Manaus, AM – Foram dez anos de pesquisas, que levaram a primatologista Laura K. Marsh, diretora do Global Conservation Institute, a 36 museus de várias partes do mundo e às florestas da Amazônia. Ela analisou 690 crânios e também centenas de fotos de vários parauacus, para fazer uma revisão daquilo que a ciência conhece sobre estes tímidos macacos, que dificilmente são avistados na floresta. Tanto trabalho trouxe uma revelação gratificante: cinco novas espécies do gênero Pithecia foram descobertas, entre elas três endêmicas do Brasil.
Os parauacus são primatas de porte médio, que pesam entre 1,5 e 4 quilos quando adultos e medem até 1 metro de comprimento, incluindo a cauda que é um pouco maior do que o corpo. A cauda é bastante peculiar, mais grossa do que de outros primatas da região. Eles são encontrados na Amazônia desde o Planaldo das Guianas até a Bolívia, e desde a Cordilheira dos Andes até a região do Rio Xingu. Eles sofrem, como outros animais, com a fragmentação da floresta e também com a caça. Sua carne é uma das preferidas de tribos indígenas do Suriname.
O estudo foi apresentado durante 25o Congresso da Sociedade Internacional de Primatologia, que aconteceu no mês passado em Hanoi, Vietnã, e publicado recentemente na revista científica Neotropical Primates. Ele faz uma revisão das, agora, conhecidas 16 espécies. “Eu comecei a suspeitar que poderiam existir mais espécies de parauacus, quando fiz uma pesquisa de campo no Equador”, conta Laura Marsh. “Quanto mais eu via, mais percebia que os cientistas tinham confundido suas avaliações sobre a diversidade de parauacus durante mais de dois séculos”, completa.
Repercussão
Anthony Rylands, pesquisador sênior da Conservação Internacional, destacou que a descoberta das novas espécies é um grande passo para compreender a diversidade de primatas na Amazônia e no mundo, além de ser vital para a conservação delas. Uma das espécies descritas recebeu o nome em homenagem a ele: P. rylandsi, encontrada entre Brasil, Peru e Bolíva.
Outro homenageado foi o presidente da Conservação Internacional e dirigente do Grupo de Especialistas em Primatas da IUCN, Russel Mittermeier, que fez estudos sobre o gênero e identificou a preferência de índios do Suriname por caçar parauacus. O P. mitermeieri é endêmico do Brasil, encontrado entre os rios Madeira e Tapajós. “Esses animais estão se tornando cada vez mais importantes na economia das comunidades locais para o ecoturismo, com base no modelo de observação de pássaros e aves de listagem de vida (“life lists”), que se tornou uma indústria multi-bilionária em todo o mundo”, afirma Mittermeier.
O Brasil é o país com maior diversidade de primatas do mundo. Com as novas descrições já se conhecem 145 espécies. E é quase uma certeza de que não vai parar por aí.
Novas espécies
Pithecia cazuzai
Espécie endêmica, encontrada na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, interior do Amazonas. Nome é uma homenagem ao primatologista brasileiro José de Souza e Silva-Júnior, curador da coleção de mamíferos do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA).
Pithecia mittermeieri
Batizado em homenagem a Russel Mittermeier, presidente da Conservação Internacional. É encontrado no interflúvio dos rios Madeira e Tapajós, desde Rondônia até o rio Amazonas. Também é endêmico do Brasil.
Pithecia pissinattii
O nome é uma homenagem ao veterinário Alcides Pissinatti, diretor e co-fundador do Centro de Primatas do Rio de Janeiro e vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências Veterinárias. Pissinatti é também pioneiro na reprodução em cativeiro de primatas brasileiros ameaçados de extinção.
Pithecia rylandsi
Encontrado no Sul da Amazônia, desde a tríplice fronteira Brasil-Bolívia-Peru, até o Mato Grosso. O nome é uma homenagem ao pesquisador sênior da Conservação Internacional Anthony B. Rylands.
Pithecia Isabela
Endêmico do Peru. O nome é homenagem a uma dama do Século XVIII, Isabel Grameson Godin de Odonais, que partiu em uma expedição pela Amazônia na tentativa de encontrar o marido, de quem estava separada fazia vinte anos. Após ficar sozinha, passar 28 dias na floresta, encontrar índios quechua e padres, finalmente o reencontrou.
Imagens: Neotropical Primates
Saiba mais
Artigo: A taxonomic revision of the Saki Monkeys, Pithecia Desmarest, 1804 (Laura K. Marsh)
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Faz 2 dias que 2 desses vem nos visitar no quintal de casa.Lindos.