Notícias

Light desapropria e demole sede da ONG Verdejar, no Alemão

ONG carioca faz trabalhos de agroecologia em área verde próxima ao complexo do Alemão. Área será usada para subestação de energia.

Fabíola Ortiz ·
9 de agosto de 2012 · 12 anos atrás
Demolição da sede do Verdejar. Foto: Divulgação.

Rio de Janeiro – A ONG carioca Verdejar, que desenvolve trabalhos voluntários de agroecologia na Serra da Misericórdia – uma área verde situada entre o morro do Juramento e os complexos de favelas do Alemão e da Penha –, perdeu a sua sede, desapropriada para a instalação de uma subestação de energia da Light SA.

Há mais de 15 anos com sede na Rua Sergio Silva, em Tomás Coelho, no bairro do Engenho da Rainha, na zona norte do Rio, a ONG realiza mutirões ecológicos, movimentos de agroecologia e desenvolve uma rede de agricultura urbana.

A Serra da Misericórdia virou uma área de proteção ambiental (APA) em 2000, mas até hoje não foi regulamentado um conselho de gestão.

“A Verdejar assumiu a conservação da área, fizemos mutirões de limpeza, replantio de mudas e recuperação das nascentes. Estamos fazendo uma ação de micro-corredores ecológicos. O terreno tem nascentes importantes para o mosaico da Mata Atlântica”, disse a O ECO, Edson Gomes, presidente da ONG.

Edson conta que nesta segunda-feira, dia 6, a equipe foi surpreendida às 9h para expulsá-los do terreno. Na sede da ONG, destruída nesta semana, os ativistas mantinham um viveiro com a produção de 5 mil mudas por mês para reflorestamento e um centro de educação ambiental.

A briga entre a ONG e a gigante de energia elétrica, fornecedora para mais de 30 municípios no estado do Rio, corre na justiça há cerca de um ano e meio, após a empresa ter manifestado o interesse de construir uma subestação.

Segundo a ONG, em comunicado divulgado pela internet, “nunca nos negamos ao diálogo e nos contatos que tivemos com seus representantes (da empresa)”. Os voluntários da Verdejar afirmam ainda que apontaram alternativas de lugares para a obra, devido à “importância daquela área de lazer para a comunidade”, onde existe, próximo, um campo de futebol.

“Até então, a afirmativa era de que eles estavam apenas em estudo, sondando o terreno e contando as árvores do local”, destacou o comunicado que circulou pelas redes sociais após a demolição da sede.

“Em momento nenhum nos fechamos ao diálogo. Tivemos três reuniões há um ano e cobramos que a empresa apresentasse para os moradores da comunidade o projeto. Depois nunca tivemos retorno. Fizeram um processo à revelia da comunidade. A nossa existência foi ignorada pela justiça”, criticou Edson.

Os ativistas argumentam que não foram avisados sobre o despejo que aconteceria nesta última segunda-feira.

A Serra da Misericórdia tem uma área de 44 km quadrados e estende-se por 27 bairros do subúrbio carioca estando localizada numa faixa de baixada de 6 km a norte do Maciço da Tijuca e a 3 km da costa oeste da Baia de Guanabara. O maciço da Misericórdia chega a aproximados 260 metros de altitude.

Nesta última terça-feira, dia 7, membros e amigos da ONG Verdejar fizeram um protesto em frente à sede da Prefeitura do Rio de Janeiro e pretendem ainda nesta sexta colocar cartazes e fazer uma manifestação na frente do edifício da Light no centro.

Segundo a empresa de energia elétrica, a ONG ocupava o terreno irregularmente e garante que está com todas as licenças ambientais em dia. A subestação, segundo informou a O ECO a assessoria da companhia, terá como objetivo melhorar o serviço de fornecimento de energia na região e pretende alcançar 200 mil consumidores.


Leia também

 

  • Fabíola Ortiz

    Jornalista e historiadora. Nascida no Rio, cobre temas de desenvolvimento sustentável. Radicada na Alemanha.

Leia também

Reportagens
10 de março de 2006

O morro não tem vez

Cercada pelo tráfico e abandonada pelo poder público, pequena ong batalha para salvar o pouco verde que resta na região do Complexo do Alemão, no Rio.

Reportagens
21 de novembro de 2024

Livro revela como a grilagem e a ditadura militar tentaram se apoderar da Amazônia

Jornalista Claudio Angelo traz bastidores do Ministério do Meio Ambiente para atestar como a política influencia no cotidiano das florestas

Notícias
21 de novembro de 2024

MPF afirma que Pará faz propaganda “irresponsável” de ações contra queimadas

Procuradoria da República no estado apontou “discrepância entre o discurso e a prática”; procuradores pediram informações a autoridades estaduais e federais

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.