Notícias

Ararinhas-azuis: filhotes brasileiros e quiçá uma UC

Os dois novos rebentos, nascidos em cativeiro, podem ganhar uma unidade de conservação para chamar de sua, em Curaçá, na Bahia.

Vandré Fonseca ·
23 de dezembro de 2014 · 10 anos atrás
Os dois novos filhotes de ararinha-azul, nascidos em cativeiro no Brasil, reforçam os planos de reintroduzir a espécie de volta a seu habitat até 2021. Foto: Leonardo Milano/ICMBio.

Manaus, AM – O Ano Novo traz uma grande esperança para dois filhotes de ararinhas-azuis, nascidos há dois meses no cativeiro no interior de São Paulo: a possibilidade do governo federal criar uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável com 44 mil hectares, em Curaçá (BA), região onde viviam os últimos da espécie em vida livre. A proposta da reserva já está pronta e a criação já foi até anunciada pelo Ministério do Meio Ambiente, em maio. Agora só falta virar realidade.

As ararinhas-azuis nasceram entre os dias 25 e 27 de outubro, no interior de São Paulo, em uma instituição privada, o criadouro científico Nest, que tem o endereço sigiloso por questões de segurança. São os primeiros filhotes a nascer no Brasil, desde o ano 2000. A intensão é reproduzir a espécie em cativeiro até atingir um número suficiente para que seja feita a reintrodução no ambiente natural. A expectativa é chegar a 150 aves em cativeiro antes de iniciar a soltura, prevista para acontecer até 2021.

O diretor de Conservação da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save Brasil), Pedro Develey, explica que nessa região da caatinga se destacam as matas ciliares, com caraibeiras, uma espécie de ipê que chega a 20 metros de altura. “Elas tem porte necessário para suportar cavidades de tamanho suficiente para o ninho de uma ararinha”, explica. Além disso, é uma região bem conservada, situação diferente de áreas próximas ao município de Juazeiro (BA) ou a outra margem do rio São Francisco, em Pernambuco, que já estão bastante degradadas.

A área protegida serviria também para proteger outros animais da caatinga, que ainda são encontrados por lá, como o tatu-bola. “A ararinha acaba sendo uma bandeira para outras espécies”, afirma Develey. De acordo com ele, a proposta de ser um Unidade de Uso Sustentável se deve a presença de população humana e à criação de cabras na região. “Não tem como tirar as pessoas de lá e isolar a área. E não vamos conseguir tirar todas as cabras dali”, explica Develey. “A idéia da integração é possível e aí você vai ter as pessoas como aliadas. Vão ver que a Unidade de Conservação ali foi positiva”, completa. Entre as propostas, estão a concessão da bolsa verde a moradores da região.

Filhotes de ararinha

“Filhotes estão saudáveis e se desenvolvem de maneira excepcional”, diz o pesquisador Ramiro Dias. Foto: Leonardo Milano/ICMBio.

A ararinha-azul teve sua população dizimada principalmente devido ao tráfico de animais. Hoje, existem 99 em cativeiro, 13 no Brasil, incluindo os filhotes. O projeto de reintrodução é coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres do ICMBio (Cemave) e conta com parceria da Vale e organizações sem fins lucrativos, como o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save Brasil). A última reprodução em cativeiro no Brasil havia ocorrido há 14 anos, quando nasceu Flor, mãe dos dois filhotes nascidos em outubro. A Al-Wabra Preservação da Natureza, do Catar, e Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP, em inglês) e a Fundação Lymington também participam do programa.

Os filhotes nasceram com cerca de 15 gramas (os adultos pesam entre 310 e 340 g) e, nas primeiras semanas, a alimentação foi feita pelos pais, sem interferência dos cuidadores. Depois, passou a ser feita manualmente. Eles estão saudáveis e se desenvolvem de maneira excepcional, segundo o veterinário do Nest, Ramiro Dias. O sexo dos bebês ainda não é conhecido e só deve ser revelado após análises genéticas. Os nomes das ararinhas devem ser escolhidos em uma votação pública, a ser promovida pelo ICMBio.

 

Foto: Leonardo Milano/ICMBio
Foto: Leonardo Milano/ICMBio
Foto: Leonardo Milano/ICMBio
Foto: Leonardo Milano/ICMBio

 

 

 

Leia também
Aos 40 anos, morre a ararinha-azul mais velha do mundo
O longo regresso da ararinha-azul ao Brasil
Novo esforço para devolver a ararinha-azul à natureza

 

 

 

Leia também

Análises
18 de novembro de 2024

Uma alga desafia o Brasil: Estamos preparados para uma nova arribada massiva de Sargaços?

Enquanto o Caribe vive um embate anual contra estas algas, o Brasil está como que aguardando uma bomba-relógio prestes a explodir a qualquer momento

Podcast
16 de novembro de 2024

Entrando no Clima#36 – Primeira semana de negociações chega ao fim

Podcast de ((o))eco escuta representantes de povos tradicionais sobre o que esperam da COP29 e a repercussão das falas polêmicas do governador Helder Barbalho.

Notícias
16 de novembro de 2024

COP29 caminha para ser a 2ª maior na história das Conferências

Cerca de 66 mil pessoas estão credenciadas para Cúpula do Clima de Baku, sendo 1.773 lobistas do petróleo. Especialistas pedem mudança nas regras

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.