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Flor oferece pouso a beija-flores em troca da reprodução

As Babianas, gênero de flores encontradas na África, desenvolveram formas criativas de atrair os beija-flores que cuidam da sua polinização.  

Vandré Fonseca ·
12 de setembro de 2011 · 14 anos atrás
 Nectariniideos, que ocupam o mesmo nicho de nossos beija-flores, preferem o néctar de flores onde eles podem docemente se empoleirar. Foto: Divulgação
Nectariniideos, que ocupam o mesmo nicho de nossos beija-flores, preferem o néctar de flores onde eles podem docemente se empoleirar. Foto: Divulgação
Os beija-flores africanos não batem as asas como os nossos. Na África, os coloridos pássaros da família Nectariniidae ocupam o mesmo nicho ecológico de nossos beija-flores – chamados também de colibris. Mas, ao contrário dos nossos, os primos do outro lado do Atlântico não batem as asas freneticamente enquanto colhem o néctar das flores. Eles preferem pousar em poleiros naturais de suas amigas locais, as plantas do gênero Babiana.

Ao longo do Cabo Ocidental da África do Sul, os nectariniideos  mantêm uma estreita relação com as babianas. Elas oferecem uma haste, onde eles repousam durante a alimentação. Em troca, polinizam as flores e garantem o cruzamento e, consequentemente, a reprodução das plantas.

 

Mas as babianas não apostam todos os seus óvulos, ou oosferas, nesta relação com os pássaros. Ao longo da sua evolução natural desenvolveram diferentes formas de serem polinizadas, que podem ser bastante variadas entre as espécies do gênero ou mesmo dentro da mesma espécie. Estas estratégias foram reveladas em um estudo que deverá ser publicado em 2012, nos Anais de Botânica, mas que já está disponível na internet.

“O que faz as babianas especiais é que algumas espécies evoluíram com poleiros especializados para um determinado pássaro. Então, o que nós fizemos foi investigar estas funções”, afirma Spencer Barret, professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Toronto e um dos autores do texto.

A Babiana ringens, por exemplo, é polinizada exclusivamente pelo pássaro Nectarinia johnstoni, e apresenta haste própria para atraí-lo. Elas são as primeiras a serem visitadas pelo pássaro, que só depois de se alimentar do néctar da B. ringens buscam outras plantas. Já a B. avicularis possui flores menores e aparentemente desenvolveu uma adaptação especializada para a Nectarinia chalybe, único a visitá-la. Este é o menor beija-flor africano e também o menor polinizador de plantas conhecido.

Já a B. carminea não possui esta haste onde os pássaros repousam. Para se alimentar delas, eles precisam ir até ao solo e procurá-las entre as flores que encontram. Segundo os autores do artigo, flores no solo são menos polinizadas, porque deixam os pássaros mais vulneráveis a predadores. “Descobrir duas estratégias de alimentação diferentes entre espécies relacionadas é notável”, afirma Barret.

Os pesquisadores fizeram também experiências para descobrir o que aconteceria se as plantas não fossem visitadas por nenhum pássaro e observaram que elas são capazes de se auto-polinizarem, apesar de que, dessa forma, obtêm menor sucesso reprodutivo. Mesmo assim, observaram que uma espécie de babinana, a B. hirsuta, era capaz de um grau destacado de autopolinização.

A alternativa da autopolinização está relacionada também com a diferença do tamanho da haste de exemplares de B. ringens encontradas em regiões diferentes. Na região leste da área estudada, onde os poleiros eram menores, a planta era menos polinizada pelos pássaros. Concluíram que a autopolinização é uma alternativa evolutiva para superar situações em que há pouca oferta de pássaros polinizadores.

 

Artigo: ‘The natural history of pollination and mating in bird-pollinated Babiana (Iridaceae)’  de Caroli de Waal, Bruce Anderson and Spencer C. H. Barrett vai ser publicado na edição especial de Annals of Botany em 2012. Veja a versão disponível na internet aqui

Saiba mais: Sobre Spencer Barret

Nectariniidae

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