades armazenadas para estudos sobre a relação dos cetáceos com o ambiente onde vivem e sobre a evolução humana na interação com as espécies estudadas. Com esse farto material armazenado, veio a ideia de institucionalizar a Rede Brasileira de Neurobiodiversidade, iniciativa que se consolidou com o apoio do Instituto Serrapilheira. Orgulhosa de ter construído toda a sua formação acadêmica em uma universidade pública, Kamilla vem desenvolvendo seu pós-doutorado na UFRJ e afirma que o seu maior objetivo é fortalecer a ciência no Brasil. “Eu me perguntava sobre o porquê de depender de material de fora quando temos uma biodiversidade enorme no Brasil”, conta a cientista para a reportagem de Elizabeth Oliveira.
Boa leitura!
Redação ((o))eco
· Destaques ·
Apib critica PGR por aceitar condição de observador em discussões sobre Marco Temporal
Alteração de condicionante favoreceu Petrobras no licenciamento do Comperj
O que os estudos de cérebros de golfinhos e baleias sinalizam à proteção da biodiversidade?
· Conservação no Mundo ·
Sem medalha para sustentabilidade. Os Jogos Olímpicos afirmam ser exemplos de sustentabilidade, com o objetivo de inspirar futuros sustentáveis em todo o mundo. No entanto, não existe nenhuma avaliação sistemática disso. Pesquisadores desenvolveram e aplicaram um modelo com nove indicadores para avaliar a sustentabilidade das 16 edições dos Jogos Olímpicos de Verão e Inverno entre 1992 e 2020, representando um custo total de mais de US$ 70 bilhões. O modelo mostra que a sustentabilidade global dos Jogos Olímpicos é média e que tem diminuído ao longo do tempo. Salt Lake City 2002 foram os Jogos Olímpicos mais sustentáveis neste período, enquanto Sochi 2014 e Rio de Janeiro 2016 foram os menos sustentáveis. Nenhuma Olimpíada, porém, pontua na categoria máxima do modelo. [nature]
Posições nada convencionais. Nas ilhas Andaman, na Índia, uma espécie de rã acasala e põe os seus ovos de cabeça para baixo, mostra um novo estudo. Tanto os machos quanto as fêmeas de sapos Charles Darwin posicionam-se de cabeça para baixo nas paredes das cavidades das árvores, com os seus corpos inteiramente fora da água. “A desova de cabeça para baixo é o comportamento mais exclusivo deste sapo. Nenhuma outra rã põe ovos nas paredes internas de buracos de árvores, numa postura invertida, com os corpos completamente fora da água”, diz SD Biju, da Universidade de Delhi e atualmente pesquisador do Harvard Radcliffe Institute. [BBC]
· Dicas Culturais ·
• Pra ouvir •
Ancestralizando o Futuro | Vozes do Clima
Lideranças quilombolas abordam os impactos da emergência climática em seus territórios e sugerem ações para enfrentar o problema. O ISA ouviu lideranças de várias regiões do país que demonstraram preocupação com o futuro das comunidades tradicionais frente às recorrentes catástrofes ambientais, como a mais recente ocorrida no Rio Grande do Sul, que deixou 136 comunidades quilombolas em estado de calamidade ou em situação de emergência, segundo dados do Ministério da Igualdade Racial.
• Pra ler •
Agrotóxicos e colonialismo químico | Larissa Mies Bombardi
Os agrotóxicos atingem com muito mais força mulheres, crianças, indígenas e camponeses que vivem no entorno dos cultivos de commodities, mas fazem parte do dia a dia de toda a população, já que estão presentes na água e na alimentação de cada vez mais pessoas. O Brasil é o maior consumidor mundial dessas substâncias, com mais de 700 mil toneladas por ano. Este livro compila dados alarmantes que nos permitem começar a compreender a gravidade do problema representado pelo uso massivo de herbicidas, pesticidas e fungicidas para a saúde humana e para o meio ambiente, uma consequência direta da globalização da agricultura, da concentração fundiária brasileira e da onipresença do agronegócio no país.