Rio de Janeiro − Para termos uma cidade sustentável é também preciso pensar em um sistema de transporte sustentável. O transporte público na cidade do Rio de Janeiro está saturado e à “beira da falência”, critica o geógrafo Christopher Gaffney, professor visitante da pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador em planejamento urbano e nos megaeventos na cidade carioca.
A mobilidade no Rio sempre foi marcada pela falta de planejamento a longo prazo, afirma Gaffney, que conversou com ((o)) Eco durante o ciclo “Conversas no Museu” do Meio Ambiente, no Jardim Botânico, que reuniu, nesta terça-feira (11/12) interessados em debater soluções para a mobilidade na cidade.
Gaffney criticou a falta de integração de uma rede de transporte metropolitana. Para ele, é preciso ter imaginação e aproveitar o que de melhor a cidade pode oferecer, como ter uma linha de transporte aquaviário e o potencial das lagoas e da costa.
Leia a seguir a entrevista:
((o)) Eco: Quais são os problemas de transporte na cidade do Rio de Janeiro?
Chris Gaffney: A mobilidade no Rio sempre foi um problema devido à falta de planejamento e investimento a longo prazo. Sempre foram soluções pontuais para a cidade e de curto prazo. Por exemplo, a Linha 4 do metrô é uma solução pontual que serve basicamente aos ricos da zona sul. O problema é a integração de uma rede metropolitana.
Há também uma falta de imaginação. É possível melhorar o deslocamento na Lagoa Rodrigo de Freitas (que é circundada por bairros como Copacabana, Ipanema, Leblon e Jardim Botânico e dá acesso ao túnel Rebouças que liga à zona norte da cidade) com ‘water taxis’, mini barcas que já existem em muitas cidades, como em Vancouver. O ônibus não é solução porque é mais pneu na rua, combustível no ar, e engarrafamento. A cidade está saturada e à beira da falência. Existem muitos pontos críticos nas principais artérias da cidade, se ocorre um acidente em alguma dessas vias, a cidade para.
((o)) Eco: Qual é o transporte que o Rio precisa?
Chris Gaffney: A solução para a mobilidade de massas passa também pelos trilhos. A expansão da Linha 4 do metrô é um ‘puxadinho’. Tem que expandir o metrô radicalmente, e estão fazendo apenas a extensão de uma única linha de metrô com o BRT (Bus Rapid Transit) e não uma rede.
A Transoeste vai recolher as milhares de pessoas que vão para o centro e depositá-las na primeira estação inicial do metro Linha 4, no Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca. Vão ser 20 mil pessoas chegando nessa estação por dia e o metrô já lota no ponto inicial.
Além disso, é preciso melhorar o trem do subúrbio para o centro. Trens de média e alta velocidade entre Santa Cruz, Bangu e Central do Brasil que levaria uma hora em vez de mais de duas horas, como é hoje. Deveriam ser reabertas linhas já extintas, como para Petrópolis e Magé (no pé da serra).
Deve-se reorganizar e eliminar a influência das empresas de ônibus que tem grande poder e interesses para manter o sistema atual. O Rio de Janeiro é a única cidade no mundo que não tem mapa das linhas de ônibus. Não existe mapa do sistema de transporte no Rio. Os ônibus não tem hora para passar, os motoristas são super agressivos e violentos. É um custo alto e um desrespeito ao usuário. São passagens caras e muitos sem ar condicionado. O corredor de ônibus BRS (Bus Rapid Service) foi um ganho, mas já deveria ter sido feito há 20 anos. Isso era um dever do poder público.
Faltam mais estações de barcas e ‘water taxis’. Na Lagoa Rodrigo de Freitas, em vez de pegar um carro ou ônibus e ficar engarrafado, por que não haver um ‘water taxi’ que transporta do Leblon até Copacabana podendo pegar o metrô na estação ali? Funcionaria bem nas lagoas da Barra da Tijuca também.
((o)) Eco: Com a realização dos mega eventos, as demandas de transporte serão ainda maiores?
Chris Gaffney: As demandas de todo o sistema urbano vão aumentar como esgoto, transporte e saúde. Do jeito que está, eu projeto uma falência total do sistema. Não se pensa em longo prazo, ou seja, para depois de 2017. Tudo é para as Olimpíadas.
A questão não é só transporte, é também moradia. Se a gente mora perto do trabalho, precisa menos de transporte. Seria interessante um projeto de redensificar a cidade, diminuir a distância da casa-trabalho. Mas o inverso está acontecendo. A grande mão de obra que vai sempre para o centro mora longe porque é muito caro. Não há projeto para controlar o preço dos imóveis que está desenfreado. Pensar numa mobilidade tem que se pensar na moradia e trabalho, é um tripé.
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