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Flores e cores que brotam do duro Cerrado

Neste ensaio, o fotógrafo Duda Itajahy mostra a diversidade do Cerrado e muda a percepção de que o bioma não é um dos mais belos do Brasil.  

Marcio Isensee e Sá ·
19 de agosto de 2011 · 13 anos atrás

 

Crédito: Duda Itajahy
Crédito: Duda Itajahy

Passei dois meses no Centro-Oeste onde conheci Pirenópolis e arredores. Fiquei maravilhado com a quantidade de água e belezas naturais diversos dos encontrados na região sudeste. A vegetação foi a primeira coisa que me chamou atenção. O contraste das flores com o restante da vegetação seca e muitas vezes queimada pelo fogo do Cerrado fascina. Após sair de Pirenópolis, tentei ir até a Chapada dos Veadeiros, mas já no fim da viagem tive que deixar para a próxima oportunidade.

Ela não demorou tanto a chegar. Quatro ano depois saí do Rio de Janeiro numa manhã de maio e cheguei em Alto Paraíso no fim da tarde do mesmo dia. Apesar de cansativo, ver o sol caindo atrás de uma grande montanha em formato de mesa, no fim da tarde, foi um prenúncio do que estava por vir nos dez dias daquela surpreendente estada.

A primeira grande sensação foi me enebriar com a qualidade do ar. Para quem está acostumado aos ares pesados e cinzas da metrópole carioca, sente-se um leve torpor, pulmões a toda, e uma emoção absurda de estar simplesmente vivo.

Com um tapinha no ombro, a dona do empório local me diz: “Tá sentindo como o ar aqui é puro? A Chapada tem uma das melhores qualidades de ar do Brasil!”. A maior prova é a própria natureza. Nas pedras e rochas do Parque Nacional, com cores variando entre amarelo, laranja e roxo, os líquens são o atestado dessa qualidade. s tatuagens das pedras funcionam como potenciais dicas à nossa volta.

Durante toda a viagem, o clima foi de sol forte e pouquíssimas nuvens, característico da região. Nas épocas mais secas do ano, a baixa umidade do ar provoca queimadas naturais.

O mais impactante é ver como o Cerrado, um ambiente tão árido e castigado, hospeda uma flora larga na sua gama de cores, texturas e formas. É como um kalunga que conheci no meio de uma trilha definiu: “Meu filho, o Cerrado dá tudo! Vem o fogo e renova, vem a chuva e dá a vida! Se o homem não mexer, a vida continua!”. Meu olho vaga e constata essas palavras ao encontrar árvores com as cascas queimadas pelo fogo contrastando com pétalas delicadas.

Na Chapada, as flores são a expressão máxima de beleza e refletem toda a energia que existe no lugar. A partir delas o ciclo da vida se repete sem fim, os homens e outros animais são abençoados por esta visão.

Ponto de encontro de variadas espécies de insetos, as flores dão o clima encantador e colorido que adorna os caminhos e trilhas da região. Vermelhas, amarelas, longas, em formato de pompons, com texturas variadas, elas tornam a viagem um exercício de observação contínuo, no qual a classificação taxonômica perde o sentido.

No último dia, uma estudante de enfermagem e futura parteira me diz no Poço de São Bento: “Já percebeu como a Mata Atlântica é super verdinha, fofinha e dá vontade de abraçar? As pessoas que não conhecem se assustam quando vêm ao Cerrado pela primeira vez. É tudo seco, pontudo, arranha, espeta! Mas já viu como é tão lindo e colorido…”.

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*Duda Itajahy é diretor de arte, gestor ambiental e fotógrafo, vive no Rio de Janeiro e é sócio-diretor da Valente Laboratório de Ideias.

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Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

  • Marcio Isensee e Sá

    Marcio Isensee e Sá é fotógrafo e videomaker. Seu trabalho foca principalmente na cobertura de questões ambientais no Brasil.

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