Notícias

Supergene permite a borboleta amazônica imitar espécies venenosas

Pesquisadores europeus identificam supergene que possibilita borboleta amazônica imitar padrões de cores das asas de espécies venenosas

Vandré Fonseca ·
15 de agosto de 2011 · 13 anos atrás
A Heliconius numata (no alto) e a Melinaea mneme (abaixo). Credito: Mathieu Chouteau.

Manaus, AM – Uma equipe de pesquisadores europeus identificou o supergene responsável pela capacidade da borboleta amazônica Heliconius numata imitar padrões de cores das asas de espécies de borboletas venenosas. Os estudos foram conduzidos no Museu Nacional de História de História Natural, de Paris (CNRS), e da Universidade de Exeter, do Reino Unido, e publicados neste fim de semana na revista Nature.

Os complexos desenhos das asas da borboleta H. numata imitam os padrões encontrados em espécies do gênero Melinaea, parentes das borboletas monarcas, e desagradáveis ao paladar de pássaros. Assim, elas enganam os predadores. Esta habilidade, que intrigou grandes evolucionistas como Darwin, Wallace e Bates, é conhecida como “Mimetismo de Müllerian”.

A imagem mostra a Melinea, à esquerda, e as formas miméticas da Heliconius Numata. Credit: Mathieu Joron.

Três variações deste supergene coexistem na borboleta H. numata. Ele é formado por 30 genes encontrados em apenas um cromossomo. Estes genes agem de forma combinada, de forma que a mudança de apenas um deles é capaz de alterar totalmente o padrão de cores das asas da borboleta. Este mecanismo evita o surgimento de padrões intermediários, diferentes dos encontrados nas espécies do gênero Melinaea.

“Esse fenômeno tem intrigado cientistas há séculos, incluindo o próprio Darwin. De fato, observações originais de mimetismo ajudaram a compreender o conceito de seleção natural”, diz Richard Constant, da Universidade de Exeter. “Agora que temos as ferramentas certas, somos capazes de entender a razão para essa transformação surpreendente: mudando apenas um gene, a borboleta é capaz de enganar seus predadores”.

O líder da pesquisa, Mathieu Joron, do Museu Nacional de História Natural, compara este processo a brinquedos. “Mas em vez de ser capaz de transformar um carro em um robô com o toque de interruptor, um único switch genético permite que esses insetos se transformem em diversas formas miméticas. É coisa de ficção científica”.

Este supergene é encontrado também em outras espécies, incluindo mariposas. Em abril deste ano, pesquisadores da Universidade de Liverpool, explicaram como mariposas inglesas desenvolveram cores negras no ambiente carregado de fuligem do século XIX. “Essa região do supergene não só permite que os insetos imitem uns aos outros, como no caso da Heliconius, mas também que imitem o fundo enegrecido de fuligem da revolução industrial. É um gene que realmente carrega um salto evolutivo”, acrescentou Constant.

 

Leia Também
Aquecimento e borboletas
Um display que imita a borboleta

Saiba mais:
Biotechnology and Biological Sciences Research Council

Leia também

Podcast
24 de outubro de 2024

Entrando no Clima #28 – Crises ambientais globais precisam ser enfrentadas de forma conjunta

Direto de Cali, Aldem Bourscheit estreia em nosso podcast para trazer as principais notícias sobre a Conferência de Biodiversidade, que este ano tem a difícil tarefa de tirar dos países-membros seus planos nacionais de conservação

Análises
24 de outubro de 2024

A Floresta da Janela: Soluções baseadas na natureza para a cidade do Rio de Janeiro

Se por um lado a cidade conta com bons planos para sua resiliência, faltam vontade política, estratégia e recursos para que sejam implementados

Salada Verde
24 de outubro de 2024

Jovens discutem os impactos da crise climática na periferia em evento no Rio de Janeiro

Realizado no dia 26 de outubro, evento gratuito terá lançamento do Plano Verão de Adaptação, com reivindicações para o governo do Estado

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.