Manaus, AM — Entre os doze botos resgatados, nove encalharam no Rio Formoso, região da Lagoa da Confusão (TO), em uma fazenda de soja e milho. Eram dois machos bem jovens, que haviam sido separados das mães ou da mãe, uma fêmea com filhote e cinco machos adultos. Todos ainda em boas condições físicas. Foram surpreendidos pela velocidade com que a água foi drenada do rio, de acordo com a líder da equipe de resgate, a bióloga Vera Silva, coordenadora do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Inpa (LBA-Inpa).
Os animais eram monitorados há cerca de um mês pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturantins), que pediu apoio para o resgate. “Botos não costumam ficar encalhados”, afirma a bióloga Vera Silva. “Nesse caso, o encalhe ocorreu por conta da drenagem do rio. As bombas funcionam 24 horas e, como está muito seco e não está chovendo, então os rios estão secando muito rápido”, completa. Foram necessários dois dias e o trabalho de 25 pessoas para o resgate, transporte e soltura de todos os animais no Rio Javaés com sucesso. A ação contou com participação também do Batalhão Ambiental e da fazenda onde os animais foram encontrados.
Os botos do Araguaia (Inia araguaiaensis) são de uma espécie distinta de outros botos-cor-de-rosa encontrados na Amazônia e descrita há pouco tempo pelos cientistas, conforme destaca a bióloga Renata Emim, do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos da Amazônia do Museu Paraense Emílio-Goeldi. E por ser uma espécie nova, os estudos ainda são insuficientes para avaliar o status de conservação. “No entanto, de acordo com o que estamos vendo, as populações no Pará e no Tocantins sofrem uma série de ameaças. Entre elas a relacionada com a seca no rio Formoso”, alerta Renata. “E que neste caso foi agravada pelo uso de água para projetos de irrigação”, completa.
O Rio Formoso foi a segunda parada de uma missão de salvamento montada pelo Inpa e pela Associação Amigos do Peixe-Boi da Amazônia (Ampa) e que só foi possível graças as passagens bancadas pelo Aquário de São Paulo e ao apoio de instituições locais. As ações haviam começado uma semana antes, com a chegada de uma veterinária a região de Floresta do Araguaia (PA), a cerca de 300 quilômetros de Marapá (PA). O restante da equipe chegou na quarta-feira. Na bagagem, cerca de 400 quilos em redes e outros equipamentos usados para retirar os bichos da água.
Por lá, três botos estavam encalhados em um rio com nível tão reduzido que a parte mais funda chegava a apenas um metro. Eram dois jovens com menos de 1,60 de comprimento e uma fêmea bastante debilitada. “Ela estava muito magra, dava para ver as costelas e as nadadeiras estavam bem destacadas”, conta Vera Silva. “Tinha também perfurações no corpo e, de uma dessas perfurações, retiramos chumbo de espingarda. Tinha um ferimento na cabeça, atrás do respiráculo”, completa.
Os animais viajaram em um caminhão por 1h36min, num trajeto com muita poeira e solavancos, até chegar a um local seguro, onde puderam ser soltos. A viagem foi tensa, devido a preocupação com a fêmea, que poderia não resistir. Felizmente, depois de soltos, os três animais foram vistos nadando juntos, o que dá a esperança dessa fêmea resistir.
Segundo Vera Silva, ainda faltam informações sobre a frequência com que botos encalham na região do Araguaia-Tocantins, mas quando isso acontece eles correm riscos sérios. Ficam sujeitos ao calor, falta de alimentos, abate feito por homens e também predadores incomuns. “No Araguaia, botos já se tornaram presas para jacarés e onças, quando sabemos que quando eles estão saudáveis nos rios não enfrentam esses predadores”, lamenta a coordenadora da missão.
As populações de boto do Araguaia e do Tocantins já estão isoladas devido à barragem de Usina de Tucuruí e enfrentam outras ameaças provocadas por atividades humanas, como ação de pescadores que tentam afugentá-los ou até mesmo contaminação dos rios por agrotóxicos. No Rio Tocantins, a construção de barragens isola ainda mais a população dos animais, enquanto no Araguaia a situação de agrava com a ocupação das margens e assoreamento dos rios. “Tivemos sucesso em salvar esses animais, mas essa questão de bombeamento de rios para irrigação de fazendas é preocupante, principalmente porque essa espécie é uma espécie nova, que está sendo ameaçada por ações antrópicas”, alerta Vera Silva.
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É esse o futuro que o agronegócio propõe para o Brasil? Drenar um rio a toda a sua vida até a última gota? É esse o amor à terra tão propalado pelos defensores do agronegócio?
Ministério Público Federal nestas captações de água!!!! E as barragens? Está tudo regular? Pra só sobrar isso de água no rio…
Ei, cadê os Homens PUBLICOs, para exigir a transposição no represamento de Tucuruí. Cadê os Engenheiros ………….
Um suspiro……………. frente a matança desgraçada do Homem Branco, dito "civilizado".