A visita de três ministros do governo Bolsonaro à Amazônia foi cancelada pelo presidente da República, que ficou sabendo da viagem pela imprensa. O diálogo faz parte dos áudios divulgados pela Veja nesta terça-feira (19), que comprovam que o presidente e seu agora ex-ministro realmente conversaram via WhatsApp nos dias 12 e 13 de fevereiro. O presidente afirmou publicamente que não havia se comunicado com o ministro enquanto estava internado. Bebianno está no centro do escândalo do PSL, o partido é acusado de destinar recursos do Fundo Partidário para supostas candidaturas laranjas. Na divulgação dos áudios, entre discussões sobre mentiras e desmentidos, o presidente veta a ida dos ministros à Amazônia.
A viagem estava marcada para começar no dia 13, quarta-feira. Na terça o presidente enviou um áudio a Bebianno dizendo que não queria que a viagem ocorresse.
“Gustavo, uma pergunta, ‘Jair Bolsonaro decidiu enviar para a Amazônia?’. Não tô entendendo. Quem tá patrocinando essa ida para a Amazônia?”, pergunta, irritado, o presidente.
Os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles; da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves; e da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, desembarcariam na quarta-feira passada (12) no Pará para anunciar um pacote de obras que abrange uma ponte sobre o rio Amazonas e uma hidrelétrica no rio Trombetas, uma das partes mais preservadas da Amazônia.
No segundo áudio sobre o assunto, Bolsonaro cancela a programação dos ministros:
“Ô Bebianno, essa missão não vai ser realizada. Eu não quero que vocês viajem, por quê? Vocês criam a expectativa de uma obra, aí vai ficar o povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter recurso, que vai ser aprovado etc. Então essa viagem não se realizará, tá ok?”
No começo da noite do dia 12, a assessoria de imprensa da Secretaria-Geral da Presidência confirmou que o ministro daria uma coletiva na sexta-feira (15), em Santarém, no Pará, para anunciar o pacote de obras. O ministro do Meio Ambiente já havia desmarcado a visita ao Pará.
O pacote do governo para a Calha Norte no Pará inclui uma usina hidrelétrica no rio Trombetas, em Cachoeira Porteira, Oriximiná. Uma ponte sobre o rio Amazonas no município de Óbidos, de 1 quilômetro e meio e estender a BR 163 para a fronteira de Suriname. A estrada já liga Cuiabá a Santarém, onde existe um porto com o mesmo nome do município que escoa a produção de soja do centro-oeste para fora do país. Todas as medidas foram pensadas dentro do Projeto Barão do Rio Branco, dentro do Programa Calha Norte do Ministério da Defesa, que deverá ser oficializado em breve através de uma Medida Provisória.
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