O joão-de-barro (Furnarius rufus) é uma ave nativa da Argentina – lá chamado de hornero onde é considerado a ave símbolo nacional –, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. A espécie está distribuída por uma vasta região, que vai do sul dos estados brasileiros de Pernambuco, Goiás e Mato Grosso, cobre toda a parte leste da Bolívia, segue para o sul pelas encostas da Cordilheira dos Andes até a altura da Península Valdez, na Argentina, se espalhando destes limites até o litoral atlântico.
Seu nome científico, Furnarius rufus, significa, em latim, construtor de fornos (furnarius) rubro (rufus) e exprime a característica mais peculiar desta pequena ave: o seu ninho de barro em forma de forno. No Brasil, esta característica lhe rendeu os mais variados apelidos: barreiro e joão-barreiro, no Rio Grande do Sul; maria-barreira, na Bahia; forneiro, pedreiro, oleiro e amassa-barro. A fêmea é conhecida como “joaninha-de-barro”, “maria-de-barro” ou “sabiazinho” em certas regiões.
É uma ave muito popular, com contornos folclóricos: é tido como um passarinho trabalhador e inteligente cujo canto lembra uma gargalhada e, para os sulistas, é sinal de bom tempo. Os índios avá guaraní assim explicam sua origem: a jovem Kuairúi havia se enamorado de Tiantiá, um valoroso guerreiro. Queriam casar, mas o cacique Tabáire, pai de Kuairúi, não permitiu, porque a despeito de sua bravura Tiantiá não sabia construir uma cabana. Assim foram transformados em pássaros que ajudam um ao outro na construção do ninho.
Mede 18 a 20 centímetros de comprimento e pesa cerca de 49 gramas. A plumagem do dorso é inteiramente marrom avermelhada. Tem uma suave “sobrancelha”, formada por penas mais claras, em contraste com o restante da plumagem da cabeça. As penas de voo são negras e visíveis quando as asas estão abertas. Em geral, o ventre é de coloração clara, mas alguns indivíduos podem possuir o peito, flancos e barriga amarronzados. O queixo e pescoço brancos e a cauda completamente avermelhada.
O Furnarius rufus é muito comum em paisagens abertas, como campos, cerrados, pastagens, ao longo de rodovias e em jardins. A espécie prefere áreas de vegetação esparsa ou campos abertos onde pode encontrar alimento: de insetos e larvas, aranhas e outros artrópodes e, por vezes, sementes. Passa grande parte do tempo no solo, raramente forrageia nas árvores.
A ave também passa a maior parte do ano envolvida em construções de ninhos, às vezes simultâneo. Faz isto porque está sujeito a perder muitos deles, seja por invasões de outros animais, acidentes com destruição e intervenção humana, ou pela disponibilidade de barro fresco, que depende do regime de chuvas. O ninho em forma de forno é construído pelo casal -– são aves monogâmicas, os casais se mantêm unidos por toda a vida – em galhos baixos de árvores e troncos secos, pontos que possibilitem boa visibilidade do entorno. Se não encontram um local adequado, podem nidificar no chão ou sobre alguma rocha saliente ou, em áreas urbanas, postes elétricos e altos de prédios.
A construção do ninho pode levar de 18 dias a 1 mês até a conclusão, que depende da disponibilidade de materiais: barro, a palha e o esterco fresco. Ao final tem-se uma estrutura em formato de forno, com 17 a 30 cm de diâmetro e uma altura de cerca de 20 cm, que pode pesar até 12 kg, embora a média seja de 5 kg. A entrada tem em geral uma forma elíptica ou em crescente. E, fazendo jus ao formato de forno, são casinhas muito quentes.
Uma parede que separa a entrada de uma câmara incubadora, construída para diminuir as correntes de ar e o acesso de possíveis predadores. Ali a fêmea coloca de 3 a 4 ovos brancos, de casca frágil, que pesam de 4 a 7g e medem de 27 a 29 mm de comprimento por cerca de 21 mm de diâmetro. A incubação, só inicia consistentemente após a postura do terceiro ovo, dura de 14 a 18 dias. Os pais se revezam em todo o processo, da incubação até a alimentação. No início permanecem junto dos filhotes para aquecê-los, mas após oito dias de vida passam cada vez mais tempo fora do ninho. Após 14 dias, os pequenos já treinam seu canto e aos 20 dias deixam o ninho, mas por poucos dias. Durante esse tempo, os pais ainda os alimentam.
Dentre seus predadores o anu-branco, o gavião-carijó, a águia-chilena, e o gambá. Pardais podem expulsar o joão-de-barro para usar seu ninho. O chupim pode parasitar os ninhos colocando ali seu ovo, para que o casal de joões-de-barro o incube e crie o filhote alheio. Uma vez abandonados os ninhos são ocupados por uma grande variedade de aves, insetos, além de cobras e pererecas. A andorinha Phaeoprogne tapera utiliza exclusivamente ninhos vazios de joão-de-barro para sua própria nidificação.
De acordo com a Lista Vermelha da IUCN, a população do joão-de-barro, embora não quantificada, parece estar aumentando e foi descrita como comum. Por tais motivos, a espécie é classificada como Pouco preocupante. A espécie tem invadido cada vez mais as cidades e, em virtude do desmatamento, que cria campos ou arborização rala, também sua zona de ocorrência está aumentado.
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