Na rotina de monitoramento e pesquisas em busca de alternativas para as tartarugas marinhas coexistirem com a pesca no litoral baiano, pesquisadores do Projeto Tamar têm revelado um pouco da rica biodiversidade oceânica em águas profundas. Quatro espécies de peixes desconhecidas pela ciência até então foram capturadas em testes com armadilhas realizados pelo projeto, entre 2009 e 2014. São espécies encontradas em águas profundas e algumas surpreendentes.
Entre as descobertas, está um tubarão pintado, do gênero Scyliorthinus, que atinge o tamanho máximo de 50 centímetros. Três fêmeas da espécie, que ainda não foi registrada oficialmente pela ciência, deram cria a 50 filhotes no cativeiro. Esses tubarões se alimentam de peixes, crustáceos e lulas e depositam os ovos sobre corais e vegetação de fundo. Os filhotes nascem com 10 centímetros de comprimento.
“É a coisa mais incrível”, comemora o biólogo Gonzalo Rostan, responsável pelo Centro de Visitantes do Projeto Tamar na Praia do Forte, na Bahia. “Primeiro, capturar um animal de grande profundidade e fazer ele chegar vivo à superfície. Isto já é difícil. Depois, chegar à Praia do Forte, conseguir criar condições para mantê-lo vivo. Isto tudo é incrível! E conseguir reproduzi-lo, é muito mais incrível!”, destaca com empolgação.
O projeto, que há 33 anos é patrocinado pela Petrobras, aguarda o reconhecimento pela ciência de outros três peixes. Entre eles, estão uma espécie de merluza, gênero Urophycis , e um gênero Peristedion, batizada de cabrinha de fundo. Diferente de outra espécie de cabrinha já conhecida e que vive em profundidades de 30 metros, a espécie descoberta pelo projeto Tamar é encontrada em águas profundas.
A quarta espécie revelada é um tanto estranho. Um peixe do gênero Ijmaia, que leva o diferente nome de “nariz de geléia”. É um peixe sem escamas, grande, de cor rosada. “A gente imagina que essas espécies maiores já foram todas identificadas. Aí a gente acha um animal de mais de 1,50 que nunca foi visto, que não é conhecido pela ciência…”, afirma novamente com entusiasmo o biólogo Rostan.
Estas descobertas, segundo Rostan, se devem parcialmente também à localização da Praia do Forte. “Temos uma plataforma continental muito estreita. A dez milhas da costa, já chegamos na borda da plataforma. Então, conseguimos ter acesso com facilidade à águas profundas, com embarcações médias”, conta. De acordo com ele, os peixes capturadas são levados à especialistas para serem identificados.
Foi durante essas rotinas de captura e identificação que as quatro espécies foram encontradas. A presença desses peixes, que eram totalmente desconhecidos pela ciência, demonstra que, quando se trata de biodiversidade, até mesmo o que chamam de rotina pode ser algo surpreendente.
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