O piso da Estrada de Manutenção, na Serra do Mar, em São Paulo, é liso, úmido e escorregadio. Nos trechos de asfalto intercalados por musgo a aderência de pneus de bicicleta simplesmente desaparece. Quando isso acontece em curvas e declives mais acentuados, é como pedalar no sabão. Quanto mais fino o pneu, mais escorregadio. Com pneus largos, basta reduzir a velocidade com calma ANTES das curvas mais acentuadas e descidas íngremes e seguir pedalando (frear com força em uma superfície escorregadia pode fazer sua bicicleta continuar a avançar fora de controle, o que, normalmente, machuca). Com pneus finos, não tem jeito. É ir devagar e, conforme for, até descer da bicicleta em alguns trechos.
O Odir Züge Jr., professor universitário, ciclista cotidiano e amador e colaborador eventual de ((o)) eco Bicicletas, é um especialista em longas quilometragens. Tem bicicletas leves com pneus finíssimos, é rápido e sabe tudo de audax, modalidade em estradas com provas que chegam a ter 1.200 km. Ele desceu a Manutenção com este pneu fininho que aparece na foto acima e, por isso, nós todos diminuímos o ritmo. Descemos devagar, conversando, observando a mata, tirando fotos. Não fosse assim, provavelmente não teríamos avistado alguns dos últimos muriquis ainda existentes na Mata Atlântica em São Paulo. De acordo com o levantamento mais recente do Ministério do Meio Ambiente, há duas espécies deste macaco no Brasil, o Brachyteles arachnoides, conhecido como mono-carvoeiro ou muriqui-do-sul (mais informações na página 730 da relação oficial de mamíferos ameaçados de extinção deste PDF), e o Brachyteles hypoxanthus, também chamado de mono-carvoeiro ou muriqui-do-norte (mais informações na página 733 da mesma relação). Ambas estão ameaçadas de extinção.
De acordo com os dados do Ministério do Meio Ambiente, em São Paulo somente os muriquis-do-sul podem ser encontrados. Há menos de 1.000 macacos desta espécie no estado e, conforme avança o desmatamento das poucas áreas remanescentes de Mata Atlântica, a quantidade diminui. Assim como diversas outras espécies de fauna e flora, eles estão ameaçados pelos mateiros que derrubam a mata em busca de palmito. Grandes e barulhentos, também são vítimas regulares de caçadores.
Os muriquis são vegetarianos, são considerados os maiores primatas do continente americano e têm uma habilidade impressionante de pular de uma árvore para outra com velocidade. Saltam em galhos finos e, com agilidade, pulam novamente antes que eles se partam. De longe, é possível ver apenas a movimentação das árvores e o barulho das copas se mexendo. Quando eles passam literalmente em cima de onde você está, dá para ver os mergulhos em detalhes.
A presença de muriquis na Estrada de Manutenção na Serra do Mar é mais um sinal do potencial do ecoturismo nesta que uma das últimas regiões preservadas de Mata Atlântica de São Paulo e do Brasil.
Veja reportagem do Jornal Hoje, da Globo, sobre os Muriquis.
Leia “A ecovias é contra bicicletas“, no vadebike.org, e “Rota Márcia Prado e a construção de caminhos“, no OutrasVias.
A Ecovias se apresenta como uma empresa preocupada com o meio ambiente, mas não fez, até agora, nada para apoiar a consolidação de uma rota de ecoturismo na região. A empresa, responsável pelo sistema que permite que, a cada feriado prolongado e nas férias, o número de veículos motorizados dispare na região, ameaçando não só a Mata Atlântica na Serra do Mar, mas também áreas ainda preservadas do litoral, resiste a permitir que veículos que não pagam pedágio utilizem a rota. Do jeito que está, o modelo é bastante lucrativo para a concessionária. Quem opta por ir de automóvel até a praia gasta R$ 20,10 só para passar a cancela.
Mais informações sobre o roteiro podem ser obtidas escrevendo para o e-mail [email protected] ou telefonando para (13) 3377-9154 / 3361-8250. Estes são os contatos da administração do Núcleo Itutinga-Pilões, responsável por zelar pela conservação do Parque Estadual da Serra do Mar. Avisando com dez dias de antecedência, é possível contar com a ajuda de fiscais do parque no trajeto e informações sobre preservanção ambiental, conforme informado no texto de Felipe Mortara no blog Viagem & Aventura do Estadão. Vale ler o relato dele também conferir outro roteiro bacana de fazer também dentro da Mata Atlântica, que é a a descida da Serra da Graciosa no Paraná, também pela Mata Atlântica (informações adicionadas em 19 de outubro de 2011).
Veja mais fotos da descida da Serra do Mar pela Estrada de Manutenção ou confira o álbum da viagem do Marcelo Schadt no flickr:
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